Eleito em SP, Marlon do Uber será um vereador youtuber e promete mexer com os táxis

Futuro vereador pelo Patriota quer isentar motoristas de app de rodízio e da cobrança de Zona Azul

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São Paulo

Quando botou seu carro para rodar comercialmente, Marlon Luz, 40, achou que ser motorista de aplicativo viria apenas como uma forma de complementar a renda da família.

Cinco anos depois, eleito vereador com 25.643 votos pelo Patriota, Marlon do Uber quer melhorias para toda a categoria daquela que virou sua profissão principal.

Em 2016, tudo parecia bem em seu emprego na Microsoft, onde ele trabalhava fazia pouco mais de um ano. Marlon dava palestras para desenvolvedores de sistemas, ensinando o uso de plataformas. Bom na interpretação prévia de riscos, como ele mesmo se define, anteviu um movimento estranho.

“Teve várias ondas, e eu fui embora na terceira”, lembra, referindo-se à sua demissão, há quatro anos. Quando se despediu da companhia, Marlon e a mulher, Elke, já trabalhavam havia nove meses dirigindo seu carro por São Paulo. O plano B virou o A, e os dois passaram a se dedicar integralmente à função.

Marlon conta que, quando entrou nesse mercado, era comum cruzar com advogados e engenheiros por trás dos volantes. “Hoje já não é mais assim. Acredito que, em 2018, o mercado de trabalho começou a melhorar, e essas pessoas voltaram para suas áreas de atuação”, avalia.

“Pessoas começaram a ir para o Uber porque lá pagava mais. Conheci gente que saía do emprego atual porque ganhava menos de dois salários mínimos, e no Uber tirava R$ 3.000, R$ 4.000 limpos”.

Para Marlon, houve um momento em que ser motorista de aplicativo passou a significar um faturamento bem maior que esse. Foi quando inaugurou seu canal de Youtube, que acabou por torná-lo conhecido —e quem sabe até por elegê-lo. “Abri para falar da vida no Uber”, explica.

Assim, além do dinheiro que fazia com as corridas, o agora vereador eleito começou a somar “por volta de US$ 2.000 por mês” originados exclusivamente pelo canal.

“Ganho dinheiro fazendo projetos para empresas que pedem vídeos exclusivos, com o engajamento nas redes, e com aquelas propagandinhas que aparecem."

O canal “Uber do Marlon” tem 611 mil inscritos. Seu vídeo mais popular, uma pegadinha em que pilota uma Ferrari para buscar passageiros, tem mais de sete milhões de visualizações. Outro vídeo de sucesso tem Marlon respondendo se seu primeiro ano como motorista de Uber valeu a pena —este, visto mais de três milhões de vezes.

Enquanto a aparência de Marlon se manteve quase intacta ao longo dos quatro anos de canal, com o mesmo rabo de cavalo comprido assentado à base de gel, a cara dos vídeos se modificou bastante. Se no início a ideia parecia só tirar dúvidas de aspirantes a motorista, nos últimos meses as produções ganharam mais elementos.

Além de trabalhar com mais câmeras, por exemplo, por vezes inclusive filmando o carro em movimento do lado de fora, Marlon também passou a atuar em roteiros que extrapolam a rotina das ruas.

“Fui em Congonhas e o Pau Comeu” e “Fui Mostrar os Abusos na Rodoviária e me Censuraram”, por exemplo, marcam bem a nova fase do youtuber, em uma estética muito semelhante àquela adotada por seu colega de partido, Arthur do Val, candidato derrotado à prefeitura em 2020.

Além do canal, Marlon também investiu pesado, antes da campanha, em frentes variadas de negócios, sempre focado no mercado dos colegas de profissão. “Fiz desde uma lojinha virtual para vender carregador e suporte, até uma empresa de seguro de carros para motorista de aplicativo.”

“Também criei pontos de apoio para os motoristas. Um lugar onde ele lava o carro de graça, onde tem uma cozinha para ele esquentar e comer a marmita. Banheiros para utilizar de forma incondicional ou um lugar para dar uma descansadinha. Todos esses negócios fizeram com que os motoristas me conhecessem."

Ele entende que, depois de tomar posse, em janeiro de 2021, sua carreira na internet talvez precise de algumas adaptações.

“Creio que não vou conseguir fazer as duas coisas ao mesmo tempo, vou ter que focar. Poder, pode. Só que é difícil se dividir. Provavelmente o teor do meu canal vai mudar para a atividade legislativa”, diz.

Marlon do Uber também já tem planos para a atuação no plenário. “Se depender de mim, quero mexer na categoria dos táxis, desburocratizar. Quanto maior a concorrência, melhor. Hoje, o aplicativo não disputa o profissional e acaba gerando baixos pagamentos.”

“Meu objetivo é chamar mais aplicativos, quero aplicativo de tudo. Se tiver aplicativo de foguete, eu chamo. Sou da área de TI, quero mais é que esse empreendedorismo digital tenha mais soluções de mobilidade. Os patinetes vieram e foram embora, e isso me entristece, porque acho que tem que ter muito mais coisas desse tipo na cidade”.

Entre suas pautas está a isenção do rodízio municipal de veículos e da cobrança de Zona Azul para motoristas de aplicativos.

“Eles são os profissionais que movem a cidade. Logicamente que a gente não quer que as pessoas virem motorista de aplicativo para fugir disso, então eles vão ter que provar que dependem desse tipo de trabalho”.

Também espera eliminar a necessidade de que os carros andem com os adesivos que identificam os aplicativos dentro dos quais prestam serviço colados ao para-brisa.

Para ele, a medida expõe os profissionais a riscos de assalto, já que criminosos entendem que pode haver com eles algum dinheiro em espécie.

Marlon Luz nasceu em Porto Alegre e se mudou na juventude para Manaus, para trabalhar na Nokia. Na cidade, conheceu a mulher, com quem teve dois meninos, hoje com 10 e 13 anos.

Em 2014, se mudou para São Paulo, empregado pela Microsoft, que havia comprado sua antiga empresa. Seu pai trabalha até hoje como bancário. A mãe, segundo conta, sempre tentou empreender e investiu em atividades variadas como confecção, venda de livros escolares e bazares.

Mas, acima de tudo, explica o filho, dona Lucia sempre foi uma visionária. “Nos anos 90, quando a gente adquiriu nosso primeiro telefone sem fio em casa, ela olhou aquilo e falou que um dia cada um ia ter um desses no bolso”, lembra.

“Eu expliquei que, para isso, ia ser preciso ter uma antena em cada esquina. Pois bem, colocaram uma antena em cada esquina, e nasceu o celular”.

RAIO-X

  • Marlon Luz (Patriota)
  • Gaúcho de Porto Alegre
  • 40 anos
  • Formado em ciências da computação
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