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Paes mira novidades para polarizar com Crivella e evitar 'novo Witzel' no Rio

Ex-prefeito tenta barrar crescimento de adversários com menor intenção de voto para não repetir cenário de derrota na disputa pelo governo do estado em 2018

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Rio de Janeiro

O ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) decidiu atacar candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro que estão com poucas intenções de voto com o objetivo de minar o crescimento deles e polarizar a disputa com Marcelo Crivella (Republicanos), que tenta a reeleição.

O candidato do DEM teme sofrer de novo com um fenômeno eleitoral semelhante ao governador afastado Wilson Witzel (PSC), que subiu nas pesquisas na última semana de campanha do primeiro turno sem que fosse questionado.

Eduardo Paes, candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo DEM
Eduardo Paes, candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo DEM - Raquel Cunha/Folhapress

A estratégia começou já no primeiro debate, da TV Bandeirantes, em que questionou o conhecimento da deputada estadual Martha Rocha (PDT) sobre dados da gestão da prefeitura e sobre a atuação dela como chefe de Polícia Civil na gestão do ex-governador Sérgio Cabral.

“O Witzel me passa a impressão de uma grande farsa. Ele vendeu uma história que era completamente diferente. Respeito alguns adversários, mas será que têm condições de, nessa crise, assumir uma prefeitura como a do Rio?”, disse o ex-prefeito.

Martha aparece em empate técnico com Crivella na primeira pesquisa do Datafolha, com 10% contra 14% —a margem de erro é de três pontos percentuais.

A pesquisa Datafolha deu sinais da importância de Paes em ter Crivella como adversário num eventual segundo turno.

Num movimento incomum, o candidato do DEM chega a perder eleitores no primeiro turno num cenário em que o atual prefeito não está entre as opções. Crivella tem a candidatura ameaçada pela Lei da Ficha Limpa.

No cenário atual, Paes tem 30% das intenções de voto. Sem o candidato à reeleição, o ex-prefeito perde dois pontos percentuais mesmo sendo escolhido por 17% dos eleitores de Crivella. Entrevistados que optaram pelo nome do DEM declararam votar em outros na simulação sem o candidato do Republicanos.

Além disso, o prefeito é o mais rejeitado dos candidatos: 59% declaram que não votam nele de jeito nenhum.

Antevendo um possível voto útil em Paes já no primeiro turno, Martha Rocha expôs no debate o que será o mote de sua campanha.

“Existe vida além de Eduardo Paes”, disse ela, nos dois confrontos diretos que tiveram no debate da TV Bandeirantes.

A campanha de Paes atribui o bom desempenho da candidata do PDT ao fato dela colocar como nome de urna seu antigo cargo de delegada. Por essa leitura, o fato do cargo policial ser evidenciado na pesquisa estimulada aumenta as intenções de voto da deputada.

No questionário espontâneo, sem a apresentação dos candidatos, Martha tem 3%, próximo aos demais adversários.

A equipe do ex-prefeito avalia que a associação de seu nome com a gestão Cabral e com um partido de esquerda pode desmobilizar eleitores atraídos pela vinculação policial.

Outro ponto de atenção do ex-prefeito é a evolução da candidatura do deputado federal Luiz Lima (PSL).

O presidente Jair Bolsonaro o nomeou vice-líder na Câmara às vésperas do início da campanha, numa sinalização de simpatia à candidatura. Embora já tenha declarado apoio a Crivella, o presidente afirmou a interlocutores que não se envolverá no primeiro turno da disputa carioca.

Por um lado, a campanha de Paes teme um embarque da família Bolsonaro na candidatura de Lima caso Crivella se torne inviável política ou judicialmente. Por outro, avalia que o cenário é distinto do de 2018.

A arrancada de Witzel se deu sem apoio explícito do presidente. O governador afastado teve apenas o endosso de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Atualmente, uma declaração simpática apenas do senador alvo de investigações não é vista com o mesmo peso de dois anos atrás.

Paes também aposta numa boa relação que manteve com a família Bolsonaro ao longo de sua gestão. A ex-mulher do presidente, Rogéria Bolsonaro, candidata a vereadora, trabalhou por anos na Secretaria da Casa Civil de sua administração.

Além disso, o ex-prefeito tem repetido em suas falas para que os eleitores cariocas não escolham mais um nome que considera desconhecido, assim como ocorreu com Witzel. O ex-juiz eleito com a bandeira anticorrupção foi afastado sob acusação de ter recebido propina.

A menção à corrupção na gestão Witzel, contudo, deverá ser feita com cuidado. Paes foi denunciado pelo mesmo crime na Justiça Eleitoral, em razão de suposto caixa dois recebido da Odebrecht em 2012.

“Witzel é uma mistura de incapacidade política com incapacidade administrativa com um esquema esquisito que assumiu o estado, aparentemente. Não quero eu aqui acusar. Mas não podemos correr esse risco mais”, disse Paes.

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