Descrição de chapéu Eleições 2018

Internet supera TV em influência na eleição

Com pouco espaço no horário eleitoral, Bolsonaro sustentou campanha em redes sociais e WhatsApp

Paulo Passos Débora Sögur Hous
São Paulo

Em um mês de propaganda eleitoral, Geraldo Alckmin (PSDB) somou mais de seis horas de exposição em cada uma das emissoras abertas de televisão. O efeito foi quase nulo. O tucano variou de 6% para 9%, segundo as pesquisas do Datafolha.

No mesmo período, Jair Bolsonaro (PSL) saltou de 26% para 36%. Com tempo pífio na propaganda —teve 10 minutos somadas todas as inserções—, o capitão reformado sustentou sua campanha em novas mídias, o que já fazia antes do período eleitoral.

Bolsonaro concentra 42% das curtidas dadas a candidatos à Presidência no Facebook. É simbólico que represente quase o mesmo valor percentual que Alckmin acumulou do tempo de televisão no horário eleitoral, 44%. O tucano tem menos de 1/6 do número de seguidores de Bolsonaro na rede social.

Há ainda outra mídia que puxou a candidatura do presidenciável do PSL. No WhatsApp, Bolsonaro e seus eleitores inflaram a campanha, muitas vezes ancorada em mensagens com informações falsas.

Apoiadores do líder nas pesquisas formaram redes coordenadas no WhatsApp. Fabrício Benevenuto, professor da UFMG e coordenador do Projeto Eleições Sem Fake, que colabora com o Projeto Comprova, diz que é impossível medir o impacto do conteúdo replicado no aplicativo.

"Ele [WhatsApp] foi feito para ser reservado. O que fazemos é monitorar grupos cujos links são lançados publicamente para qualquer pessoa entrar. Notamos que a quantidade de informações falsas e distorcidas é enorme, mas o efeito bolha e as limitações do mensageiro invalidam análises quantitativas", afirma.

No período eleitoral, o Folha Informações, serviço da Folha que checa conteúdo mandado por leitores, recebeu 1.339 mensagens pelo WhatsApp, 97% delas eram informações falsas ou distorcidas; 16% delas miravam Lula, Haddad ou outros representantes políticos do PT e todas eram negativas; Jair Bolsonaro foi alvo de 27% delas, sendo conteúdo positivo e negativo.

Segundo pesquisa Datafolha, 6 em cada 10 eleitores do Bolsonaro dizem ler notícias compartilhadas no aplicativo de troca de mensagens. Esse índice é menor entre os eleitores de Fernando Haddad, vice-líder na pesquisa de intenção de votos— 38% dos eleitores do petista afirmam consumir informações replicadas no aplicados.

No Facebook, segundo estudo do Monitor do Debate Político da USP, os apoiadores de Bolsonaro movimentaram 38 milhões de interações, cujos temas frequentemente eram de conteúdo antifeminista, antipetista e antimídia.

"Bolsonaro não ganhou um terço do eleitorado discutindo propostas, mas discutindo moralidade", afirma Pablo Ortellado, um dos autores do estudo da USP e colunista da Folha.

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