Líderes do centrão se aproximam de Bolsonaro para tentar barrar reeleição de Maia na Câmara

Aliados do presidente querem aproveitar para se posicionar na disputa pelo comando da Casa em 2021

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Brasília

​O movimento de aproximação de líderes e dirigentes partidários do chamado centrão com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem como pano de fundo a eleição à presidência da Câmara, em fevereiro de 2021.

Dentro do bloco político já há uma avaliação de parte dos líderes de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), tem tensionado a relação com Bolsonaro para se fortalecer e tentar ficar no cargo, com uma manobra para alterar a regra que impede uma reeleição dentro de uma legislatura.

A leitura feita por um grupo, ainda minoritário, é que a manutenção do protagonismo de Maia pode inviabilizar qualquer movimento contrário a ele em fevereiro de 2021.

Do lado do Palácio do Planalto, aliados de Bolsonaro veem nesse movimento um sinal de fragilidade de Maia e querem aproveitar para se posicionar na disputa pelo comando da Câmara no ano que vem.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, de costas
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, de costas - Pedro Ladeira - 11.fev.20/Folhapress

Na quinta (17), Bolsonaro acusou o presidente da Câmara de conspirar para tirá-lo do posto e qualificou como péssima a atuação do deputado.

"Parece que a intenção é me tirar do governo. Quero crer que esteja equivocado", disse Bolsonaro, em entrevista à CNN Brasil, ao comentar a aprovação pela Câmara de um projeto de socorro aos estados.

Pouco depois, Maia rebateu as acusações e afirmou que Bolsonaro usou “um velho truque da política” de trocar a pauta para tentar desviar a atenção da demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde.

O ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) vem se aproximando de líderes partidários para que o governo não fique alheio à disputa pelo poder na Casa, como ocorreu em 2019.

Em tese, Maia não pode ser candidato, mas aliados tentam articular uma saída jurídica e legislativa para que ele fique no cargo por mais dois anos, em um movimento que também pode beneficiar o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Maia está no seu terceiro mandato consecutivo à frente da Câmara.

O político fluminense assumiu a cadeira pela primeira vez em setembro de 2016, em um mandado tampão, após a cassação do mandato do ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (MDB-RJ), e não largou mais.

O discurso adotado por Maia é que ele não tem pretensão de ficar no cargo. Mas internamente não esconde que quer ter a palavra final para indicar, pelo menos, seu sucessor.

Um dos nomes favoritos do presidente da Câmara para sucedê-lo é do líder da Maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB). Maia também vê com bons olhos uma alternativa de fora do bloco como o presidente do MDB, Baleira Rossi (SP).

O centrão é formado por DEM, PP, PL, Republicanos, Solidariedade, PSD e outros partidos e foi fundamental na eleição de Maia no ano passado. O grupo controla a pauta legislativa da Câmara e, até então, dava a Maia apoio integral para ser um contrapeso a Bolsonaro.

O presidente da Câmara tentou conter o movimento de aproximação de Bolsonaro. Individualmente, pediu aos líderes que não se reunissem com o presidente de maneira isolada.

Nas últimas duas semanas, os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira (SP), e do PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab, acompanhados de líderes da Câmara e do Senado, estiveram com Bolsonaro.

Além das conversas com o presidente, deputados do MDB, Solidariedade e até do PSDB foram ao Planalto na última semana para reuniões com ministros palacianos.

A ida deles ao encontro foi lida por integrantes do governo como um gesto de descontentamento com Maia.

O presidente da Câmara tem se recusado a sentar para conversar com integrantes do governo e mantendo críticas ao Planalto em suas entrevistas coletivas diárias e conversas com empresários.

Auxiliares do chefe do Executivo avaliam que não cabe ao Poder Legislativo fazer pronunciamentos diários sobre a crise do novo coronavírus e que o deputado do DEM tem se valido desse expediente para se manter no campo de oposição.

O governo também sente a falta do contraponto que Davi Alcolumbre fazia na relação com o Legislativo.

Durante o período da pandemia, o presidente do Senado ficou fora da cena politica por quase duas semanas, após ser diagnosticado com o novo coronavírus.

Quando voltou à rotina, ele se mostrou mais próximo a Maia do que ao governo. O ponto de inflexão do presidente do Senado foi a doença. Alcolumbre chegou a parar num hospital em Brasília por dificuldades para respirar.

Nesta sexta, com anuência do presidente do Senado, líderes partidários fecharam acordo para não votar a medida provisória do Emprego Verde e Amarelo, que reduz encargos para patrões que contratarem jovens no primeiro emprego e pessoas acima de 55 anos que estavam fora do mercado formal.

A medida perde a validade na próxima segunda-feira (20).

Há um clima de rebelião no Senado na manhã desta sexta fruto principalmente dos ataques feitos pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

“O MDB apoia a democracia. O presidente da República não pode fazer acusações sem provas”, disse o líder do MDB, Eduardo Braga (AM).

O presidente do STF, Dias Toffoli, fez um gesto de apoio a Maia na sessão virtual desta sexta. O ministro voltou a defender um pacto institucional e elogiou o Congresso.

"O Estado é um só. Você pode ter visões diferenciadas , mas tem que ter responsabilidade. Eu penso que seja o Poder Executivo federal, os governadores de estados e os prefeitos têm tido uma atuação muito responsável. O congresso Nacional, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tem tido uma atuação muito responsáveis. Nós não estamos perdendo as premissas da responsabilidade fiscal", afirmou Toffoli em uma live organizada do Banco Safra.

De acordo com a coluna Painel, da Folha, Bolsonaro tem dito a parlamentares que recebeu um suposto dossiê com informações de inteligência de que Maia, o governador João Doria (PSDB-SP) e um setor do STF (Supremo Tribunal Federal) estariam tramando um plano para dar um golpe e tirá-lo do governo.

Nesta sexta-feira, em nota, a Secom (Secretaria de Comunicação) da Presidência da República afirmou que “não é verdadeira” a informação de que Bolsonaro teria um dossiê da inteligência do governo sobre uma suposta conspiração contra sua gestão.

Não é a primeira vez que Bolsonaro fala sobre supostos planos para lhe atingir.

Em março, disse que a eleição de 2018 foi fraudada e que tinha provas. Ele afirmou ainda na época que a população logo saberia que estava sendo enganada por governadores e prefeitos sobre a pandemia do novo coronavírus. Em ambos os casos, sem também ter apresentado qualquer tipo de fundamentação ou prova das acusações.​​

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