Descrição de chapéu STF

Jefferson esteve com Bolsonaro 10 dias antes de prisão; delator do mensalão virou amigo do presidente

Petebista participou de encontro com mandatário e grupo de entidades conservadoras que defende voto impresso

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Brasília

Ex-deputado preso na manhã desta sexta-feira (13), Roberto Jefferson esteve dez dias antes no Palácio do Planalto com o presidente Jair Bolsonaro.

O encontro, no último dia 3, foi registrado na agenda oficial de Bolsonaro e contou com a presença de representantes de entidades conservadoras, como a Associação Brasileira de Juristas Conservadores.

O grupo entregou carta a Bolsonaro para pedir às Forças Armadas que "não se eximam de seu papel histórico" de garantir a estabilidade política, a lei e a ordem. O texto também defendia o voto impresso, proposta rejeitada pela Câmara nesta semana.

Publicação no perfil do Instagram da associação diz ainda que os ministros Milton Ribeiro (MEC) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) também participaram, apesar de o encontro não constar na agenda deles.

​Assim como o presidente, ele também tem atacado ministros do STF e chegou a defender que Bolsonaro "demitisse" os 11 magistrados, mesmo não havendo previsão constitucional para isso.

A operação que prendeu Jefferson foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, no âmbito da investigação que apura suposta organização criminosa atuando nas redes sociais para atacar a democracia.

Na decisão, o ministro diz que Jefferson divulgou vídeos e mensagens com o "nítido objetivo de tumultuar, dificultar, frustrar ou impedir o processo eleitoral, com ataques institucionais ao TSE e ao seu presidente".

No mesmo dia, Jefferson esteve ainda com o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral), que registrou o encontro em foto no seu Twitter. "Mais um soldado na luta pela liberdade do nosso povo e pela democracia do nosso Brasil", disse Ramos na rede social.

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O presidente Jair Bolsonaro acompanha live em que Roberto Jefferson acusa Rodrigo Maia de golpe - Reprodução Foco do Brasil no youtube

Segundo registros oficiais, além de 3 de agosto, Jefferson esteve no Planalto em outras duas ocasiões. Em julho do ano passado e, em maio, com o vice-presidente, general Hamilton Mourão. ​

Nas últimas semanas, Bolsonaro tem intensificado os ataques ao STF e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em especial ao ministro Luís Roberto Barroso. Na live de quinta-feira (12), Bolsonaro disse que ele mente ou é "tapado".

Horas antes da ofensa, o presidente participou de cerimônia com militares no Planalto e voltou a se referir às Forças Armadas como "poder moderador" e disse que conta com o apoio dos militares às suas decisões.

O presidente do STF, ministro Luiz Fux, delimitou no ano passado a interpretação da Constituição para esclarecer que a lei não permite a intervenção das Forças Armadas sobre outros Poderes nem garante a elas "poder moderador".

A tese é defendida por aliados do presidente com base na tese do professor Ives Gandra Martins, de que os militares teriam papel moderador em situação de crise extrema entre os Poderes.

Condenado em 2012 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no mensalão, Jefferson sempre se manteve no lado conservador do debate político, com exceção de uma aliança com o PT de 2003 a 2005, encerrada com o escândalo.

Após delatar o esquema em 2005 em entrevista à Folha, Jefferson teve o mandato de deputado federal cassado e foi condenado pelo Supremo como um dos integrantes do esquema de desvio de dinheiro público que tinha em seu cerne políticos do governo do PT e dirigentes dos partidos que hoje formam o centrão.

Jefferson passou uma temporada na cadeia em decorrência da condenação, em 2012, a 7 anos e 14 dias por sua participação no mensalão. Ele foi preso em fevereiro de 2014, por ordem do STF, e passou a cumprir a pena em regime semiaberto, em um instituto penal de Niterói. No ano seguinte, passou para prisão domiciliar.

Em março de 2016 o ministro Luís Roberto Barroso, relator da execução das penas dos condenados no mensalão, concedeu perdão a Jefferson com base no indulto de Natal que foi assinado pela presidente Dilma Rousseff (PT) no final do ano anterior.

Antes disso, Jefferson havia se notabilizado por liderar a tropa de choque de Collor durante o processo de impeachment, em 1992.

Outros citados na apuração da quadrilha digital

  • Eduardo Bolsonaro Filho zero três do presidente e deputado federal pelo PSL de São Paulo
  • Bia Kicis Deputada federal pelo PSL do DF. Foi autora da PEC do chamado voto impresso
  • Allan dos Santos Apresentador do Canal Terça Livre, é uma espécie de líder informal das redes bolsonaristas. Muito ligado ao vereador Carlos Bolsonaro
  • Otávio Fakhoury Empresário e investidor de São Paulo, suspeito de financiar sites que defendem o presidente e são usados para atacar opositores e a imprensa
  • Tércio Arnaud Tomaz Assessor especial da Presidência, é próximo do vereador Carlos Bolsonaro e apontado como um dos integrantes do gabinete do ódio
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