Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Possível substituto de Eduardo Bolsonaro, médico foi barrado por nova regra eleitoral

Ex-membro de dissidência do PSL foi alvo de bolsonaristas por antigas críticas ao presidente

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Sorocaba (SP)

Bolsonarista clássico, daqueles que foram votar com camisa da seleção brasileira, o médico radiologista Vinicius Rodrigues, 30, tinha um número na cabeça ao se candidatar a deputado federal pelo PSL de São Paulo no ano passado.

"Tínhamos uma conta: precisamos de 32 mil votos para entrar. É difícil, mas é factível. Tentamos. Fizemos 25.908", resume à Folha o primeiro suplente do PSL paulista na Câmara dos Deputados.

É ele quem deve assumir a vaga de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), eleito com 1,8 milhão de votos, a maior votação da história para um candidato a deputado federal no país, caso seja confirmada a ida do filho do presidente da República para a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos.

O médico Vinicius Rodrigues (PSL-SP), deputado que pode substituir Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) - Adriano Vizoni/Folhapress

A estimativa de Vinicius chegou perto da realidade: 30.187 votos nominais foi o piso exigido pela lei eleitoral.

A regra, de 2015, valeu no ano passado pela primeira vez numa eleição de deputados federais. O objetivo era evitar o "efeito Tiririca" de puxadores de voto. Com isso, o PSL paulista levou apenas 10 das 14 cadeiras a que teria direito na Câmara caso a norma não existisse.

Vinicius ficou de fora, vivendo a eterna expectativa de um primeiro suplente —o piso de votos não é exigido para que os substitutos assumam.

Enquanto espera por uma chance em Brasília, o médico nascido e criado em Sorocaba (a 100 km de São Paulo) dorme quatro horas por noite e trabalha 14 por dia em três hospitais, incluindo plantões.

Ele integra ainda o grupo Direita Sorocabana, criado em 2016, quando houve a iniciativa de organizar um ato na cidade.

“Gosto da manchete que um jornalista esquerdista deu: ‘Manifestação pró-Bolsonaro reúne 16 pessoas e um cachorro’. Que foi o que teve. Mas olha o que essas 16 pessoas viraram”, lembra, aos risos.

Questionado sobre alguma medida do presidente Jair Bolsonaro da qual discorde, não aponta nenhuma. A decisão que provocou maior crítica entre eleitores do capitão reformado é justamente aquela que beneficia Vinicius: a indicação de Eduardo como embaixador.

“Fiz uma enquete nos meus grupos e, entre um público do Bolsonaro, de 10% a 15% criticavam. Enquanto para outras medidas tradicionalmente é 100% de apoio. Mas eu falo para eles que estão caindo no papo de esquerda”, afirma.

“É óbvio que a esquerda não quer Eduardo lá fora. Porque ele vai pra lá desmentir esse monte de mentira que estão falando do Jair. Que a democracia no Brasil está em risco. Não está”, completa.

Vinicius considera que Eduardo é o mais preparado para o cargo, porque é o mais alinhado ao governo e o mais aceito pelo outro país. “Dizem que há outros mais qualificados. Quem? Me diga um nome."

Sobre a questão da representatividade, de que Eduardo deixaria 1,8 milhão de eleitores órfãos enquanto seria substituído por um nome que não ultrapassou o piso eleitoral, Vinicius diz que “cada um precisa responder ao eleitor que nos coloca lá”.

No caso dele, defenderia o bolsonarismo, a região de Sorocaba e os médicos. “Vou votar como Eduardo, fiel ao governo. Na Câmara ele é mais um, e nos Estados Unidos vai ser a cara do governo Bolsonaro no exterior.

“Se querem brigar por representatividade, vamos brigar para que o Supremo julgue nossa ADI [Ação Direta de Inconstitucionalidade] contra o piso de votos e nos devolva as nossas vagas na Câmara”, completa.

O PSL é parte interessada em uma ação proposta pelo Patriota no ano passado contra a nova regra eleitoral.

Além de mirar Brasília, Vinicius também sonha com a Prefeitura de Sorocaba no ano que vem. “Tenho vontade, mas só disputo se houver interesse do meu eleitor e se tiver apoio do partido, do núcleo do presidente.”

Eleito suplente, passou a frequentar a capital federal mensalmente a convite do Instituto Brasil de Medicina, que faz a interlocução entre médicos e parlamentares.

No início do mês, acompanhando a presidente do PSL Mulher de Sorocaba, Tania Tonet, teve agendas com a senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) e com a ministra da Família, Damares Alves.

E tem recebido ligações de deputados do PSL oferecendo ajuda e apoio em Brasília. “Não tem nada certo ainda. Por enquanto, exerço a medicina.”

Para ele, o país caminha na direção certa. "Tenho certeza de que Bolsonaro está fazendo um bom governo. O país vive um processo de mudança do sistema vigente. É natural que haja uma acomodação na relação entre os Poderes, o atrito é normal."

Do Livres ao PSL

Desde que surgiu a oportunidade para assumir um mandato na Câmara, Vinicius passou a ser escrutinado por bolsonaristas.

Circularam entre grupos de direita postagens antigas nas quais critica o presidente e também publicações que mostram sua ligação com o Livres, movimento liberal gestado no PSL do qual fazia parte em 2017.

O Livres é alvo de críticas por abraçar não só o liberalismo na economia, mas também o de costumes. Mesmo sem concordar com essa pauta, Vinicius diz ter aceito o convite justamente porque o grupo buscava líderes mais conservadores.

“Havia dentro do Livres, de forma nacional, uma divisão: o Livres de direita e o Livres de esquerda. Fui do Livres, e daí? Procura quando eu defendi liberação do aborto ou das drogas? Nunca”, afirma.

Quando Bolsonaro decidiu se filiar ao PSL, no início de 2018, boa parte do Livres saiu do partido por discordar do futuro presidente –Vinicius ficou e, a essa altura, já tinha decidido ser candidato a deputado federal. O movimento, no entanto, só endossaria a candidatura se feita por outro partido.

O impasse terminou com um convite para que o médico deixasse o Livres. “Queriam empurrar goela abaixo um liberalismo que não era a nossa vontade.”

O início da vida política de Vinicius foi no Novo, ao qual se filiou ainda em 2015 e constituiu um grupo de amigos que lhe serve de base até hoje. A turma saiu do partido após a eleição municipal do ano seguinte por considerar que os dirigentes não ouviam a opinião da base.

Sobre críticas passadas a Bolsonaro, Rodrigues diz que o problema era a questão da economia. “Ele não tinha pensamento liberal. Já foi contra privatizações, mas ele mudou.”

“Eu era 80% a favor de Bolsonaro. Quando se juntou com Paulo Guedes, fiquei 97%. Quando se juntou com Sergio Moro, eu fiquei 99%. 100% nem com a minha esposa”, resume.

Campanha furacão

Apesar de não ter sido eleito, Vinicius viveu a campanha intensamente. Chegou a ficar dois dias sem dormir, dedicado a distribuir santinhos e colar adesivos nos carros. “O furacão estava passando e a gente pulou no meio”, diz.

Dos R$ 130 mil que gastou na campanha, R$ 111 mil vieram do próprio bolso. O PSL doou pouco mais de R$ 8.000.

Recém-casado com uma nefrologista colega de faculdade, teve que adiar a compra de móveis para sua casa. Por não ter onde sentar, o médico recebeu a Folha na casa de um vizinho do condomínio fechado onde mora.

O médico Vinicius Rodrigues dá entrevista à Folha em Sorocaba; ele substituirá Eduardo Bolsonaro na Câmara caso o filho do presidente seja confirmado embaixador do Brasil nos EUA
O médico Vinicius Rodrigues dá entrevista à Folha em Sorocaba; ele substituirá Eduardo Bolsonaro na Câmara caso o filho do presidente seja confirmado embaixador do Brasil nos EUA - Adriano Vizoni/Folhapress

Mais do que dinheiro, a campanha também lhe custou a saúde. Em novembro do ano passado, durante uma viagem com a mulher para o Chile, ficou internado dois dias com uma pedra no rim. Foi do aeroporto direto para o hospital.

Em seguida, uma infecção no rim lhe deixou mais duas semanas internado. Por fim, descobriu uma pedra na vesícula que só operou no mês passado. “Eleição não é uma coisa tranquila, não é uma coisa que eu estava fisicamente preparado”, diz.

Na campanha, Rodrigues engordou 27 quilos. “Eu parei de me cuidar, comia errado”, conta.

Caçula de quatro irmãos, perdeu a mãe, química, para o câncer de mama quando tinha seis anos e foi criado pelos avós e por uma tia. O pai, sargento da PM, se afastou da família –há 13 anos Vinicius não fala com ele.

Com a esposa Luciana, tem a palavra “família” tatuada no braço. Também tatuou “Non ducor duco” (Não sou conduzido, conduzo), lema do brasão da cidade de São Paulo, e “Don’t tread on me” (Não pise em mim), slogan de uma bandeira histórica dos EUA resgatada pelo movimento conservador Tea Party.

“A primeira acho que também representa o estado de São Paulo, é o estado que conduz o país. E a segunda porque representa como tem que ser nossa relação com o Estado. O Estado não tem que ficar incomodando as pessoas."

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