Descrição de chapéu STF congresso nacional

Prisão de deputado por ordem do STF aumenta pressão de base ideológica sobre Bolsonaro

Presidente já vinha tentando driblar descontentamento de apoiadores com sucessivas altas nos preços dos combustíveis

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Brasília

A pressão da base ideológica sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que já vinha em uma crescente nos últimos dias por causa dos sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis, ganhou fermento nesta semana com a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) por ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal).

Desde as primeiras horas desta quarta-feira (17), as redes sociais de Bolsonaro foram inundadas por mensagens de apoiadores que cobram que o presidente se insurja contra a corte e que se manifeste contra a prisão do aliado.

"O STF está tentando causar uma instabilidade no Brasil atacando os outros Poderes dessa maneira, alguém precisa parar esses ministros", publicou uma seguidora de Bolsonaro.

"Presidente, alguém tem que parar o STF", escreveu outro. "Mandar prender um deputado só por opinar contra eles? E os demais com crimes graves que estão soltos? Algo precisa ser feito, é um absurdo atrás do outro!", prosseguiu.

"Presidente está cagando pros seus apoiadores", escreveu um defensor de Bolsonaro.

Por unanimidade, o STF manteve na quarta-feira a decisão de terça (16) do ministro Alexandre de Moraes que determinou a prisão em flagrante de Silveira.

Auxiliares do presidente trabalham para contê-lo neste episódio, mesmo com sinais de contrariedade emitidos reservadamente por Bolsonaro. Nesta quinta (18), em sua live semanal, Bolsonaro ignorou o assunto da prisão de Silveira.

Sob o argumento de que não se trata de um ministro nem de um líder do governo, não há razão para ele levar a confusão para o governo, afirmam os assessores. Com a eleição das novas Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, comandadas agora por aliados, Bolsonaro vem tentando evitar tensão entre os Poderes.

Além de estar ciente de que não tem mais um inimigo com poder no Congresso para responsabilizar por eventuais fracassos do governo, Bolsonaro busca um terreno menos acidentado para chegar à sua tentativa de reeleição no ano que vem.

Nas últimas semanas, o presidente já vinha procurando contornar o descontentamento de motoristas —em especial caminhoneiros, simpáticos a ele— com os sucessivos aumentos dos preços dos combustíveis.

Bolsonaro levou o tema para suas lives e interações presenciais com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada e procurou transferir o desgaste aos governadores por causa da cobrança do imposto estadual, o ICMS.

No final do ano passado, Bolsonaro tentava se defender de críticas que recebeu nas redes sociais pelo fim do pagamento do auxílio emergencial e por causa de posicionamentos do ministro Kassio Nunes Marques, seu indicado para o STF.

Os ataques começaram quando o ministro votou no julgamento em que a corte decidiu permitir que o Estado imponha restrições a quem não tomar vacina contra Covid-19.

As cobranças aumentaram depois que Kassio suprimiu um trecho da Lei da Ficha Limpa que determinava que o prazo de oito anos de inelegibilidade começava a ser contado após o cumprimento da pena.

O encaminhamento dado por Kassio foi alvo de críticas de movimentos de defesa da Ficha Limpa, que viram na decisão desmonte da lei e estímulo à corrupção. Na defesa de seu escolhido para o STF, Bolsonaro falou a favor até do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Kassio votou favoravelmente a Lula contra decisão que excluiu a delação do ex-ministro Antonio Palocci da ação penal que investiga o petista por suposta doação ilegal de terreno para construção do Instituto Lula.

Assim, ajudou a manter o entendimento de que o ex-juiz Sergio Moro agiu politicamente ao incluir a colaboração de Palocci aos autos do processo às vésperas das eleições de 2018.

Bolsonaro também foi muito cobrado à época por não se manifestar sobre a situação do blogueiro Oswaldo Eustáquio, preso em dezembro de 2020 por descumprir restrições impostas pelo Supremo ao se deslocar até o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.​

O presidente nunca se manifestou publicamente sobre o assunto e é questionado sobre isso até hoje.

Naquele momento, sem ter como agir efetivamente, Bolsonaro acenou para seu eleitorado lançando mão de seu arsenal ideológico, com temas como armas, cloroquina, queimadas na Amazônia, comentários homofóbicos e gordofóbicos, além de ataques à imprensa, ao comunismo, ao PT, ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e a ONGs.​

Pressionado por seu eleitorado mais fiel de um lado e tentando não se indispor com outros Poderes, Bolsonaro tem adotado o que vem sendo chamado no Palácio do Planalto de "radicalismo pragmático".

Desde o início do mês, depois que Arthur Lira (PP-AL) assumiu o lugar de Rodrigo Maia (DEM-RJ) no comando da Câmara, o mandatário procura ser mais diplomático e adequado à liturgia da Presidência da República.

Ninguém no governo ou no Congresso, porém, arrisca um palpite de por quanto tempo ele conseguirá se controlar.

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