Descrição de chapéu
Eleições 2022

Eduardo Leite perde pontos em debate para consumo interno do PSDB

Em observação, gaúcho recuou e ficou só na insinuação contra Doria, mas se perdeu em respostas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Cientes do prejuízo potencial que uma lavagem de roupa suja em público poderia ter sobre o já alquebrado PSDB, os candidatos das prévias presidenciais do partido abandonaram a alta tensão dos últimos dias e fizeram um primeiro debate anódino.

Na fotomontagem, Doria, Arthur Virgílio e Leite, candidatos nas prévias do PSDB
Na fotomontagem, Doria, Arthur Virgílio e Leite, candidatos nas prévias do PSDB - Governo do Estado de São Paulo, Lucas Seixas/Folhapress e Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini

Pior para o govenador gaúcho, Eduardo Leite, que vem surfando uma onda de apoios públicos à sua postulação.

Animado por algumas paulistas defecções a seu favor e pela torcida comandada pelo grupo de Aécio Neves (MG), Leite havia subido o tom contra o governador paulista, João Doria. No domingo (17), causou desconforto ao ressuscitar a memória do voto BolsoDoria de 2018.

Como novidade eleitoral neste ponto incipiente da campanha de 2022, Leite era obviamente o foco de observação de líderes tucanos e de outros partidos no debate promovido nesta terça (19) pelos jornais O Globo e Valor Econômico.

Acabou com um desempenho algo frustrante para seus apoiadores, ainda que o debate só servisse a consumo interno: ninguém decidiu seu voto fora do universo das prévias caso tenha se disposto a assistir ao sonolento embate.

Insinuou ataques ao paulista diversas vezes: disse que não associaria seu nome ao de Jair Bolsonaro (BolsoDoria de novo), apesar de ter votado nele, que sempre cumpriu mandatos até o fim (Doria paga até hoje por ter deixado a prefeitura paulistana para ser governador), que não correu para tirar uma foto com o atual presidente quando candidato (o paulista o fez, sem sucesso).

Ao fim, contudo, recuou e não deu nome aos bois. Justificável ante o risco de ser rotulado de desagregador num momento em que tudo o que ele tenta é impingir isso a Doria, mas sugeriu inconstância.

Seu pior momento esteve no debate acerca do comprometimento com a democracia. Além de ter errado na frase que ensejou o questionamento, ao consertar acabou alongando-se demais.

Ou quando falou em flexibilizar o teto de gastos, algo que gera arrepios no tal do mercado só pela citação. Se é possível fazer essa defesa, a ideia de que ela pressupõe instrumentos de responsabilidade fiscal exige um detalhamento que não surgiu.

Isso tem sido constante nos diversos encontros aos quais Leite tem comparecido. No domingo, por exemplo, ao jantar com empresários em São Paulo, ele não conseguiu elaborar uma ideia sobre a indústria do turismo ao ser questionado por Luiza Trajano (Magalu), preferindo falar sobre programas regionais gaúchos.

Há também um problema conceitual, que é a dicotomia de disputar a indicação tucana com a ideia de abrir mão da cabeça de chapa logo de saída, ainda que tenha voltado a negar a ideia de ser vice. Isso soa como música para parte do tucanato, mas causa ojeriza a outros pelo "timing".

Já Doria, que se desgastara ao recusar inicialmente ao encontro, acabou numa zona de conforto. Não precisou responder às indiretas de Leite e apresentou uma bem decorada lista de números e programas relativos à gestão estadual paulista.

Também escorregou. Questionado sobre o comportamento da bancada federal tucana, que às vezes é mais bolsonarista do que o centrão, disse que "o PSDB não tem dono", só para engatar e afirmar que "os oito deputados de São Paulo" foram contra o voto impresso.

Em outro ponto, ao rejeitar o instrumento das verbas de relator dado por Bolsonaro ao centrão, evidenciou uma das complicações para sua pretensão ao criticar Arthur Lira (PP-AL), o presidente da Câmara.

Afinal de contas, no início de 2023, quem estiver no Planalto invariavelmente terá de conversar com o centrão para garantir alguma governabilidade. Bolsonaro rejeitou liminarmente o grupo na campanha só para entregar-lhes as chaves do governo quando seu apoio político se esfarelou.

Por fim, havia a figura do veterano Arthur Virgílio, que cumpriu o papel de franco-atirador que lhe é franqueado na disputa e deu uma ou duas estocadas em Doria —e outras em Leite, que até se queixou. Garantiu algumas risadas numa virada de tarde modorrenta.

No mais, todos atiraram pontualmente em alvos conhecidos, o governo Bolsonaro e a ruína econômica deixada pelo PT do líder das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva. O inédito jogo tucano, por ora, segue indefinido, mas a rodada foi pior para Leite.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.