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Dobradinha Lula-Tebet eleva tom contra Bolsonaro em cidade emblemática por facada

Petista fez caminhada com ex-presidenciável em cidade onde Bolsonaro sofreu ataque em 2018

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Juiz de Fora (MG)

A menos de 10 dias do segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de caminhada em Juiz de Fora, em Minas Gerais, na tarde desta sexta-feira (21), reforçou propostas que vem defendendo na economia e afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) irá investir em "mentiras" e em "propostas falsas" na reta final da campanha.

"Essa semana vocês vão ouvir muitas mentiras do nosso adversário, muitas promessas falsas. Ele vai propor fazer tudo o que não fez. Temos o dever e a obrigação de não acreditar", disse Lula.

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O ex-presidente Lula (PT) com Simone Tebet (MDB) em Juiz de Fora (MG) - Marlene Bergamo/Folhapress

Lula estava acompanhado da senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada no primeiro turno e apoiadora do ex-presidente na segunda rodada das eleições. As agendas em Minas Gerais são as primeiras que contam com a participação de Tebet.

A senadora é vista como um trunfo da campanha de Lula, uma vez que ela reforça a ideia que a campanha propala de que a candidatura do ex-presidente não está restrita ao PT ou à esquerda. Além disso, a equipe do petista tenta diminuir os índices de abstenção registrados no primeiro turno e atrair eleitores indecisos —e conta com a atuação de novos aliados que se somaram à campanha no segundo turno, como Tebet.

Na caminhada, Tebet afirmou aos apoiadores do petista que é preciso conversar com eleitores indecisos, que anularam ou votaram em branco e pediu que seus eleitores votem em Lula no segundo turno. "Quando encontrarem um mineiro ou uma mineira que votou em mim, digam a eles que agora eu sou 13. Quem votou em Simone vota em Lula no segundo turno."

Ela também subiu o tom das críticas que tem feito a Bolsonaro.

"Estou aqui para dizer a Bolsonaro: ‘você vai entrar para o lixo da história’", afirmou a senadora.

Tebet disse ainda que "quando Bolsonaro perder a faixa e o foro privilegiado" ele terá que dar explicações à Justiça e à sociedade. Ela citou denúncias de esquemas de rachadinha no gabinete de Bolsonaro e a compra de 51 imóveis em dinheiro vivo pela família do atual chefe do Executivo.

Além do simbolismo de ter Tebet ao seu lado nesta atividade, a agenda ocorre na cidade onde o então candidato à Presidência do PSL Jair Bolsonaro levou uma facada, em setembro de 2018.

A visita de Lula ao estado mineiro faz parte da estratégia da campanha de focar as agendas no Sudeste, que concentra 42,6% do eleitorado nacional. O petista participou mais cedo de caminhada em Teófilo Otoni e fará outra neste sábado (22) entre Belo Horizonte e Ribeirão das Neves.

Lula optou por não participar de debate presidencial promovido pelo SBT e outros veículos nesta sexta para privilegiar agendas de campanha.

Além disso, Minas Gerais é considerado um estado chave na disputa ao Palácio do Planalto. E tanto Lula quanto Bolsonaro estão investindo no estado na tentativa de aumentar suas votações.

Como a Folha mostrou, os dois candidatos têm reforçado a busca de apoio junto a prefeitos, intensificado a agenda de visitas ao interior e apostado na presença de novos aliados no palanque.

A atividade do petista ocorre três dias após Bolsonaro ter visitado o município onde perdeu a eleição para Lula por 52,62% a 38,41% dos votos válidos.

O presidente costuma dizer que a cidade é a sua segunda "terra natal", justamente por ser o local onde sofreu o atentado, e foi nela que o chefe do Executivo deu o pontapé inicial de sua campanha à reeleição neste ano.

Ele já cumpriu agendas no município outras duas vezes neste ano —sendo a mais recente na última terça-feira (18).

Esta é a segunda visita de Lula na cidade mineira neste ano. A primeira foi em maio, durante a pré-campanha. Naquela ocasião, um vídeo publicado nas redes sociais naquele dia mostrou um policial militar apontando arma a um grupo do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que esperava por Lula na cidade.

Desta vez, pouco antes das 14h, cerca de dez apoiadores do petista aguardavam a sua chegada. A reportagem viu ao menos três carros de apoiadores de Bolsonaro passarem pelo local e provocarem os apoiadores de Lula —um deles colocou o braço pra fora e com a mão fez um gesto de arma que atirava contra eles. Os apoiadores do ex-presidente responderam fazendo gestos de L com as mãos.

Nas atividades de campanha, a segurança de Lula é feita com membros da própria equipe do petista, militantes do MST que fazem um cordão de proteção no entorno do ex-presidente e integrantes da equipe da Polícia Federal que está atuando desde o início da campanha, em agosto.

A equipe da PF mobiliza cerca de 50 pessoas nas atividades, entre elas atiradores de elite que ficam posicionados em pontos estratégicos e um grupo tático para eventuais intervenções.

Além de Tebet, Lula estava acompanhado da caminhada nesta sexta da ex-ministra Marina Silva (Rede), do senador Alexandre Silveira (PSD), dos deputados André Janones (Avante) e Reginaldo Lopes (PT).

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice do petista, não participou —há uma expectativa que ele faça agendas solo no estado na próxima semana.

Lula percorreu o trajeto em cima de uma caminhonete sem proteção nas laterais e no teto. Ele acenou e cumprimentou apoiadores ao longo do ato. A caminhada, que começou por volta das 18h e teve duração de cerca de uma hora, foi embalada por jingles da campanha e por pequenas falas do ex-presidente e de seus aliados.

Apoiadores de Lula já se concentravam no local da caminhada desde às 15h —eles enfrentaram forte chuva.

Lula discursou ao final da caminhada. Ele reforçou propostas relacionadas à economia que ele vem defendendo ao longo da campanha, como o aumento do salário mínimo, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, a realização de uma reforma tributária "para que os ricos paguem mais e os pobres paguem menos" e a renegociação de dívidas. Ele também afirmou que não haverá privatizações da Petrobras e dos Correios.

Mais cedo, à imprensa, o petista disse que que a sua campanha não deve aceitar acordo proposto pelo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, para que a sua equipe e a de Bolsonaro negociem os direitos de resposta obtidos nas propagandas eleitorais e interrompam os ataques na TV.

Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, tentou costurar um acordo entre as campanhas.

Ele chamou os advogados tanto de Lula como de Bolsonaro para uma reunião na quinta (20) e propôs que ambos cessassem os ataques nas propagandas.

"Hoje falei com o advogado, ele ia conversar com o Alexandre de Moraes. Houve uma proposta de acordo e eu disse que não tem acordo. Se nós ganhamos 184 e perdemos 14. Ele que utilize os nossos 14 e nós utilizamos os 184 dele", disse Lula nesta sexta.

"Se a gente ganhar o direito de resposta, a gente vai aproveitar para falar coisa mais séria com o povo. O que vamos fazer com o salário mínimo, com o Imposto de Renda, com as pessoas endividadas. Esses são os assuntos que interessam ao nosso povo", completou.

À imprensa, Marina Silva disse que é "muito simbólico" o apoio dela e de Tebet à candidatura de Lula num momento em que "Bolsonaro tenta dividir o Brasil".

"Temos aqui duas mulheres. Uma da Amazônia, outra do Centro-Oeste. Uma que tem visão atualizada do que é agricultura e uma que tem visão atualizada do que é o meio ambiente. Uma mulher preta e uma mulher branca. Uma mulher católica e uma evangélica. Para dizer que esse Brasil cindido que o Bolsonaro quer impor, até mesmo dentro das igrejas, não vai prevalecer."

Desde 1989, Minas Gerais mantém a tradição de refletir os resultados nacionais da corrida presidencial, o que o faz ser considerado uma espécie de termômetro das eleições.

No primeiro turno, Lula teve 48,43% dos votos dos eleitores brasileiros, contra 43,20% de Bolsonaro. Entre os mineiros, esses índices foram de 48,29% e 43,60%, respectivamente.

Aliados de Lula afirmam que agendas em Minas Gerais também são importantes na tentativa de diminuir os índices de abstenção. No primeiro turno, nacionalmente, o índice registrado foi de 20,95% --em Minas, 22,28%.

"A média de abstenção nas regiões onde tivemos larga vantagem de votos foi maior que a média estadual. Temos a avaliação que são votos nossos de pessoas que, principalmente, tiveram dificuldade de se locomover no dia da votação", diz à Folha o senador Alexandre Silveira (PSD).

Silveira diz ainda que um dos desafios da campanha é justamente atrair o voto dos indecisos. Para ele, é preciso insistir na estratégia de desmentir notícias falsas propagadas por Bolsonaro e seus aliados, como a que Lula irá fechar igrejas ou fará banheiros unissex caso eleito.

"É a campanha ardilosa do bem contra o mal que Bolsonaro armou o tempo todo para chegar na campanha tentando ludibriar a consciência popular", diz o senador.

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