Descrição de chapéu Eleições 2020

João Campos (PSB) vence Marília Arraes no Recife e será prefeito mais novo de uma capital

Filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, ele assumirá o cargo com 27 anos

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Recife

Em uma eleição que até a véspera prometia ser uma das mais apertadas da história do Recife, o deputado federal João Campos (PSB), filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (1965-2014), saiu vitorioso com boa margem.

Com 100% das urnas apuradas, Campos venceu a disputa neste domingo (29) com 56,27% dos votos válidos. Sua prima Marília Arraes (PT), neta do ex-governador Miguel Arraes (PSB), contabilizou 43,73%.

Com 27 anos de idade, festejados na quinta-feira passada (26), ele será o prefeito mais novo de uma capital na história do país.

"Não tem como vir aqui hoje celebrar essa vitória e também não fazer uma homenagem àquele que é referência na minha vida na política como pessoa e como cidadão, que é o meu pai, Eduardo Campos", disse o vencedor. "Fomos eleitos para governar para todos os recifenses. Independente do seu credo, da sua raça, sua cor, local onde mora, nós governaremos para todos os recifenses da nossa cidade."

A campanha mais dura da história do Recife viu dois Joãos: um paz e amor, no primeiro turno, e outro no ataque intenso com forte teor antipetista na etapa final da corrida eleitoral.

Na primeira fase da disputa, Campos liderou todas as pesquisas. Por ser o candidato da situação, virou alvo preferido dos seus adversários.

Precisou esconder no palanque o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), e o governador de Pernambuco, (PSB), Paulo Câmara, aqueles que poderiam ser seus principais cabos eleitorais, já que as pesquisas mostravam um desgaste muito grande da dupla.

No clima paz e amor, ele seguia prometendo uma nova proposta para cada agressão sofrida.

Precisou se explicar sobre operações recorrentes da Polícia Federal na Prefeitura do Recife que investigou supostos desvios de recursos públicos no combate à pandemia. Também usou o tempo da propaganda para rebater os questionamentos sobre sua experiência na vida pública.

João Campos vota neste segundo turno no Recife
João Campos vota neste segundo turno no Recife - Carlos Ezequiel Vannoni/Agência Pixel Press/Folhapress

Antes de se eleger prefeito do Recife, na primeira vez que entrou numa disputa majoritária, ele foi chefe de gabinete de Paulo Câmara e exerceu por pouco mais de um ano e meio mandato de deputado federal.

No segundo turno, largou em desvantagem nas pesquisas, mas o clima virou. Campos abriu mão do tom ameno e pressionou a prima desde o primeiro dia de propaganda eleitoral com denúncias.

Em um movimento arriscado por conter algumas contradições, investiu pesado no antipetismo. Deu certo. Nas palavras de João Campos, o partido não poderia falar em corrupção porque nem sequer é possível contar nos dedos das mãos a quantidade de pessoas da sigla que foram presas por desvios.

No primeiro escalão do governo Paulo Câmara, os petistas continuam presentes. Até outubro, também participavam da gestão do prefeito do Recife, Geraldo Julio. Campos insistia em dizer que o candidato era ele, não Geraldo Julio ou Paulo Câmara.

Na última semana do segundo turno, ele viu um apoio festejado pelo PT o beneficiar surpreendentemente.

A revista Veja publicou na última segunda-feira (23) uma gravação em que o deputado federal Túlio Gadêlha (PDT-PE) diz a um interlocutor que, em conversa com Marília, ela teria dito que ele precisava fazer fundo de caixa de campanha a partir dos assessores e juntar R$ 30 mil.

A gravação, que segundo Gadêlha estava fora de contexto, foi parar no programa eleitoral.

O candidato também conseguiu neutralizar o avanço da prima no eleitorado evangélico. Marília obteve, logo no início do segundo turno, o apoio do prefeito reeleito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira.

Ele, o irmão, cunhado e pai, todos políticos com mandato, têm forte influência em várias igrejas.

O tema religioso ganhou proporção elevada no segundo turno. Nas peças publicitárias, a candidatura de João Campos alegava que Marília tentou tirar a bíblia das sessões da Câmara Municipal do Recife. Quando o jurídico da petista conseguiu retirar a peça do ar, o estrago já estava feito.

"Aqui vai começar uma nova articulação de oposição em Pernambuco. Não temos condições de ficar com um grupo que faz mal à gestão do estado e município", disse a candidata derrotada.

Marília Arraes (PT), candidata derrotada no Recife
Marília Arraes (PT), candidata derrotada no Recife - Divulgação

"Nunca uma mulher na cidade tinha conseguindo chegar ao segundo turno. Esse é um grande avanço. Quero que mais mulheres estejam nesses espaços. Minha atuação firme foi chamada de arrogante pelo adversário", completou.

Filho do ex-governador Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, João entrou na política em 2018.

Naquele ano, fez toda sua campanha se autointitulando “o filho da esperança”. Obteve expressivos 460.387 votos. Em 1986, quando Arraes venceu a disputa pelo governo de Pernambuco após voltar do exílio, um dos slogans era “a esperança está de volta”.

O espólio eleitoral familiar fez com que ele conseguisse a maior votação da história de Pernambuco. Superou, inclusive, o seu bisavô Miguel Arraes que, em 1990, teve 339.158 votos.

No segundo turno das eleições presidenciais de 2014, ao lado da mãe, Renata Campos, João resolveu apoiar o candidato Aécio Neves (PSDB).

Agora, ele tem o desafio de executar as principais propostas feitas durante a campanha, a exemplo do crédito popular para pessoas de baixa renda, construção de hospitais e triplicação do acesso de entrada e saída da BR-232 no Recife.

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