Deputado que hostilizou Vera Magalhães vira alvo do conselho de ética da Assembleia de SP

Ao menos cinco representações contra Douglas Garcia chegaram ao órgão; partido pede explicações ao filiado

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São Paulo

Após ataques do deputado estadual Douglas Garcia (Republicanos) à jornalista Vera Magalhães, cresce na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) o movimento pela cassação do parlamentar.

A Alesp, em nota, afirmou que o conselho de ética vai apurar as denúncias em relação a Garcia, na esteira de ao menos cinco representações já oficializadas contra ele.

Bolsonarista, Garcia é candidato à Câmara dos Deputados.

Deputado estadual Douglas Garcia durante debate, onde hostilizou Vera Magalhães
Deputado estadual Douglas Garcia durante debate, onde hostilizou Vera Magalhães - Ronny Santos/Folhapress

"A Alesp não compactua e repudia condutas ofensivas e desrespeitosas, sempre prezando pelo respeito, diálogo e tolerância entre todos", diz a presidência da Alesp, em nota. O presidente da Casa, Carlão Pignatari, manifestou solidariedade a Vera e repudiou a atitude do colega.

"Pignatari reforça o seu compromisso e respaldo ao conselho de ética que, nesta gestão, tem cumprido com o seu dever e cumprirá mais uma vez", diz a nota.

A presidente do conselho de ética, Maria Lucia Amary (PSDB), afirmou ter recebido uma representação sobre o caso de Vera. "Estou imediatamente enviando para a autuação e notificação do deputado", escreveu.

Os deputados petistas Emídio de Souza e Paulo Fiorilo cobraram a cassação de Garcia. Em ofício enviado ao presidente da Casa, ambos afirmaram que se trata de quebra de decoro parlamentar. O ofício de ambos afirma que a atitude do parlamentar aviltou o respeito às mulheres.

Outra representação foi apresentada pela deputada estadual Patrícia Bezerra (PSDB), que vê motivos para cassação. Segundo a tucana, a atitude "revela desrespeito às mulheres, ataques à imprensa e, por conseguinte, à democracia". Para ela, o caso exige punição exemplar, por isso a necessidade de perda do mandato.

A deputada estadual Monica Seixas (PSOL) também entrou no conselho de ética com um pedido de cassação do bolsonarista. Ela sustenta que ele faltou com a ética e o decoro parlamentar ao ofender e intimidar a jornalista. Monica ressaltou o fato de o colega ter premeditado o ataque, conforme publicação dele próprio em rede social.

No documento, a psolista afirmou que Garcia é reincidente em episódios de violência de gênero, sendo "conhecido por atacar mulheres, sejam elas cisgênero ou transgênero". Segundo ela, o deputado, "além de intimidar, hostilizar e humilhar mulheres, ainda faz tais atos gravando lives e incentivando sua militância a hostilizá-las".

Há ainda uma representação contra o parlamentar assinada pela candidatura coletiva Bancada Feminista do PSOL, formada por cinco mulheres e que concorre a um mandato na Assembleia Legislativa. As autoras afirmam no pedido que a Casa precisa dar um basta à quebra de decoro e dizem que Garcia já deveria ter perdido o mandato em razão de denúncias anteriores.

Já há um processo no conselho de ética contra Garcia, que se arrasta desde 2020, que foi movido por Monica. O relator do caso era o Delegado Olim (PP), mas, em maio, ele foi redistribuído para Wellington Moura, colega de partido de Garcia.

Diante dos novos pedidos contra ele —sendo dois de autoria de petistas—, Garcia afirmou em uma rede social: "Recebo com tranquilidade mais uma representação do PT contra mim no conselho de ética da Alesp. Já perdi as contas de quantas foram, e ser processado e atacado pelo PT me orgulha. Diferentemente do PT e de sua cúpula, meus processos são por falar, e não por corrupção".

A reportagem procurou o deputado, que não respondeu.

O Republicanos, partido de Garcia, emitiu nota em que afirma que "não compactua com a forma como ele abordou a jornalista Vera Magalhães" e anunciou que pedirá esclarecimentos ao filiado.

"A conduta do partido, que preza pelo conservadorismo na sua essência, é sempre pela via do diálogo, do bom senso e do respeito aos demais partidos, às instituições e às pessoas. Isso foi deixado claro ao Douglas no ato da sua filiação no ano passado. Não reagimos com destempero às meias-verdades ou mentiras publicadas a nosso respeito. Ao contrário: procuramos sempre mostrar o outro lado ainda que ele seja muitas vezes ignorado. Nunca o partido agrediu de nenhuma maneira qualquer pessoa. Sendo assim, a Executiva Estadual do Republicanos de São Paulo irá convocar o deputado Douglas Garcia para dar suas explicações e avaliará eventuais medidas concretas a serem tomadas", diz a nota.

Em vídeo publicado nas redes sociais nesta quarta (14), Garcia disse que precisa pedir desculpas ao correligionário Tarcísio de Freitas, que concorre ao Governo de São Paulo, após agredir verbalmente a jornalista Vera Magalhães.

"Se é para eu pedir desculpas para alguém, não é para jornalista nenhum. Eu tenho que pedir desculpas para o Tarcísio", afirmou ele, que diz ter registrado um boletim de ocorrência contra a jornalista.

Vera foi atacada pelo deputado bolsonarista na noite desta terça (13), ao fim do debate entre candidatos ao Governo de São Paulo realizado pela TV Cultura, Folha e UOL.

Douglas Garcia acumula episódios de conflitos na Alesp e polêmicas na carreira política.

Em 2019, ele foi punido pelo conselho de ética com uma advertência verbal por ter dito que tiraria "no tapa" uma transexual que usasse o mesmo banheiro feminino que sua mãe ou sua irmã.

A fala foi feita em abril no plenário da Casa. A deputada Erica Malunguinho (PSOL), que é trans, o acusou de transfobia e entrou com um processo por quebra de decoro.

O deputado também é alvo de processos na Justiça movidos por pessoas listadas em uma lista que compila supostos antifascistas. Garcia afirma não ser o responsável pela elaboração e divulgação do dossiê.

Uma decisão de primeira instância condenou o deputado a pagar uma indenização de R$ 10 mil por danos morais a um rapaz citado em um dossiê que expôs dados pessoais de cerca de mil pessoas que se declaram contra o fascismo.

Ele também foi expulso do PSL após deliberação da Comissão de Ética, por participar de atos contrários à democracia e a instituições como o STF (Supremo Tribunal Federal). Bolsonarista, eles estavam em atrito com a direção regional do partido, que hoje se opunha ao presidente.

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