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Depois de alta, Bolsonaro ainda terá restrições para evitar infecção

Presidente saiu do hospital em SP nesta quarta e vai descansar em Brasília

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São Paulo

Com a alta hospitalar nesta quarta (13)  o presidente Jair Bolsonaro (PSL) seguirá com uma série de cuidados em casa. Ainda há riscos associados não só à cirurgia mas também ao tempo em que passou no hospital.

Submetido à cirurgia de reconstrução do trânsito intestinal e retirada de uma bolsa de colostomia no dia 28 de janeiro, Bolsonaro recebeu nesse período antibióticos de amplo espectro para combater duas infecções e esteve exposto a diferentes ambientes (centro cirúrgico, apartamento, semi-intensiva e UTI).

O presidente Jair Bolsonaro no Hospital Albert Einstein, onde se recupera da cirurgia
O presidente Jair Bolsonaro no Hospital Albert Einstein, onde se recupera da cirurgia - Reprodução - 10.fev.2019

"Por mais que se tenha cuidado em lavar as mãos e usar máscaras, ele teve contato com bactérias hospitalares que passam a fazer parte da flora da pele e do intestino dele", explica Diego Adão Fanti Silva, cirurgião do aparelho digestivo da Unifesp.

Segundo ele, essas bactérias ficam colonizando o organismo por um período e, eventualmente, podem causar uma nova infecção mesmo após a alta, uma vez que a recuperação do sistema imune e a melhora da inflamação do corpo ocorrem de forma gradual.

O risco estimado na literatura médica é baixo, menor que 5%, e vai diminuindo com o tempo. Por isso, nas primeiras semanas após a alta é preciso atenção aos sinais infecciosos, como indisposição, febre, tosse e dor abdominal.

Após, segundo a equipe médica, apresentar "boa evolução clínica", Bolsonaro deixou o hospital Albert Einstein nesta quarta (13) e embarcou rumo a Brasília, onde descansará nos próximos dias.

O infectologista Artur Timerman, do hospital Edmundo Vasconcelos, afirma que o período mais crítico será nos próximos dois meses, tempo que leva para que a flora intestinal nativa se recomponha.

"O fato de ter tido uma alteração no trânsito normal do intestino faz com o microbioma já mude bastante e há riscos de novas infecções."

De acordo com ele, será fundamental uma dieta equilibrada, com fibra e bastante hidratação, para que o intestino funcione todos os dias. "Um trânsito mais lento pode expô-lo a risco de infecções."

Desde a última segunda (11), a nutrição parenteral (por veia) foi suspensa e introduzida uma dieta leve com uso de suplemento nutricional. Na terça (12), por exemplo, ele almoçou sopa, fruta cozida e uma massa. No lanche da tarde, comeu torradas e bolachas e tomou chá.

Também é importante que dieta seja antifermentativa (sem frituras, alimentos gordurosos, refrigerantes e bebidas alcoólicas) e fracionada para não distender muito o abdome e retardar o esvaziamento gástrico, segundo Carlos Sobrado, professor de coloprotoctologia da Faculdade de Medicina da USP.

A cirurgia, as infecções e o fato de ter ficado acamado tanto tempo causam atrofia da musculatura e acúmulo de líquidos, principalmente na região das pernas.

"Por isso, é provável que o presidente continue com sessões de fisioterapia motora e respiratória em casa, associada a orientação nutricional, para garantir a recuperação da massa magra perdida. Isso também auxilia na melhora do sistema imune e da inflamação", explica Fanti Silva.

Outro cuidado adicional são com os cortes abdominais da cirurgia em si e do local onde estava instalada a bolsa de colostomia, retirada na cirurgia. "No local da bolsa, pode sobrar uma colonização [de bactérias] da pele e voltar a infectar", diz Sobrado.

Também há riscos (menos de 5%) de novas aderências (de uma alça ou tecido grudar no outro), que são inerentes à cirurgia de intestino.

Segundo Fanti Silva, elas podem acontecer a qualquer momento e não existe medida preventiva.

"Quando acontecem, mais de 80% podem ser resolvidas sem necessidade de cirurgia. O paciente precisa ficar atento se apresentar náuseas, vômitos, distensão abdominal e parada de eliminação de gases e fezes."

Por fim, outro risco é o surgimento de uma hérnia no local operado. Bolsonaro fez ao todo três cirurgias, com abertura e fechamento do tecido fibroso da parede abdominal. A cicatrização tende a ser mais lenta e inicialmente frágil.

Com isso, existe o risco da abertura deste tecido e desenvolvimento de uma hérnia incisional. As chances estimadas são de 15% —maiores nos primeiros seis meses e com redução gradativa depois desse período.

"Por isso, deve-se evitar grandes esforços, como carregar peso ou fazer musculação. O repouso também é ruim. O paciente deve fazer exercícios leves para fortalecer a musculatura sem aumentar muito a pressão do abdome", diz o cirurgião Fanti Silva.

O período de internação de Bolsonaro tem sido marcado por uma série de imprevistos que retardaram a sua alta, inicialmente prevista para acontecer dez dias após a cirurgia. Entre eles, houve mudança da técnica cirúrgica, infecção que levou à paralisação do intestino delgado e uma pneumonia.

Colaborou Anaïs Fernandes, de São Paulo

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