Preferido de Bolsonaro, Arthur Lira lança candidatura à presidência da Câmara

Líder do PP e do centrão na Casa, Lira é réu no STF e aposta em discurso moderado para atrair votos da esquerda

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Brasília

Apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o deputado Arthur Lira (PP-AL) lançou nesta quarta-feira (9) sua candidatura à presidência da Câmara. Lira é líder do PP na Casa e também do centrão —grupo de partidos que se aproximou do governo após a liberação de cargos e emendas.

Além do PP, a campanha de Lira afirma ter votos de outros oito partidos. PL, PSD, Solidariedade, Avante, PSC, PTB, PROS, Patriota e PP somam cerca de 170 deputados.

Mesmo com deserções no bloco, o grupo do candidato do governo se mostra, até o momento, mais coeso e maior que o entorno de Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara, que tenta eleger um sucessor independente em relação ao Palácio do Planalto.

Em novembro, a Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) formou maioria para manter Lira como réu acusado de corrupção passiva no processo em que é investigado por receber R$ 106 mil em propina.

O Planalto tem atuado a favor de Lira. O governo avalia uma reforma ministerial para acomodar aliados e puxar mais votos para o candidato alinhado ao Executivo. A liberação de emendas também está em jogo para impulsionar Lira na eleição.

A estratégia de Lira foi sair na frente e já oficializar a campanha ao cargo enquanto Maia tenta unir o bloco independente —com 106 membros e formado por MDB, PSDB, DEM, Cidadania e PV— em torno de um candidato.

As duas alas disputam votos das siglas de esquerda (PT, PSB, PDT, PC do B e PSOL), que reúnem 132 deputados. Por isso, Lira tem usado um discurso moderado.

"Partidos de centro são força moderadora que evita os extremos. O plenário depende dos partidos de centro”, afirmou ele ao se lançar candidato.

O deputado também disse que pretende presidir a Casa "respeitando minoria, oposição, e pluralidade do Poder Legislativo".

Em recado direto aos parlamentares, Lira prometeu fazer reunião de líderes todas as quintas-feiras para discutir a pauta e dividir a escolha de relatores de projetos de acordo com a "proporcionalidade partidária".

O grupo que hoje é mais próximo do líder do centrão reclama de falta de diálogo com Maia, que não faria reuniões com os representantes de cada bancada, e afirma que ele define apenas com seus aliados os projetos que serão analisados pelo plenário.

Nesse sentido, Lira ainda disse, sob aplausos, que os deputados terão "autonomia sobre seus relatórios". Por fim, o deputado do PP comentou a pauta econômica, pregou que é preciso cuidar "do auxílio emergencial", mas sem estourar o teto de gastos e se precisar "cortando na carne".

A última parcela do auxílio emergencial será paga agora em dezembro. O governo estuda, porém, meios de turbinar o Bolsa Família ou criar outro programa para atender mais famílias carentes do que atualmente.

Para competir com Lira, o grupo de Maia avalia também lançar nesta quarta o candidato do grupo. O mais cotado até o momento é Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que, apesar de ser do PP —mesmo partido de Lira—, mantém postura autônoma em relação à sigla e às negociações com o governo. Ribeiro, portanto, não tem o respaldo do PP para se lançar como adversário de Lira.

Além dele, o grupo analisa os nomes de Baleia Rossi (MDB-SP), Elmar Nascimento (DEM-BA) e Luciano Bivar (PSL-PE).

Maia tenta atrair ainda o Republicanos, partido com 32 deputados, mas que, em reunião nesta quarta decidiu sustentar uma candidatura própria, a do presidente da legenda, Marcos Pereira (SP), sem integrar o bloco que será formado pelo deputado do DEM.

Aliados de Lira, por outro lado, têm feito uma ofensiva sobre Pereira e chegaram a oferecer até mesmo um ministério a ele, em troca do apoio formal do Republicanos à campanha do candidato de Bolsonaro.

A eleição para a presidência da Câmara será no dia 1º de fevereiro. As articulações se intensificaram nesta semana depois de o STF impedir que Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), concorram à reeleição.

Além do apoio da máquina pública do governo, Lira tenta atrair o apoio das siglas de esquerda. A aliados, ele disse acreditar em votos, principalmente do PSB.

Como antecipou a coluna Painel nesta quarta, 18 dos 30 deputados do PSB presentes em reunião da legenda se manifestaram em favor de um apoio a Lira. O líder do partido na Câmara, Alessandro Molon (RJ), ficou neutro, 6 não se manifestaram, e 5 ficaram contra o apoio ao deputado do PP.

Molon depois emitiu uma nota na qual afirmou que, embora os deputados tenham se manifestado, não houve votação formal. "Por conseguinte, não houve qualquer deliberação sobre qual candidato será apoiado para presidir a Câmara dos Deputados no biênio 2021-2022", disse.

O PDT e o PC do B também estão divididos e podem dar votos a Lira.

Com o lema “Para toda a Câmara ter voz”, a campanha de Lira foi lançada em ato com a presença de representantes dos partidos aliados a ele. Todos eles discursaram antes do deputado alagoano.

Integrantes de partidos que não fecharam apoio a Lira, como PSL e PSB, também estiveram presentes. A bancada feminina alinhada a Lira negocia para que a chapa dele para a Mesa Diretora tenha pelo menos uma mulher.

Para a primeira vice-presidência, será indicado o deputado Marcelo Ramos (PL-AM). Ramos era pré-candidato à presidência da Casa pelo bloco que Maia tenta formar. Ele decidiu retirar a candidatura, porém, depois de não ter nenhum aceno de que poderia ser ele o escolhido pelos pares e receber a proposta de Lira.

Aliados de Maia reclamam da demora do deputado para definir quem disputará sua sucessão. Integrantes do grupo do parlamentar dizem que, enquanto não for definido o nome, Lira consegue agregar mais apoios.

Nesta quarta, Maia foi questionado sobre a demora na definição, mas tergiversou. "Não [está atrasado]. Ainda está muito longe. Nós temos que tocar a pauta da Câmara", disse.

"Se alguém ganhasse a eleição dois meses antes, não precisava de eleição", completou. "Nossa pressa não é pela escolha do nome. Nossa pressa é para construir esse movimento que amplie o máximo possível a participação não apenas dos partidos, mas da sociedade."

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