Bolsonaro explora classe média e rejeição ao PT para tentar recuperar Sudeste

Votos perdidos na região são maior problema do presidente, que dobra aposta em SP e RJ

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Brasília

A campanha de Jair Bolsonaro (PL) deve dobrar a aposta no Sudeste para tentar retomar o eleitorado que esteve com ele em 2018. A região é considerada o principal problema do presidente na briga pela reeleição, mas as pesquisas detectam sinais de uma recuperação nesses estados.

Bolsonaro teve 65% dos votos válidos no Sudeste ao encarar Fernando Haddad (PT) no segundo turno da última eleição. Agora, segundo o Datafolha, ele aparece com 45% na simulação de um embate direto com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem 55%.

Os números indicam que, em quatro anos, Bolsonaro perdeu uma frente de 13 milhões de votos sobre o PT na região mais populosa do país e passou a enfrentar uma desvantagem estimada em mais de 8 milhões de eleitores.

O presidente Jair Bolsonaro (PL)
O presidente Jair Bolsonaro (PL) - Sílvio Ávila/AFP

O comitê da reeleição deve ampliar a agenda de viagens do presidente no Sudeste e investir num processo de aumento da rejeição a Lula na região. Auxiliares de Bolsonaro acreditam que o debate da corrupção será útil nessa tarefa.

A situação do presidente nesses estados já foi pior. Até junho, o Datafolha registrava Lula com uma liderança de 61% a 39% na região.

Naquela época, aliados levaram a Bolsonaro uma série de pesquisas para redirecionar as prioridades da campanha. A ideia era reduzir o ritmo de viagens oficiais ao Nordeste para divulgar ações do governo e ampliar a presença no Sudeste.

Esses auxiliares argumentam que o presidente já superou o patamar de 30% que obteve em 2018 no Nordeste —atualmente, as intenções de voto em Bolsonaro no segundo turno representam 31% dos votos válidos da região.

Eles avaliam que o Auxílio Brasil tem condições de segurar esses votos no campo do presidente, ainda que considerem Lula um adversário mais difícil do que Haddad entre os eleitores nordestinos.

Bolsonaro também está próximo de resultados de 2018 no Norte, onde obteve 52% dos votos válidos no segundo turno e, agora, aparece com 45% no Datafolha.

Além do Sudeste, as maiores defasagens de Bolsonaro em relação a 2018 estão no Sul e no Centro-Oeste. Aliados acreditam que a reta final da campanha tende a fazer com que parte dos eleitores dessas duas regiões retorne ao presidente com alguma facilidade.

Com 42% do eleitorado, o Sudeste é visto pelo comitê da reeleição como um território essencial para compensar uma derrota certa no Nordeste, que concentra 27% dos votos do país.

Atualmente, a vantagem de Lula sobre Bolsonaro no Nordeste dá ao atual presidente um déficit estimado em 11 milhões de votos no segundo turno. Por isso, além de virar o jogo em outras regiões, ele precisaria abrir uma frente significativa no Sudeste.

Aliados de Bolsonaro admitem que não será possível repetir os números de 2018 na região, mas também reconhecem que, sem um bom resultado por ali, não será possível bater Lula.

A principal vantagem do petista na região se dá em Minas Gerais, onde o Datafolha registra Lula com 61% de intenção de votos válidos no segundo turno, contra 39% de Bolsonaro. Em 2018, o presidente venceu Haddad no estado por 58% a 42%.

Entre integrantes da campanha de Lula, Minas é considerado determinante para o ex-presidente. O estado pode somar ao Nordeste e anular uma eventual recuperação de Bolsonaro em São Paulo, Rio e outros estados do país.

Tanto petistas como aliados de Bolsonaro dizem que o atual presidente tem uma dificuldade em Minas pela ausência de um palanque forte na disputa local. Favorito na corrida pela reeleição ao governo mineiro, Romeu Zema (Novo) mantém certa distância do Palácio do Planalto.

Bolsonaristas acreditam que esse quadro não deve mudar antes de um eventual segundo turno.

Caso Zema se reeleja no primeiro turno, aliados do presidente tentarão reabrir negociações para obter o apoio do governador. Se ele tiver que enfrentar uma disputa direta com Alexandre Kalil (PSD), que faz dobradinha com Lula, a ideia é incentivar Zema a replicar a polarização nacional.

Os obstáculos em Minas levaram auxiliares de Bolsonaro a enxergarem um potencial de crescimento maior no Rio, sua base política antes de chegar ao Planalto, e em São Paulo.

A disputa deve se intensificar principalmente entre os paulistas. Em duas semanas, os números do Datafolha mostraram que o segundo turno entre Lula e Bolsonaro passou de 60% a 40% a favor do petista para 53% a 47%, ainda com vantagem para o ex-presidente.

Os dois candidatos vão dedicar mais atenção ao estado, que tem um estoque de votos capaz de afetar a balança de todo o Sudeste.

Apesar dos investimentos de peso em medidas direcionadas para os brasileiros de baixa renda, como o valor adicional pago aos beneficiários do Auxílio Brasil, outros grupos do eleitorado podem mexer nos ponteiros da disputa na região.

Nos últimos meses, Bolsonaro avançou entre os eleitores de faixas intermediárias de renda. Ele passou de 34% para 40% das intenções de voto no primeiro turno no grupo que recebe de dois a cinco salários mínimos por mês. Lula foi de 41% para 36%.

Nesse mesmo segmento, a rejeição ao petista subiu de 41% para 50% —fazendo com que ele empatasse com Bolsonaro nesse quesito.

Um dos principais articuladores políticos da campanha à reeleição, o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) cita duas razões principais para as variações observadas nesses grupos: fatores econômicos e o antipetismo.

"A recuperação do emprego e a queda da inflação influenciam mais no Sudeste do que em outras regiões", argumenta. Na região, cerca de 40% dos eleitores têm renda nessa faixa intermediária (para comparação, no Nordeste são apenas 22%).

Bolsonaro teve um bom desempenho nesse grupo de renda em 2018, mas uma grande fatia de eleitores se distanciou do presidente na pandemia.

Aliados de Bolsonaro atribuem esse afastamento à economia e à gestão da crise sanitária. Eles creem que a retomada do emprego e a rejeição ao PT podem ser suficientes para restabelecer aquele vínculo.

Com "foco total no Sudeste", Nogueira afirma que a campanha vai amplificar mensagens que vinculam Lula a suspeitas de corrupção. O objetivo é fazer com que a oposição ao petista reative uma conexão do eleitorado da região com Bolsonaro.

"É muito mais fácil recuperar quem já votou no presidente do que conquistar novos eleitores", argumenta.

O comitê de Lula também verificou esses sinais de uma disputa mais apertada no Sudeste, puxada por mudanças nos números da classe média. Os números apareceram em pesquisas internas apresentadas aos coordenadores da campanha petista na semana passada.

Aliados de Lula afirmam que os esforços de Bolsonaro para ampliar a rejeição ao ex-presidente são a explicação mais provável para essas variações, principalmente no estado de São Paulo.

Os petistas acreditam ser possível reduzir a aderência do tema da corrupção para evitar que Bolsonaro fique em vantagem na região. Além disso, destacam que manter uma vantagem ampla no Nordeste e conseguir uma vitória em Minas Gerais seria suficiente para eleger Lula.

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