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ameaça autoritária

Falta de coordenação política deixa ameaças de Bolsonaro à democracia sem resposta

As elites políticas não sentiram necessidade ou não foram capazes de se opor de forma contundente a esses ataques

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Lara Mesquita

Cientista política, é pesquisadora no FGV Cepesp (Centro de Política e Economia do Setor Público - Fundação Getulio Vargas) e membro da Câmara de Pesquisadores do Cebrap

Após o presidente Jair Bolsonaro escalar as agressões à democracia e às instituições no último dia 7, partidos políticos e centrais sindicais cogitaram se unir aos atos deste domingo (12) convocados pelo MBL e pelo Vem Pra Rua, os mesmos movimentos que encabeçaram as manifestações pedindo o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Para receber os novos parceiros os organizadores originais teriam concordado em focar no #ForaBolsonaro #ImpeachmentJá, deixando Lula e o PT de fora da pauta.

Não se sabe se foi a carta manifesto da dupla Temer/Bolsonaro, o desânimo com o tamanho das manifestações do dia 7, a frustração em não ter Lula como alvo ou ainda a ausência de financiamento, mas as manifestações foram bastante modestas.

Em São Paulo não ocuparam nem duas quadras da av. Paulista. Nessas duas quadras estavam três carros de som, cada um falando para seu pequeno grupo. Na Paulista, e país afora, não se viram bandeiras do PSDB, DEM, PSD, PSL ou outras legendas da chamada centro-direita. Exceção feita ao Novo, que se juntou ao Vem Pra Rua e ao Livres e garantiu que a pauta “Nem Lula Nem Bolsonaro” estivesse presente, fomentando o clima eleitoreiro para uma terceira via vazia e descumprindo o acordo de poucos dias antes.

Embora PT e PSOL também estivessem ausentes, outros partidos de esquerda e movimentos sindicais registraram presença, levaram bandeiras (ignorando igualmente a orientação geral) e juntos ao MBL garantiram a maior das três aglomerações na avenida Paulista, juntando a deputada estadual Isa Penna (PSOL), os deputados federais Orlando Silva (PC do B) e Tabata Amaral, a senadora Simone Tebet e o governador João Doria no mesmo palco.

Ficou evidente a falta de capacidade de coordenação e mobilização para dar uma resposta rápida ao 7 de Setembro e às repetidas afrontas do presidente à democracia. As elites políticas não sentiram necessidade ou não foram capazes de se opor de forma contundente a esses ataques, e foram ineficientes em defender o que deveria ser o valor supremo. Não custa lembrar, se não preservarmos a democracia, não haverá eleição em 2022.

Mas o que as manifestações deste domingo nos dizem sobre o cenário político e as eleições de 2022?

1. Os movimentos de direita que mobilizaram milhares de pessoas em 2015 e 2016 perderam seus apoiadores, que ou estão em casa apáticos, ou hoje se identificam muito mais com Bolsonaro que com os valores democráticos. Ou seja, se depender do apoio desse grupo, não parece haver muito espaço para uma terceira via eleitoral em 2022;

2. Se a centro-direita não consegue se organizar e convergir para uma pauta que seria consensual, parece impossível que esses grupos se coordenem para lançar um único candidato (ou poucos), evitando que cada grupo/partido apresente seu próprio candidato em 2022, o que diminuirá as chances de tirar Lula ou Bolsonaro do segundo turno;

3. Grande parcela da centro-direita e do mercado financeiro (mais do que eu gostaria) está confortável com Bolsonaro, e só precisa de uma desculpa –como a carta intermediada pelo ex-presidente Temer– para pôr panos quentes nas ações antidemocráticas do presidente. Exemplo disso é a declaração de ACM Neto, presidente do DEM neste final de semana;

4. Ainda que uma parte das forças políticas e dos formadores de opinião queiram minimizar, em 2021 nenhum grupo foi capaz de reunir tantas pessoas nas ruas como Bolsonaro no 7 de Setembro, o que mostra a capacidade de organização e de mobilização de recursos financeiros do grupo que apoia o presidente, mesmo sem depender de recursos de partidos políticos (Jair Bolsonaro segue sem partido);

5. Por fim, não se vence eleição nem se faz manifestação de rua sem planejamento, dinheiro, organização e coordenação. Por ora quem se mostrou capaz disso foi o grupo bolsonarista e em menor escala os partidos de esquerda.

Se as colorações da centro-direita até a extrema-esquerda não conseguirem se coordenar internamente e continuar achando que Lula e Bolsonaro são equivalentes, como se representassem igual risco para a democracia, a melhor chance para quem está em busca de uma candidatura alternativa ou quer evitar um novo governo Bolsonaro será manter o passaporte em dia.

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