Descrição de chapéu Folhajus

Suspeito de propina e ligado a tucanos promete 'zelar coisa pública' em volta ao TCE-SP

Conselheiro teve punibilidade extinta após prescrição e retomará funções no Tribunal de Contas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Afastado sob suspeita de corrupção, o conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado) de São Paulo Robson Marinho voltou ao cargo após prescrição de caso contra ele.

Marinho nega as acusações e disse à Folha, nesta terça (18), que pretende zelar "coisa pública".

"O juiz declarou extinto o processo. Então, derrubou a liminar que tinha me afastado", afirmou.

Ex-integrante do governo de Mario Covas (PSDB) nos anos 1990 e ligado a tucanos, Marinho foi afastado pela Justiça paulista em agosto 2014 sob suspeita de ter recebido propina da multinacional francesa Alstom.

Robson Marinho durante sessão do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em 2008
Robson Marinho durante sessão do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, em 2008 - Julia Moraes - 13.fev.2008/Folhapress

Durante seu afastamento, ele não deixou de ser conselheiro e foi substituído por auditores que se revezavam —o último a ocupar o posto foi Márcio Martins de Camargo.

"Eu acabei de assumir. Vou continuar. E pretendo tratar com bastante zelo a coisa pública no exercício da função de conselheiro", disse ele.

De acordo com a decisão que extinguiu a punibilidade, Marinho já completou 70 anos e, por isso, o prazo prescricional foi reduzido pela metade, sendo de oito anos.

"Segundo a denúncia, os fatos teriam ocorrido entre os anos de 1998 e 2005 e o recebimento da denúncia ocorreu apenas em 18.10.2017, tendo decorrido lapso temporal superior a 08 (oito) anos, portanto", diz a decisão da Justiça Federal.

Segundo o Ministério Público, a propina foi paga a Marinho para que ele ajudasse a Alstom a usar um contrato de 1990 com a Eletropaulo para vender subestações de energia em 1998 por US$ 50 milhões.

Marinho negou as acusações. "A única matéria que eu apreciei foi a renovação do seguro do maquinário. [...] E teve parecer favorável dos órgãos técnicos, e foi uma decisão colegiada, não foi só minha. Então, esse foi a único assunto que eu tratei de interesse da Alstom aqui no tribunal. Portanto, em nenhum momento, nem por ato nem por voto, eu nunca favoreci a Alstom nem qualquer outra empresa", disse.

O conselheiro afirmou que só resta uma ação por improbidade, que espera que seja arquivada.

Em 2018, o Tribunal de Contas decidiu arquivar, sem chegar a alguma conclusão, uma investigação interna que apurava a suspeita de o conselheiro Robson Marinho ter recebido US$ 3,059 milhões de propina da Alston, de acordo com documentos obtidos pela Folha.

Nota do gabinete de Marinho cita ainda desgaste pessoal do conselheiro durante o processo judicial. "[...] Foram momentos de ansiedade e, por que não dizer, de agonia, diante das dúvidas postas em relação à minha longa vida pública", diz a nota.

O ato, publicado no Diário Oficial de São Paulo desta terça, é assinado pela presidente do TCE, a conselheira Cristiana de Castro Moraes.

De acordo com o Ministério Público, a propina foi paga a Marinho para que ele ajudasse a Alstom a usar um contrato de 1990 com a Eletropaulo para vender subestações de energia em 1998 por US$ 50 milhões.

O problema legal apontado era de que o contrato de 1990 já não valia mais nada oito anos depois, já que esses documentos caducam em cinco anos, segundo a Lei das Licitações. Após a denúncia, Marinho passou a responder a uma ação pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

A Suíça, que investigou a Alstom após um banco daquele país ser usado para a distribuição do suborno, chegou a bloquear uma conta atribuída a Marinho. Seu saldo era de US$ 3 milhões em julho de 2013.

O primeiro depósito na conta foi feito em junho de 1998, quando ele já era conselheiro do TCE, ainda de acordo com os documentos suíços. A remessa foi considerada o primeiro ato de lavagem de dinheiro nas duas ações em que o conselheiro é réu, uma criminal e outra por improbidade administrativa.

O conselheiro sempre negou ter conta na Suíça e refutou acusação de que tenha beneficiado a empresa.

O caso citado pelo Ministério Público teria ocorrido em 1998, durante o governo de Mario Covas (PSDB) —de quem Marinho foi chefe da Casa Civil e por quem foi nomeado para o TCE-SP, em 1997. Marinho foi um dos fundadores do PSDB.

Com a volta ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, ele deve assumir processos de prestação de contas ligados a dezenas de prefeituras e também ao Governo de São Paulo.

O tribunal é responsável por analisar as contas anuais do governador e dos prefeitos de todos os municípios paulistas, exceto a capital. A instituição ainda julga as contas dos órgãos estaduais e municipais dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, além das autarquias.

Atualmente, os orçamentos de todos os entes submetidos ao TCE alcançam a soma aproximada de R$ 355 bilhões.

O caso de Marinho chegou em 2017 ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que, por unanimidade, recebeu a denúncia contra o conselheiro do TCE e determinou seu afastamento até o término da instrução da ação penal.

Em 2018, Marinho recorreu ao STF (Supremo Tribunal Federal) pedindo sua recondução —mas teve habeas corpus negado pelo ministro Edson Fachin.

Colaboraram Joelmir Tavares e Bianka Vieira

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.