Bolsonaro se reúne com WhatsApp, e app confirma megagrupos só após eleição

Presidente queria forçar uso de ferramenta antes, mas empresa citou decisão global e questões de mercado

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Brasília e Nova York

O presidente Jair Bolsonaro (PL) se reuniu nesta quarta-feira (27) com representantes do WhatsApp no Brasil.

Após o encontro, tanto o WhatsApp quanto o ministro Fábio Faria (Comunicações) confirmaram que o lançamento da nova ferramenta do aplicativo que permite grupos com milhares de pessoas somente ocorrerá após as eleições de outubro.

Na prática, o resultado da reunião significa uma derrota do presidente, que queria forçar o WhatsApp a iniciar o uso da ferramenta antes das eleições, com o objetivo de utilizá-la em sua campanha à reeleição.

Segundo relatos obtidos pela Folha, a reunião durou cerca de uma hora e começou com o presidente insistindo para que a estreia fosse antecipada. Ao final, Bolsonaro teria concordado com os argumentos dos representantes do WhatsApp e com as ponderações do ministro.

Participaram do encontro com o governo o diretor de políticas públicas do WhatsApp no Brasil, Dario Durigan, e outros três representantes da empresa no país.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto
O presidente Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto - Antonio Molina-26.abr.22/Folhapress

Nesta quarta, após a reunião, tanto o WhatsApp como o ministro negaram que esse prazo de início tenha relação com algum tipo de acordo entre a empresa e o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Dizem que a decisão sobre a ferramenta "comunidades" é global e por questões de mercado.

"Totalmente comercial. As decisões que tomaram foi em cima disso, nada a ver com eleições", afirmou o ministro. "De acordo com o calendário já divulgado, a implementação da funcionalidade no Brasil ocorrerá somente após o período eleitoral", disse o WhatsApp em nota.

Segundo a Folha apurou, o lançamento global da ferramenta deve ocorrer em setembro, um mês antes das eleições no Brasil.

Bolsonaro aposta nas redes sociais e em aplicativos de mensagem para promover a sua candidatura à reeleição a presidente. Ele tem desacreditado o sistema eleitoral e dito que ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE querem limitar a atuação das redes e de seus apoiadores.

Bolsonaro declarou no último dia 16 que iria propor uma reunião com o comando do WhatsApp no Brasil para discutir com a plataforma os termos do acordo deles com o TSE sobre a nova ferramenta.

"Se eles [do WhatsApp] podem fazer um acordo desses com o TSE, podem fazer comigo também, por que não? Pode fazer com você, pode fazer com qualquer um. No Brasil, ou um produto está aberto a todo mundo ou tem restrição para todo mundo", disse Bolsonaro na ocasião.

Um dia antes, ele havia feito ataques e ameaças.

"E já adianto que isso que o WhatsApp está fazendo no mundo todo, sem problema. Agora, abrir uma excepcionalidade no Brasil, isso é inadmissível e inaceitável", disse em meio a uma motociata no interior de São Paulo.

"Não vai ser cumprido esse acordo que porventura eles realmente tenham feito com o Brasil com informações que eu tenho até esse momento."

O WhatsApp anunciou em estágio experimental o novo recurso. Na prática, trata-se de um grande grupo de grupos, que pode ter milhares de membros, com toda a comunicação criptografada.

Hoje, cada grupo de WhatsApp tem, no máximo, 256 integrantes. O recurso estará em teste com alguns usuários nos próximos meses.

Em entrevista à Folha, Will Cathcart, presidente global do WhatsApp, disse não temer que o "comunidades" signifique um retrocesso na luta contra a desinformação. ​

O WhatsApp se comprometeu com o TSE a não estrear as "comunidades" no Brasil antes do eventual segundo turno da eleição presidencial, marcado para 30 de outubro. A empresa, porém, não promete segurar o lançamento das comunidades entre o segundo turno e a posse presidencial no Brasil.

Nos Estados Unidos, na eleição presidencial de 2020, grande parte da desinformação que culminou na invasão do Capitólio em 6 de janeiro circulou após a votação, principalmente pelo YouTube. No Brasil, o WhatsApp foi o principal veículo de desinformação política na eleição de 2018.

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