Alertas e teorias sem comprovação sobre fraudes ligadas a mesários explodem

Observador Folha/Quaest detectou mensagens mais compartilhadas; tema repercute na direita e na esquerda

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São Paulo

Narrativas conspiratórias e alertas sem comprovação sobre fraudes envolvendo mesários se alastram em grupos de conversa política com a aproximação do dia da eleição. Em grupos bolsonaristas, o tema tem sido uma constante, com parte das mensagens dizendo que os mesários seriam militares da esquerda.

Nos últimos dias, também começaram a circular teorias sem comprovação de que mesários pró-governo estariam se articulando para fraudar o sistema em suas sessões.

Eles estariam mobilizados para não registrar manualmente os eleitores no caderno de votação. Assim, o número de votos contabilizados nas urnas dessas sessões seria diferente do de assinaturas, com objetivo de gerar caos.

Ao todo, cada seção tem quatro mesários. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) divulgou uma nota dizendo que assinar o caderno que fica na mesa de cada sala de votação só é necessário quando o eleitor não tem biometria cadastrada ou quando a biometria não foi reconhecida.

O cenário das mensagens foi identificado pelo Observador Folha/Quaest, que monitora 465 grupos de públicos no Telegram e mais de 1.300 no WhatsApp, e em buscas nas principais redes sociais.

Urna eletrônica vista da lateral
Novo modelo de urna eletrõnica que será usado em parte das seções eleitorais - Rubens Cavallari/Folhapress

Os dois tipos de narrativa acontecem em um contexto em que se teme que o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) faça algum tipo de questionamento do resultado da eleição. Seu mandato foi marcado por uma profusão de mentiras sobre a urna, discursos de teor golpista e incentivo para que seus apoiadores se mobilizem em defesa da pátria e da "liberdade".

De acordo com o guia do mesário disponibilizado no site do TSE, o fluxo de votação começa com o eleitor apresentando documento oficial com foto ao mesário, que então deve digitar o número do título no terminal do mesário.

O eleitor é então identificado com ou sem biometria –nem todos os eleitores possuem biometria cadastrada. Caso a identificação não seja por biometria, ele deve assinar no caderno de votação

Finalizada esta etapa, o eleitor é habilitado para votar, e depois de ter votado, recebe seu documento de identificação de volta e o comprovante de votação.

A frase "TSE teme que tenha havido inscrição de combinada de mesários bolsonaristas" aparece em parte relevante de conteúdos compartilhados em redes sociais, como Facebook. Esse foi o título de um texto do portal Metrópoles na última semana, segundo a qual, técnicos do TSE teriam tal suspeita diante do recorde de inscrições de mesários.

O TSE apontou ainda que o crescimento de mesários voluntários não é fenômeno inédito. Apesar de o número total ser recorde em números absolutos, o crescimento de 2018 para 2020, foi maior de acordo com dados do tribunal.

Veja evolução de números de mesários voluntários, segundo dados do TSE

  • 2016

    1,8 milhão de mesários, sendo 360 mil (20%) voluntários

  • 2018

    1,9 milhão de mesários, sendo 433 mil (23%) voluntários

  • 2020

    1,6 milhão de mesários, sendo 680 mil (43%) voluntários

  • 2022

    1,8 milhão de mesários, sendo 862 mil (47%) voluntários

Entre bolsonaristas, há também uma corrente organizando grupos de Telegram por estado para envio de comprovantes de votação. O intuito alardeado seria fazer uma "contagem pública de votos" –no comprovante, porém, não há registro do candidato votado, trata-se apenas um comprovante de comparecimento. Os grupos afirmam que os eleitores devem escrever que votaram em Bolsonaro, expondo assim seus dados pessoais.

Em meio à campanha de desinformação sobre o processo eleitoral, o receio de violência política contra mesários inclusive ganhou força ao longo do ano. Cada sala de votação possui um presidente, dois mesários e um secretário de seção.

Entre as correntes mais disseminadas entre bolsonaristas, aparece uma mensagem dizendo que "corruptos dentro do TSE selecionaram militantes de esquerda para serem mesários na maioria das seções eleitorais para que assim, ajudem nas sabotagens" e que os corruptos pretendem recolher urnas nas regiões com mais eleitores de Bolsonaro, alegando "falhas" para assim reduzir o volume de votos dessas seções

A corrente alerta ainda que eles chequem a situação de seus títulos eleitorais, dizendo que "militantes dentro dos cartórios eleitorais" estariam "cancelando títulos de eleitores de Bolsonaro para que quando forem votar não consigam".

Por outro lado, tem sido compartilhado um áudio acompanhado da seguinte mensagem: "Nosso presidente corre o risco de perder milhões de votos. Escute o áudio até o final para entender porque você tem que votar rápido e não fazer confusão com o mesário".

Entre outras teorias, há também pessoas que dizem que se o eleitor bolsonarista for identificado de verde e amarelo, mesários atuariam para anular o voto. "O povo não deve vestir verde ou amarelo para não dar margem para identificar os eleitores". "Já tem alerta circulando no Zap a respeito."

Uma mentira recorrente, mas que não cita mesários, afirma que diretores de escolas viajaram para a Europa neste ano e participaram de um treinamento para fraudar as eleições.

"Europa corrompendo funcionários da era PT e PSDB? Coincidências? Pesquise se o diretor(a) da sua escola viajou para Europa esse ano de eleição", sugere. A teoria é que os diretores de colégios, onde acontecem votações, fraudariam o sistema, assim como teria ocorrido nos Estados Unidos.

Outra que diz que nem mesmo mesários perceberiam uma eventual fraude circula nos grupos há semanas. Sob a ordem de "urgentíssimo", relata que o ex-deputado federal petista Marco Maia, "depois de beber várias doses de caipira", teria "deixado escapar uma informação muito grave": o PL não estaria preocupado com a auditoria das urnas "pois a fraude já está toda arquitetada e será na totalização dos votos".

Os votos, segundo a tese fraudulenta, seriam contabilizados mas o resultado final sairia conforme as estimativas das pesquisas. "Desta vez a fraude não será apenas a nível presidencial, eles querem eleger a maior bancada no senado e na câmara federal em 5 partidos... PT, PSDB, MDB, PCdoB e PSOL será uma lavagem nunca antes vista".

Além das funções normais dos mesários este ano, o TSE definiu que o eleitor deve deixar seu celular com o mesário ao se dirigir para a cabine de votação. A medida aumenta o potencial de animosidade nas seções eleitorais.

Uma das mensagens mais virais dos últimos dias no Telegram sugere que ela teria sido escrita por um mesário e que diz: "se depender de mim, não pedirei o celular das pessoas". Ele sugere que os eleitores levem dois celulares e entreguem apenas um.

A alegação de bolsonaristas é que a proibição de telefones seria um impeditivo do TSE direcionado a apoiadores do presidente, que não conseguiriam tirar fotos das urnas "autocompletáveis" com o número 13 –uma das narrativas falsas disseminadas na época do pleito em 2018– ou pudessem tirar fotos de seus votos.

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