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Aliados de Bolsonaro comemoram bloco sobre corrupção; PT vê foco de Lula em indecisos

Petistas avaliam que Lula caiu em provocações sobre petrolão; presidente patinou sobre pandemia

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Brasília e São Paulo

A campanha de Jair Bolsonaro (PL) comemorou o fato de o presidente ter mantido um tom equilibrado durante o debate deste domingo (16) e o desempenho do mandatário no último bloco, em que a corrupção esteve no centro da discussão.

A equipe do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por sua vez, avaliou que o comportamento de Bolsonaro não muda a imagem já consolidada de parte expressiva do eleitorado em relação a ele: a de uma pessoa explosiva.

Os presidenciáveis participaram neste domingo do debate do segundo turno, promovido por Folha, UOL, Band e TV Cultura.

Bolsonaro terminou o primeiro turno da corrida eleitoral com 43,2% dos votos válidos, contra 48,43% do ex-chefe do Executivo.

Apesar de acharem que o saldo geral ainda foi positivo para Lula, aliados do petista avaliaram que o ex-presidente não conseguiu contornar as provocações de Bolsonaro sobre corrupção na Petrobras. Aliados disseram que Lula também falhou na gestão do tempo no terceiro bloco, o que deu oportunidade para Bolsonaro falar por mais de cinco minutos sozinho e sem contraponto.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) durante o debate neste domingo (16) - Marlene Bergamo/Folhapress

O entorno do chefe do Executivo comemorou justamente o fato de Lula ter se atrapalhado com o tempo no último bloco. Para interlocutores, Bolsonaro pautou o tema da corrupção e Lula não conseguiu responder de forma satisfatória.

"Temos um presidente que sabe o que está fazendo, equilibrado, no rumo certo. Do outro lado, [temos] um Lula com projeto ultrapassado, com governo marcado pela corrupção, querendo voltar ao poder", disse o ministro das Comunicações, Fábio Faria.

"Ficou muito claro no debate que o Lula saiu de si, ficou totalmente nervoso, descontrolado, se perdeu no tempo e nas palavras. Mostrou a serenidade do presidente [Bolsonaro]", completou.

Aliados de Lula reconheceram que o desempenho do petista poderia ter sido melhor no tema corrupção. O ex-presidente seguiu o que havia sido ensaiado, disse que os culpados pela corrupção na Petrobras foram punidos, que o PT não interferiu na investigação e que a Lava Jato resultou em perda de empregos e investimentos no país.

Lula não conseguiu redirecionar o debate para os escândalos envolvendo o governo Bolsonaro e a família dele.

Apesar do revés, a equipe petista considerou que Lula se saiu melhor no geral, inclusive em relação ao posicionamento em frente às câmeras.

Outro ponto destacado é que Lula, segundo eles, buscou tocar em temas voltados para eleitores indecisos ou aqueles que em 2 de outubro votaram em Simone Tebet (MDB) ou Ciro Gomes (PDT): negligência do governo na pandemia, economia, realização de grandes obras de infraestrutura e defesa das instituições.

Para o deputado federal José Guimarães (PT-CE), um dos coordenadores da campanha, "os temas introduzidos por Lula foram o centro do debate, como a pandemia, que não tinha sido tratada de forma aprofundada [no primeiro turno], e Bolsonaro se enrolou para falar sobre o orçamento secreto [mecanismo de distribuição de emendas para aliados políticos do governo]".

Integrantes da campanha de Bolsonaro admitem que, quando o tema é pandemia, o chefe do Executivo ainda patina nas suas respostas e tem dificuldade em mostrar empatia. A avaliação, contudo, é que o tema corrupção é mais relevante para conquistar o voto de indecisos.

Além disso, enquanto no debate na Band do primeiro turno Bolsonaro foi agressivo com a jornalista Vera Magalhães e protagonizou episódio amplamente explorado por seus adversários, neste domingo ele não cometeu grosserias com a profissional —o que foi celebrado por aliados.

A equipe do chefe do Executivo levou como convidado para o debate o ex-ministro da Justiça e senador eleito pelo Paraná, Sergio Moro (União Brasil). O objetivo, segundo integrantes da campanha, foi justamente provocar e desestabilizar Lula.

Ex-juiz da Lava Jato, Moro condenou Lula. Ele deixou o governo em 2020 acusando Bolsonaro de interferência na Polícia Federal, mas, durante a campanha, se reaproximou do presidente.

Após o primeiro turno, Moro ligou para Bolsonaro e manifestou o seu apoio.

De dentro do estúdio, o ex-juiz utilizou as suas redes sociais para rebater o que o petista falou no palco. "Cara de pau. A corrupção do governo Lula é que quebrou as empresas e quase quebrou a Petrobras", escreveu no Twitter.

Durante o último bloco do debate, Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil de Bolsonaro, disse que a eleição "finalmente chegou ao momento que era inevitável: falar da corrupção do PT".

"O leão que rugia…miou. Mudou de assunto. Falou até de carro, falou de tudo. Mudou de assunto. Mas a ferida aberta não vai curar jamais", afirmou o ex-aliado do governo petista, atualmente um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro.

Bolsonaro também levou para o estúdio o seu filho vereador Carlos Bolsonaro e o ex-secretário de Comunicação da Presidência e coordenador de comunicação da campanha, Fábio Wajngarten. Estavam ainda Ciro Nogueira e Fábio Faria.

Para a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), o presidente Bolsonaro não apresentou um projeto para o país. "Como ele não tem o que apresentar, programas de governo, ele faz ataque, mente".

A estratégia petista é responder com um discurso de que Lula tem um plano para tirar as pessoas da miséria e fazer a economia crescer.

O deputado eleito Guilherme Boulos (PSOL), um dos coordenadores da campanha de Lula em São Paulo, afirmou que o petista conseguiu trazer ao centro do debate "a agenda do Brasil".

"Ele fez um debate de forma tranquila e franca. Sobretudo no primeiro bloco conseguiu trazer a pauta que quem estava assistindo queria ouvir: sobre Brasil, comparando os dois governos", disse.

"Bolsonaro foge a todo momento desse debate de realizações, porque ele sabe que não tem nada a dizer."

A ex-ministra Marina Silva (Rede) disse que o debate é "difícil" porque Lula está lidando "com um adversário que não se pauta pela realidade". "É pelo delírio negacionista da cabeça dele", afirmou.

Ela criticou o momento em que Bolsonaro disse que o governo dele tem menos desmatamento em relação à gestão do petista. "Ele dizer que no governo dele tem menos desmatamento é porque ele está tergiversando com a realidade. Lula pegou o desmatamento num patamar altamente elevado e empurra para baixo. O Bolsonaro pega num patamar baixo e empurra para cima."

Segundo ela, um momento "bem alto" de Lula no debate foi quando o petista perguntou sobre universidades e escolas criadas no governo Bolsonaro. "E [Bolsonaro] não fez. Diz que quer proteger as crianças e os jovens e não tem compromisso com o futuro da juventude", afirmou.

Apesar de ter pautado a discussão político-eleitoral deste final de semana, a declaração do presidente sobre "pintou um clima" com meninas venezuelanas entrou apenas lateralmente no debate.

O presidente leu trechos da decisão do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, que determinou a retirada do ar de vídeos editados e tirados de contexto do chefe do Executivo.

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