Descrição de chapéu Eleições 2022

Novo governador do RS já foi chefe da polícia e convenceu Leite a abrir voto em Bolsonaro

Ex-delegado Ranolfo Vieira Jr. acumulou Secretaria da Segurança enquanto vice de Leite

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Porto Alegre

O primeiro dia de trabalho do novo governador do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Jr. (PSDB), 55, na sexta-feira (1º), foi de agenda cheia com reuniões, lançamento de programa e com manifestação de professores em frente ao Palácio Piratini.

Ele assumiu depois que Eduardo Leite, 37, renunciou ao governo, deixando o nome à disposição do PSDB, inclusive, para a candidatura à Presidência, mesmo com as prévias vencidas pelo ex-governador de São Paulo João Doria.

O ex-delegado da Polícia Civil Ranolfo Vieira Jr (PSDB), 55, assumiu como governador do RS no dia 31 de março, depois da renúncia de Eduardo Leite (PSDB), 37
O ex-delegado da Polícia Civil Ranolfo Vieira Jr (PSDB), 55, assumiu como governador do RS no dia 31 de março, depois da renúncia de Eduardo Leite (PSDB), 37 - Gustavo Mansur/Palácio Piratini

Delegado aposentado da Polícia Civil, Ranolfo foi chefe de polícia na gestão do petista Tarso Genro e coordenador da bancada do PTB na Assembleia Legislativa, partido que deixou no ano passado depois de uma briga com Roberto Jefferson.

No discurso de posse, disse que "muda o governador, não o governo". À Folha, no novo gabinete, reiterou: "Esse governo é de continuidade, nós não vamos ter nenhuma alteração de rota daquilo que está posto".

Endossado pelo próprio Leite como candidato natural do PSDB, Ranolfo tem pela frente o desafio de se tornar um nome próprio conhecido para a reeleição. Como trunfo, diz que, entre cinco cidades com mais de 200 mil eleitores, três estão nas mãos de tucanos —Pelotas, Caxias do Sul e Santa Maria.

"O partido é forte, é grande, tem que ter candidato. Quem é o candidato do PSDB? É o Ranolfo, não há dúvida", diz. "Agora, se o Eduardo desistir do cenário nacional e achar que tem que ser o candidato, eu me retiro, tranquilamente."

Diferentemente da outra gestão tucana no estado, que teve rompimento público entre a governadora Yeda Crusius e o vice Paulo Feijó, Leite e Ranolfo sempre estiveram afinados.

O programa de governo foi um trabalho em conjunto desde que fecharam a chapa, cerca de seis meses antes das eleições. No anúncio da renúncia, Leite disse que tinha absoluta confiança no vice pela "convivência fraterna e leal".

Ranolfo conta que ajudou a convencer Leite a abrir o voto em Jair Bolsonaro (PL), em 2018, o que atraiu críticas ao ex-governador, especialmente, depois que ele falou publicamente sobre sua orientação sexual.

O vice defendeu o voto dois dias antes de Leite —no segundo turno, eles enfrentavam o então governador José Ivo Sartori (MDB), que adotou o "Sartonaro".

"Toda nossa base trabalhou muito no convencimento do Eduardo, tanto que eu lembro dessas 48 horas depois [de falar o meu voto]", conta.

"Éramos duas candidaturas do mesmo campo ideológico. O Sartonaro pegou, assim como Bolsodoria, Witzel no Rio, comandante Moisés em Santa Catarina, chegou a ser um fenômeno eleitoral, então, era um movimento que tinha que ser feito naquele momento. Mas o importante é: a opção que o Eduardo apresentou era uma opção crítica".

Anos antes de ir para o PSDB, Ranolfo foi escolhido chefe da Polícia Civil pelo então governador Tarso Genro (PT), ex-ministro da Educação e da Justiça de Lula. O ex-governador conta que o escolheu "não pelas suas posições políticas, mas pelas informações que tinha da sua qualidade técnica e pela respeitabilidade que gozava no meio policial do Estado".

"Mantenho com o agora governador Ranolfo relações de cordialidade e respeito, com conversas muito eventuais a respeito de temas políticos nacionais e locais e tenho apreço por ele, embora as nossas divergências de fundo sobre os temas políticos e econômicos do país e do estado", completa Tarso.

O governador diz que já votou no PT, mas em 2018 fez a opção pensando que "o partido traiu o Brasil, com a questão da corrupção". Hoje, questionado se repetiria voto em Bolsonaro, ele diz que seria "muito difícil, muito difícil".

"Não podemos retornar ao passado, com relação ao Lula, nem a um presidente desastroso, com o que a gente viveu, com negação da pandemia, da Covid-19", afirma, defendendo Leite ainda como a melhor opção.

A relação com Leite foi um dos fatores que levou Ranolfo a deixar o PTB, partido do qual foi coordenador de bancada na Assembleia gaúcha depois de perder a eleição para deputado —ele diz que o distanciamento da linha programática também pesou.

O rompimento ocorreu depois que Roberto Jefferson disparou ofensas a Leite e acusações a ele, em uma entrevista a uma rádio do RS.

"Ele disse que ia me tirar do partido, porque estava mandando a polícia bater nas pessoas e ficarem em casa. Mentira. Então, ele não vai me tirar, eu que vou sair", lembra Ranolfo, que escolheu o PSDB meses depois.

Desde então, o PTB teve uma debandada, incluindo o deputado estadual Aloísio Classmann, com sete legislaturas consecutivas na legenda, e Ronaldo Santini, que deixou a secretaria de Turismo esta semana.

"Saí com o coração partido pelo que construímos, a sigla tinha uma história bonita, mas não tinha como continuar", diz Santini, que descreve o novo governador como leal, conciliador e um gestor.

Parte dos petebistas rumou para o União Brasil, um dos partidos com os quais Ranolfo mantém conversa para eleição.

A legenda é presidida no estado por Luiz Carlos Busato, exonerado essa semana da pasta de Articulação e Apoio aos Municípios, que teve o governador como secretário de segurança quando era prefeito de Canoas.

"Temos conversado com o União Brasil, PSD, vários partidos que compõem a base, MDB e Progressistas, que tem candidatura lançada do Heinze, mas não obsta o diálogo. Vamos intensificar essas conversas", diz Ranolfo.

O Progressistas tem a liderança do governo na Assembleia Legislativa com Frederico Antunes, que continua na posição, atendendo pedido de Ranolfo e Leite.

"Ranolfo foi um vice-governador dedicado, fiel e bom parceiro do Leite e de todos nós, deputados. Tem muita admiração por ele no Parlamento", diz.

O partido, porém, já tem o senador Luis Carlos Heinze como pré-candidato —presente na posse de Ranolfo, Heinze abriu mão de concorrer ao governo em 2018, quando os dois partidos se aliaram, com Ana Amélia Lemos como vice de Geraldo Alckmin para a Presidência.

"Hoje pode estar certo que não vamos estar juntos no primeiro turno, mas amanhã as coisas podem mudar. Com certeza, ali na frente, vai haver novamente uma aproximação", avalia Antunes.

O deputado Pepe Vargas (PT) diz que sempre teve boa relação pessoal com Ranolfo, mas a saída de Leite não muda a relação da oposição com o governo. "Nós fazemos oposição ao projeto neoliberal que eles sustentam e não aos governantes como indivíduos, que respeitamos e nos respeitam", diz.

No primeiro dia oficial como governador, o ruído do protesto do Cpers (sindicato de professores do estado) em frente ao Palácio Piratini, com fotos de Leite, cobrando reajuste salarial, chegava ao gabinete.

A presidente Helenir Schürer diz que já pediu audiência com Ranolfo e que espera diálogo aberto dele, como alguém que foi servidor público por muitos anos.

Lá dentro, o novo governador tocava conversas, focado na escolha dos novos secretários e cargos de segundo escalão que irão substituir quem deixou a gestão de olho nas eleições. Sobre sua própria candidatura, ele acredita que já está mais conhecido.

"Há uma semana, eu saía para almoçar, porque gosto de almoçar na rua, em restaurantes, encontrando as pessoas. Hoje, minha assessoria já está pedindo para evitar, porque todo mundo quer fazer selfie", diz.

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