A adesão do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, à reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara deu início a uma campanha de desconstrução do atual comandante da Casa nas redes sociais.
Um dia após o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar (PE), confirmar o apoio em troca de um assento à Mesa Diretora e do comando de comissões como a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), o deputado Capitão Augusto (PR-SP), que disputa sem o apoio de seu próprio partido, começou a disparar pelo WhatsApp charges. Os desenhos ressaltam a proximidade de Augusto com Bolsonaro e fazem críticas a Maia.
A charge divulgada na quinta-feira (3) chama-se "Os capitães em Brasília..." e é assinada por Matheus Furtado Desenhista, artista que Augusto diz ter feito os desenhos voluntariamente.
A caricatura traz Augusto e Bolsonaro em frente ao Congresso Nacional. O deputado, de farda, como costuma frequentar as sessões da Câmara, aparece com uma arma na mão. O presidente da República carrega no peito a faixa verde e amarela que recebeu ao tomar posse. Diante deles, ratos, baratas e uma cobra correm demonstrando medo. Atrás, aparece uma multidão com uma Bandeira do Brasil e com bandeirinhas nas cores verde e amarelo.
No mesmo dia, o deputado compartilhou links de notícias em que diz que, eleito presidente da Câmara, não criará qualquer CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) que prejudique a Lava Jato e com críticas à deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP).
Nesta sexta-feira (4), o candidato ao comando da Câmara disparou duas charges e um vídeo.
Em uma das ilustrações, aparece novamente com arma na mão e ao lado de Bolsonaro e de uma bandeira do Brasil diante de Maia, que tem com ele corações e personagens que simbolizam partidos de esquerda —PT, PC do B e PSOL— com uma placa de rejeição à Lava Jato e uma bandeira vermelha.
Na charge seguinte, o quadro está dividido ao meio. Na primeira metade, Joice, que já foi crítica a Maia, diz impropérios ao presidente da Câmara. Na outra, a deputada eleita aparece de blusa vermelha diante do candidato à reeleição. Entre eles, corações.
"Depois que você vomitou, como vai engolir?", questionou Augusto em entrevista à Folha.
José Augusto Rosa, 52, é policial militar e deputado desde 2015. Começou a chamar a atenção na Câmara por ir uniformizado ao Congresso.
O candidato esperava apoio do PSL, já que integrantes do partido costumavam dar declarações públicas favoráveis a ele.
"É um bom nome. Entre os dois [Augusto e Maia], tenho uma certa simpatia pelo Capitão Augusto. Já conheço ele, está alinhado com Jair Bolsonaro, pode muito bem levantar as questões da segurança", disse o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), um dos filhos do presidente da República, em entrevista em 16 de outubro de 2018.
"Pode ter certeza. Nós chegaremos lá e, juntos, vamos comandar o destino do nosso Brasil", disse o próprio Bolsonaro no vídeo compartilhado por Augusto na tarde desta sexta. O vídeo, segundo o deputado, foi gravado em junho do ano passado.
Para Capitão Augusto, Maia deu um tiro no pé ao fazer aliança com o PSL por causa da ameaça de perder os votos de PT, PDT, PSB e PC do B. Juntos, estes partidos têm 125 votos e ainda avaliam se ficarão ou não ao lado do candidato à reeleição após a adesão da sigla governista. O PSOL, que é representando em uma das charges, lançou a candidatura do deputado eleito Marcelo Freixo (RJ).
"Rodrigo levou a legenda [PSL], mas perdeu voto. Foi um erro estratégico sem tamanho. A ganância fez ruir o castelinho", disse Augusto.
Sobre o PSL, ele afirmou que esperava que "por respeito" os demais candidatos deveriam ter sido procurados. "Se não der Rodrigo, quero ver como o PSL vai fazer."
Augusto, por ora, prefere poupar Bolsonaro de críticas, embora diga não ter recebido nenhum telefonema do presidente ou de alguém de sua família desde o anúncio do PSL.
"O que foi proposto nas eleições o presidente Bolsonaro está mantendo", declarou.
Sem apoio de seu partido, o PR, que está na chapa de Maia, o deputado disse estar fazendo campanha com recursos próprios. Já foi ao Paraná, está no Ceará e pretende ir a Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
"Estou usando milhas", afirmou, salientando entender o posicionamento de seu partido. "O PR realmente precisa de espaço [na Câmara]."
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