Tasso vê Leite aberto a negociar cabeça de chapa do PSDB e diz que Doria é mais confronto que diálogo

Senador abriu mão de disputar prévias presidenciais tucanas para apoiar gaúcho e o vê como favorito

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São Paulo

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), 72, afirma que, com seu apoio conquistado na tarde desta terça-feira (28), o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) está na dianteira das prévias presidenciais tucanas e enfrenta menos resistência de partidos aliados em uma tentativa de unir a chamada terceira via.

A comparação é feita com o governador João Doria (PSDB-SP), principal rival do gaúcho na disputa interna. Tasso afirma à Folha que a característica do paulista é "muito de confronto, muito mais do que diálogo".

Com a desistência de Tasso, são agora três candidatos nas prévias tucanas —há ainda o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) - Pedro Ladeira - 1º.out.19/Folhapress

O senador disse ainda ser possível que o PSDB abra mão de ser cabeça de chapa para aglutinar o apoio de siglas aliadas e admitiu que Leite é mais aberto a isso do que Doria.

"O nome do Leite é muito mais fácil de ser conversado com outros partidos hoje do que o do governador de São Paulo. A própria característica e estilo de cada um demonstram isso. [...] Leite estaria disposto a qualquer tipo de abertura desde que significasse o melhor para o país e uma perspectiva de vitória."

Agora, o senador passa a integrar a campanha de Leite. Nesta semana, os dois estarão juntos em Santa Catarina. Nesta quarta (29), farão uma visita ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que já declarou apoio público a Doria nas prévias.

Questionado sobre a perspectiva de mudar o voto de FHC, Tasso afirmou que "as coisas mudam". "Fernando Henrique e eu, em 40 anos, nunca votamos diferente", disse.

Qual foi a estratégia que orientou o recuo do sr.? Leite teria mais condições de derrotar Doria? A conta que Leite tem condições de ganhar está feita. Está mostrada. Na verdade, hoje, se for por uma demonstração em cima das executivas estaduais, 80% estão já com o Leite —estavam comigo ou Leite. Tinha que um dos dois abrir mão.

Mas ele reúne melhores condições de vencer o governador de São Paulo do que o sr.? ​Não é para derrotar o Doria, o foco não é esse. O foco é a questão do país neste momento. Eu até acho que eu tenho mais experiência e vivência etc, mas o momento hoje, não só nas prévias, como à frente, vai exigir uma cabeça muito nova, muita energia, muita disposição para luta de quem nunca teve um grande teste nacional.

Vão ser difíceis essas prévias, apesar desse favoritismo nosso hoje, tem chão pela frente. Tem muita coisa para enfrentar. E depois ainda se consolidar como terceira via, ter condição de agregar outros partidos, enfrentar extremismos dos dois lados. E pra isso é preciso muita juventude e tem que estar disposto, inclusive, a quebrar tabus.

É hora de desprendimento. Eu, até como mais velho, acho que deveria dar esse exemplo e fiz.

A conta de que Leite tem 80% das executivas estaduais indica o quê exatamente? É uma tendência do partido. A executiva do PSDB, por exemplo, no Ceará representa a maioria do partido —seja vereador, prefeito, deputado estadual. Ela foi eleita pela maioria e normalmente tem uma liderança sobre a maioria.

Então, evidentemente, pode ter e pode descambar para isso, que é um perigo, para uma disputa voto a voto, passando por cima das executivas, da liderança das executivas. Mas o natural é que sejam maioria.

Em São Paulo, não tenho dúvida de que a executiva é maioria Doria, o que não significa que ele vai ter 100% do partido. Hoje mesmo participou conosco o [senador] José Aníbal, que é de São Paulo. O prefeito de Santo André [Paulo Serra] fez questão de vir aqui. O natural é que a executiva represente a grande maioria do partido.

Evidentemente, Leite ganha. Porque se somar todas as executivas que estão fechadas com Leite... Estaremos indo amanhã à noite pra Santa Catarina, tem expectativa que feche com a executiva de Santa Catarina e aí fecha o Sul [Leite já tem apoio do RS e PR]. Sabemos que não vai ser unanimidade dos votos, mas que 70% desses votos venham de acordo com aquilo que a executiva representa, isso numa conta teórica, a vantagem hoje é do Leite disparada.

Tucanos apontam uma série de desvantagens na candidatura de Doria, o sr. acha que isso pesa? Respeito o governador de São Paulo e não estamos fazendo uma campanha contra o governador. Estamos fazendo a favor daquele perfil que nós achamos que é o melhor para o partido, o melhor para o país e que tem condições do ponto de vista pragmático de ganhar.

A capacidade de agregar, de dialogar com os outros partidos para se formar uma aliança em torno de uma candidatura de Eduardo é muito maior do que hoje a de São Paulo, que tem uma característica muito de confronto, muito mais do que diálogo. Esse conjunto de coisas é que dão essa preferência que está aparecendo naturalmente no Brasil inteiro pela candidatura do Leite.

Como vai ser a conversa, de Leite ou de Doria, com os demais partidos da terceira via? Pelo que eu tenho conversado com outros partidos, nada é impossível, mas o nome do Leite é muito mais fácil de ser conversado com outros partidos hoje do que o do governador de São Paulo. A própria característica e estilo de cada um demonstram isso.

O PSDB poderia abrir mão da cabeça de chapa? Tudo é possível. Se você vai para uma negociação, querendo o apoio do DEM, desse novo partido [fundido com o PSL], por exemplo, você tem que ir de portas abertas. Não pode ir para uma negociação dizendo só se for fulano, só se for o meu. "Eu quero seu apoio, mas não apoio o seu", isso não é uma posição de negociação.

Acho que a própria postura de um candidato do PSDB como Leite é muito mais aberta a essa abertura de portas com outros partidos.

Tucanos dizem que Leite toparia ser vice e Doria não toparia. Concorda com isso? Leite estaria disposto a qualquer tipo de abertura desde que significasse o melhor para o país e uma perspectiva de vitória.

O sr. esteve com Lula no Ceará recentemente e hoje criticou Bolsonaro. O caminho da pré-campanha deve ser de crítica a um, a outro, aos dois ou a nenhum dos dois? Deve ser propositiva. Nossas propostas e nossas ideias com certeza serão diferentes das propostas dos dois. A visão de mundo, a visão da economia, o papel do Estado, a visão do papel da imprensa, de relações internacionais são muito diferentes dos dois. As diferenças vão aparecer com muita clareza aí.

Agora, o diálogo é sempre necessário. Está no fundamento de nossa existência, de nossa fundação, respeitar e conviver com quem pensa diferente.

Uma estratégia de candidatos da terceira via, inclusive de Doria, é a de adotar o antipetismo apostando num segundo turno contra Lula. O sr. defende isso? A campanha não vai ser anti coisa nenhuma. Com certeza, oposição —pelas nossas próprias propostas muito diferentes— aos dois. E hoje especificamente oposição muito veemente ao governo Bolsonaro.

O sr. disse que visitará FHC com Leite. É possível voltar a disputar o apoio de FHC ou está consolidado com Doria? Eu não sei ainda, mas as coisas mudam, a política muda, os candidatos mudam. E vamos ver o que acontece. Fernando Henrique e eu, em 40 anos, nunca votamos diferente, sempre votamos juntos. Se pode mudar, só ele pode falar.

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