Aliados ligam aprovação de Bolsonaro a ações na pandemia, e oposição diz que mérito é do Congresso

Congressistas associam resultado de pesquisa Datafolha a auxílio emergencial do governo

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Brasília

Aliados e opositores de Jair Bolsonaro associam a alta da popularidade do presidente especialmente ao auxílio emergencial dado pelo governo federal durante a pandemia da Covid-19.

Para apoiadores, os resultados indicam condução adequada de Bolsonaro diante do coronavírus. Já os adversários veem mérito do Congresso, responsável pela elevação dos benefícios previstos pelo Executivo.

De acordo com pesquisa Datafolha, Bolsonaro está com a melhor avaliação desde que começou seu mandato. O levantamento mostra que 37% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, ante 32% que o achavam na pesquisa anterior, feita em 23 e 24 de junho.

Também houve queda acentuada na curva de rejeição: caíram de 44% para 34% os que o consideravam ruim e péssimo no período. Classificaram o governo de regular, por sua vez, 27%, ante 23% em junho.

O instituto entrevistou por telefone 2.065 pessoas nos dias 11 e 12 de agosto. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou menos.

Recém-escolhido líder do governo na Câmara, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) afirmou que "a pesquisa mostra uma melhora da aprovação do presidente Bolsonaro, o que é evidente pela forma como ele conduz o combate à pandemia, pela forma como ele acelera o atendimento às pessoas que perderam renda pela pandemia e pelos recursos ilimitados colocados à disposição do Ministério da Saúde para atender às vítimas da Covid”.

O presidente Jair Bolsonaro é recepcionado por apoiadores na chegada da cidade de São Raimundo Nonato, no Piauí - Yala Sena - 30.jul.2020/Folhapress

O otimismo foi compartilhado em redes sociais por aliados do presidente. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) escreveu que “nem o Datafolha conseguiu ‘disfarçar’ o que estamos vendo ao vivo e em cores, especialmente no Norte e Nordeste!”

Já o deputado Carlos Jordy (PSL-RJ) fez um trocadilho com os resultados de exames para detectar o novo coronavírus e disse que “Bolsonaro acaba de testar positivo para presidente reeleito!”

O líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO) também comentou os resultados do Datafolha em suas redes sociais. Para ele, Bolsonaro é "atacado" pela mídia, mas ganha reconhecimento pelo país pela "comunicação franca".

"O governo do presidente Jair Bolsonaro passa a ser reconhecido em todos os aspectos, mas com certeza a comunicação franca e direta se destaca mesmo nos momentos mais difíceis."

Líder do PT na Câmara, o deputado federal Enio Verri (PR) atribui à oposição o aumento da aprovação de Bolsonaro.

“O Bolsonaro não tem nenhum compromisso com a vida das pessoas e sobe nas pesquisas, enquanto a esquerda, o PT, tem esse compromisso, forçando a aprovação de projetos para salvar vidas, e acaba contribuindo para que a aprovação de Bolsonaro aumente’, disse.

A avaliação é parecida com a da líder do PSOL na Câmara, Fernanda Melchionna (RS). Para ela, o presidente está “capitalizando os impactos do auxílio emergencial que ironicamente ele era contra”.

“O auxílio teve participação da oposição e foi conquistado na Câmara. A linha do governo era de R$ 200”, lembrou. Melchionna também viu reflexo da submersão de Bolsonaro no resultado.

“Com o fechamento do cerco à família Bolsonaro e a exposição dos casos de corrupção deles, Bolsonaro tem optado pelo silêncio. Quanto menos fala, menos se desgasta”, afirmou.

Os dois fatores —auxílio e menor exposição de Bolsonaro— também são apontados pelo líder do PSB na Câmara, Alessandro Molon (RJ), para a melhora da avaliação do presidente. “Quanto menos ele fala, mais escondidos ficam seu autoritarismo e sua incompetência —e, com isso, cai a rejeição a ele, apesar da sua trágica atuação em relação à pandemia e dos mais de 105 mil mortos", afirmou.

Para o líder do PV na Câmara, Enrico Misasi (SP), o pagamento do auxílio beneficiou Bolsonaro, mas ele questiona a sustentabilidade dessa influência. “Em segundo lugar, diante de todas as inseguranças e incertezas do combate à pandemia, o presidente ‘ganhou’ a narrativa em diversos setores da sociedade” que compõem sua base.

Líder do Cidadania na Casa, o deputado Arnaldo Jardim (SP) também avaliou que Bolsonaro colhe frutos do auxílio emergencial e de outras medidas aprovadas em conjunto com o Congresso.

"Certamente essa aprovação não é motivada pelo afastamento do [ex-ministro da Justiça Sergio] Moro, nem pelo afastamento do [ex-ministro da Saúde Luiz Henrique] Mandetta e nem pelas polêmicas que muitas vezes o presidente teve com o Supremo Tribunal Federal", disse.

Jardim disse esperar que a aprovação "inspire o presidente a manter o compromisso com as reformas que ele anunciou publicamente e que nós queremos ver concretizadas."

Os resultados do levantamento Datafolha foram alvo de postagem do próprio presidente Bolsonaro, que republicou a Primeira Página da Folha desta sexta-feira com o resultado da pesquisa com destaque. "Verdade, meia verdade ou fake news?", escreveu o presidente, que frequentemente critica o instituto e a imprensa em geral e os acusam de fazer oposição ao governo.

Mais cedo, o vice-presidente, Hamilton Mourão, também creditou a melhora da avaliação do presidente Jair Bolsonaro detectada pelo Datafolha ao auxílio emergencial de R$ 600 e a linhas de crédito abertas para pequenas e micro empresas.

Para o vice, essas políticas deram um "gás na popularidade do presidente".

"Muito bom, né? Acho que são as medidas que o governo tomou para combater a pandemia, elas surtiram efeito. As pessoas que estavam em situação, digamos assim, bem difícil porque eram trabalhadores informais e perderam a capacidade de ganhar o dinheirinho deles de cada dia, receberam esse recurso do 'coronavoucher' [auxílio emergencial]", disse Mourão na manhã desta sexta-feira (14).

"[E] as pequenas e micro empresas tiveram acesso a crédito de quase R$ 30 bilhões, outras linhas de crédito foram abertas. Acho que isso deu um gás na popularidade do presidente", avaliou.

Questionado por jornalistas se a melhora no desempenho também poderia ser explicada pelo tom mais conciliador adotado por Bolsonaro nas últimas semanas, evitando confrontos com o Legislativo e o Judiciário, Mourão destacou que o presidente "sabe fazer política".

"O presidente, rapaz, sabe fazer política. Vamos lembrar, o cara está há 30 anos na política. Ele sabe como as coisas andam e ele tem uma visão correta dos objetivos que a gente tem que ter para buscar melhorar a situação do país e preparar o país para voos mais altos", disse o vice.

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