Bolsonaro diz que chefe da PGR 'não é governo', e Aras prega defesa de minorias

Presidente fala em órgão independente durante posse do novo procurador, que cita tema rechaçado por Bolsonaro

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro usou seu discurso na cerimônia de posse do novo procurador-geral da República, Augusto Aras, nesta quinta-feira (26), para tentar afastar questionamentos sobre a independência do Ministério Público e ressaltar que o novo PGR “não é governo”.

Aras, por sua vez, discursou a favor da indução de políticas de defesa das minorias —tema rechaçado anteriormente por Bolsonaro, para quem ele é supervalorizado. 

O novo PGR tomou posse um dia após ser aprovado com folga pelo plenário do Senado  —68 votos a 10.

Indicado por Bolsonaro por fora da lista tríplice da categoria, rompendo uma tradição de 16 anos, Aras, 60, fez em sua campanha seguidos gestos para agradar ao Planalto, o que motivou críticas de colegas. 

Além de ser chefe do Ministério Público Federal, uma das atribuições do PGR é encaminhar investigações que envolvam o presidente da República. 

“Ele é um guerreiro e vai ter em uma de suas mãos a bandeira do Brasil e na outra, a Constituição”, afirmou Bolsonaro, que defendeu um Ministério Público “altivo, independente e, obviamente, extremamente responsável”.

Presidente Jair Bolsonaro participa de solenidade de posse do novo procurador-geral da República Augusto Aras, no palácio do Planalto, ao lado do vice-presidente Hamilton Mourão, do presidente do STF Dias Toffoli e do ministro da Justiça Sérgio Moro - Pedro Ladeira - 26.set.2019/Folhapress

Aras afirmou que pretende atuar sem invadir o escopo dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e citou o "dever público" de "induzir políticas públicas, econômicas, sociais, de defesas das minorias e, acima de tudo, que tudo se faça com respeito à dignidade da pessoa humana". 

Em agosto, Bolsonaro disse que gostaria de um PGR que entendesse "que as leis têm que ser feitas para a maioria e não para as minorias".

“Peço a Deus que ilumine o doutor Aras, que ele tome boas decisões, interfira onde tiver que interferir e colabore com o bom andamento das políticas de interesse do nosso querido Brasil”, afirmou nesta quinta o presidente.

A cerimônia de posse foi realizada no Palácio do Planalto e contou com a participação dos ministros Sergio Moro (Justiça), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, e do ministro-chefe da AGU (Advocacia-Geral da União), André Mendonça.

Em seu discurso, Aras também defendeu o Estado democrático de Direito, uma economia pautada pelo mercado aberto e garantias das liberdades individuais amparadas pela Constituição. “O Ministério Público tem o sagrado dever de velar por todos esses valores e haverá de fazer com independência e autonomia”, disse.

CCJ do senado realiza sabatina com o indicado ao cargo de Procurador Geral da República (PGR), Augusto Aras. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) preside a sessão - Pedro Ladeira/Folhapress

Aras também disse que “a nota forte” de sua gestão na Procuradoria-Geral da República será o diálogo. 

“Por esse diálogo, entendo que podemos contribuir para solucionar os grandes problemas do Brasil. Por favor, contem comigo porque a vontade é de servir a pátria.”

O novo PGR delegou ao procurador Alcides Martins a função de continuar representando o Ministério Público no julgamento do STF da ação que pode anular condenações da Lava Jato.

Desde a saída da Raquel Dodge, na semana passada, Martins ocupou interinamente o comando da Procuradoria-Geral até a manhã desta quinta-feira.

Aras ocupará pelo menos até 2021 a vaga na PGR que nos últimos dois anos esteve a cargo de Dodge.

Ao ser submetido a sabatina no Senado, ele mandou recados à Lava Jato ao dizer que a operação tem excessos e está passível de correções.

Em sua gestão, o novo PGR terá que lidar com temas de interesse do governo que vão com frequência ao Supremo (como deve acontecer com normas que flexibilizem porte e posse de armas e com discussões ambiental e indígena).

Além disso, poderá se manifestar sobre a investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, e do desgaste da Lava Jato após a divulgação de mensagens da força-tarefa obtidas pelo site The Intercept Brasil.

Aos senadores, Aras negou submissão ao Executivo. "Não há alinhamento, no sentido de submissão, a nenhum dos Poderes, mas há, evidentemente, o respeito que deve reger as relações entre os Poderes e suas instituições."

O que faz o PGR

É o chefe do Ministério Público da União (que inclui Ministério Público Federal, Ministério Público Militar, Ministério Público do Trabalho e Ministério Público do Distrito Federal e Territórios). Representa o MPF junto ao STF e ao STJ e tem atribuições administrativas ligadas às outras esferas do MPU.


Em entrevista à imprensa após a cerimônia no Planalto, Aras afirmou que, embora assuma o cargo nesta quinta, haverá uma solenidade de posse no dia 2 de outubro. O novo PGR afirmou que pretende começar a discutir a formação de sua equipe ainda nesta quinta-feira.

O nome de Aras foi aprovado pelo plenário do Senado na quarta-feira (25). A votação ocorreu no mesmo dia em que ele foi sabatinado pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), numa audiência em que mandou recados à Lava Jato ao dizer que a operação cometeu excessos e está passível de correções.

Nas últimas semanas, percorreu gabinetes para costurar apoio de senadores da base do governo e da oposição.

Criticado por colegas por ter encampado bandeiras de Bolsonaro em meio à disputa pela indicação para a PGR, Aras negou, no Senado, a possibilidade de atuar com submissão, pregou independência entre os Poderes e evitou explicitar alinhamento completo com teses bolsonaristas.

Agora, ocupará pelo menos até 2021 a vaga na PGR que, nos últimos dois anos, esteve com Raquel Dodge. Além de ser chefe do Ministério Público Federal, uma das atribuições do procurador-geral é encaminhar possíveis investigações que envolvam o presidente da República.

Em sua gestão, enfrentará temas de interesse do governo que vão com frequência ao Supremo (como deve acontecer com normas que flexibilizem porte e posse de armas e com discussões ambiental e indígena), além da investigação sobre o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, e do desgaste da Lava Jato após a divulgação de mensagens da força-tarefa obtidas pelo site The Intercept Brasil.

PRINCIPAIS TEMAS DA GESTÃO ARAS

Inquérito das fake news A antecessora de Aras, Raquel Dodge, já pediu o arquivamento da investigação instaurada em março pelo presidente do STF, Dias Toffoli, por discordar da condução do caso pelo Supremo. O objeto da apuração não é totalmente conhecido, pois o caso está em sigilo e nem a PGR teve acesso. Há a possibilidade de que venha a atingir membros do MPF

Mensagens da Lava Jato Os diálogos entre procuradores da operação divulgados pelo site The Intercept Brasil e outros veículos de imprensa, como a Folha, também devem elevar a pressão sobre o novo PGR. Ministros do STF já cobram providências da chefia da instituição sobre a força-tarefa de Curitiba, especialmente o coordenador, Deltan Dallagnol

Projetos e decretos do governo Decretos e projetos de lei de interesse do governo Bolsonaro vão com frequência para o STF, o que deve acontecer, por exemplo, com normas que flexibilizem porte e posse de armas. Direitos fundamentais e as questões ambiental e indígena estão na pauta de julgamentos da corte na segunda metade deste semestre, quando o novo procurador-geral já tiver assumido

Caso Flávio Bolsonaro A investigação sobre o senador do PSL-RJ, filho mais velho do presidente da República, será outro teste. O STF deve discutir em novembro a decisão de Toffoli que suspendeu, temporariamente, o inquérito sobre Flávio no Ministério Público do Rio de Janeiro. A decisão terá impacto em inúmeras investigações, pois definirá como poderão ser usadas as informações produzidas sem autorização judicial por órgãos como a Receita e o Coaf (atual Unidade de Inteligência Financeira)

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