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Lula cita guerra de Bolsonaro, esquece elo Salles-Alckmin e defende lei ambiental dura

Petista diz que não fará concessões na área; tema também foi alvo de críticas em gestões do PT

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São Paulo

O pré-candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu neste sábado (4) leis mais duras para combater a degradação do meio ambiente e afirmou que, se vencer a eleição, seu governo não fará concessões em temas de proteção de áreas demarcadas, como reservas indígenas e florestais.

Ao discorrer sobre o garimpo em terras indígenas, o petista também citou fala de Jair Bolsonaro (PL) de sexta-feira (3), quando o presidente falou em "ir à guerra" contra inimigos internos.

"Estamos brigando contra uma parcela da sociedade organizada de forma miliciana. Ontem mesmo no comício no Paraná, o Bolsonaro está dizendo: 'Nós vamos ter que ir para a guerra'. E eles não querem perder. Enfrentar garimpeiro é uma coisa complicada, porque a febre do ouro é uma coisa que faz o cidadão fazer qualquer coisa", afirmou Lula.

Lula participa de reunião para debater propostas para meio ambiente
Lula, ao lado de Alckmin, participa de reunião para debater propostas para o ambiente - Reprodução/Canal Lula no YouTube

A proteção ao ambiente é vista por especialistas como uma das principais áreas sob desmonte no governo Bolsonaro. Em governos do PT, porém, também houve fortes críticas à atuação federal, principalmente sob Dilma Rousseff (PT).

Ao pedir demissão do governo Lula em 2008, a então ministra Marina Silva também apontou uma série de problemas, incluindo a falta de apoio para levar adiante medidas duras de combate ao desmatamento na Amazônia.

Lula discursou neste sábado em encontro organizado pela sua pré-campanha para discutir temas de meio ambiente para seu programa de governo.

O pré-candidato petista disse que em muitos temas é preciso entrar em negociações políticas, mas que há pontos das pautas de preservação do meio ambiente e de proteção de comunidades indígenas nos quais não haverá concessões caso ele vença o pleito de outubro.

"Nesse negócio não tem meio-termo. A gente tem que ter coragem de dizer: não haverá garimpo em terra indígena neste país. Outra coisa: as terras que forem demarcadas como áreas de proteção ambiental terão que ser respeitadas. Não vai ter concessão", disse.

Lula aproveitou para elogiar a ex-senadora e ex-ministra de Meio Ambiente de seu governo Marina Silva (Rede), em momento em que busca o apoio dela.

"Acho que nós acertamos nos ministros. A Marina [Silva] foi uma extraordinária ministra. O [Carlos] Minc é um cara de muita qualidade. E depois a Izabella [Teixeira], que ganhou muita responsabilidade pela eficácia do trabalho dela."

A ex-senadora tem mágoas do PT em razão do pleito de 2014, quando se candidatou à Presidência e foi fortemente atacada pela campanha de Dilma. Ela deixou o PT em 2009.

Em seguida, Lula criticou o ex-ministro da área na gestão Bolsonaro, Ricardo Salles, que foi alçado a seu primeiro cargo de projeção por Geraldo Alckmin (PSB), seu vice na chapa à Presidência e que estava a seu lado durante o discurso. Salles foi secretário do Meio Ambiente em São Paulo no governo Alckmin.

"Aí depois aparece um tal de Salles, que ninguém sabe de onde veio, para onde foi. Um rapaz que eu achei que era até moderno, porque era todo moderninho, óculos cor-de-rosa, sabe? E depois o seguinte: o cara era um desmatador profissional. O Brasil não merece isso", afirmou Lula.

O líder petista defendeu também que órgãos de proteção ambiental esvaziados no governo Bolsonaro passem por um processo de recuperação e que leis mais rígidas sejam aprovadas para evitar a destruição do ambiente.

"O Estado precisa assumir responsabilidade. Então o ministério vai ter que ter mais gente, a fiscalização vai ter que ser mais forte, a gente vai ter que ter leis mais duras, sabe?"

Lula disse que é preciso adotar políticas alinhadas com estados e municípios nessa área.

"Eu fico imaginando nessas queimadas todas que a gente vê, eu lembro que a gente fica discutindo de quem é a culpa, se é do governo, se é do Ibama, se é do Estado. Não, é preciso chamar o prefeito da cidade onde está tendo a queimada, porque ele pode ser amigo do fazendeiro, ele pode ser o próprio fazendeiro.", afirmou.

"Se a gente não responsabilizar as pessoas, as pessoas vão falar: ‘Bom, está queimando na minha cidade, mas não é comigo’. Nós temos então que fazer com que o Estado recupere a relação federativa que nós já tivemos", completou.

Em seu discurso, o ex-presidente também fez um aceno ao setor do agronegócio.

"Ontem tive uma reunião com um empresário e ele me dizia: ‘Presidente, vocês têm que nos ajudar, têm que separar a gente que é produtor rural, que negocia com a União Europeia, com a China, com os Estados Unidos. A gente não quer ser misturado com esses caras que querem comprar armas, desmatar, fazer garimpo e matar índio’."

"Então vocês percebem que até do lado de lá tem gente que quer ganhar dinheiro, que é dono do agronegócio, mas tem responsabilidade", completou Lula, em mais uma estocada no campo político rival.

Na sexta-feira (3), Bolsonaro afirmou em entrevista à imprensa em Foz do Iguaçu (PR) que irá a debates eleitorais se Lula também comparecer.

O atual mandatário disse, porém, que ainda está analisando se participará. "Vou ver, isso é questão de estratégia. Nunca um presidente, que eu tenha conhecimento, participou do primeiro turno de debates."

Na terça-feira, Bolsonaro já havia afirmado que deve comparecer aos debates apenas no segundo turno das eleições. Ele relatou que evitará participar no primeiro turno por acreditar que receberá "pancada" de todos os candidatos sem ter tempo para se defender.

A campanha de Lula, por sua vez, deve propor aos adversários a realização de debates em pool de órgãos de imprensa, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos. Pela proposta, já defendida publicamente por ele, a ideia é que sejam dois debates no primeiro turno e um no segundo.

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