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Doria diz que discorda do apoio de Rodrigo a Bolsonaro e que não tem culpa por derrota do PSDB

Ex-governador de São Paulo afirmou que vai anular o voto para presidente e para governador

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São Paulo

O ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB) afirmou à Folha que discorda do apoio do atual governador, Rodrigo Garcia (PSDB), a Jair Bolsonaro (PL) e Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas evitou criticar seu aliado e antecessor.

Rodrigo, que foi vice-governador e secretário de Governo na gestão Doria, foi filiado ao PSDB pelo ex-governador, em maio de 2021, justamente para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes.

Após terminar em terceiro lugar, numa derrota histórica para o PSDB, ele declarou "apoio incondicional", nesta terça (4), aos bolsonaristas que enfrentarão Fernando Haddad (PT) e Lula (PT) no segundo turno.

Doria afirmou que votará nulo e se manterá neutro na escolha entre Lula e Bolsonaro e também entre Haddad e Tarcísio. Ele cobrou que Lula e Bolsonaro apresentem suas propostas de governo.

João Doria (PSDB) ao votar no primeiro turno, no domingo (2) - Zanone Fraissat/Folhapress

Em 2018, o ex-governador apoiou Bolsonaro, o que lhe deu força eleitoral para vencer o pleito estadual.

A pandemia e a defesa da democracia, no entanto, fizeram com que Doria rompesse com Bolsonaro. O então governador paulista se tornou uma das principais vozes de oposição ao presidente.

"Respeito a posição do Rodrigo, mas essa não é a minha posição. Embora eu discorde, não me sinto à vontade para criticar, ele tem sua autonomia", disse Doria.

Questionado sobre sentir-se responsável pela derrota do PSDB em São Paulo, já que patrocinou a candidatura de Rodrigo, Doria afirmou que não participou da campanha do aliado. "Não [me sinto responsável]. Respeitei a autonomia do Rodrigo como governador e candidato, não tive nenhuma interferência."

Doria afirmou ainda que não faz sentido atribuir a ele a crise no PSDB e o encolhimento do partido nesta eleição. Tucanos ouvidos pela reportagem afirmam que o fiasco deste ano tem a ver com as brigas internas que envolveram Doria e também a rejeição do ex-governador junto ao eleitor.

O ex-governador, porém, listou seu legado no governo, da vacina à criação de empregos, para afirmar que uma derrocada do PSDB não poderia cair na sua conta.

Doria ainda lamentou a radicalização da polarização no país e afirmou que Lula e Bolsonaro ainda não apresentaram seus programas econômicos e sociais para orientar a escolha do eleitor.

O que espera no segundo turno? Espero que o segundo turno seja em paz, como foi o primeiro turno. Sem confrontações, sem ameaças, sem briga. Na democracia, você tem que respeitar o direito de cada um.

Nas últimas eleições, o sr. foi candidato. Como foi acompanhar como expectador dessa vez? Mesmo quando candidato, eu era cidadão, brasileiro. Eu agora não sou candidato, mas continuo cidadão e brasileiro. Eu amo meu país. Quero o bem do Brasil. Eu não saio do Brasil. Eu não desejo o pior a ninguém e muito menos ao meu país.

O sr. disse que votará nulo entre Lula e Bolsonaro. Acha que um é menos pior que outro? Ou são iguais? Eu preferiria afirmar que gostaria de conhecer a proposta de governo do presidente Lula caso eleito e do presidente Bolsonaro caso eleito. Até o presente momento nem um nem outro apresentou suas propostas para o governo —propostas econômicas, ambientais, sociais, educacionais, para a saúde e para a diminuição da pobreza e do desemprego.

São colocações [de propostas] muito pontuais e muito superficiais, que não são suficientes para um país diante da crise de pobreza e de miséria que assola quase 30 milhões de brasileiros.

O sr. era candidato à Presidência e desistiu em maio. Acha que teria tido uma votação melhor do que os candidatos da terceira via ou a polarização realmente impediria um resultado melhor? Não me sinto à vontade para fazer esse comentário, não sou capaz de uma volta ao passado. Nesse momento cabe avaliação sobre o presente e futuro. O que passou passou.

O PSDB teve o pior resultado da sua história nesta eleição. Muitos tucanos atribuem esse resultado ao sr., dizendo que o sr. dividiu o partido e que sua candidatura não era viável. Qual é o diagnóstico que o sr. faz? Isso não faz o menor sentido. Eu fui eleito com 11,5 milhões de votos. No meu governo, a economia de São Paulo cresceu cinco vezes mais que a do Brasil. Meu governo trouxe 124 milhões de doses da vacina, que salvou milhões de brasileiros. Fizemos 2.000 escolas de tempo integral. Fizemos a maior bancada de deputados estaduais da história da Assembleia Legislativa de São Paulo. Fizemos 300 prefeitos do PSDB.

Como dividir? Dividir o quê? Eu sustentei o PSDB como governador do Estado de São Paulo, o maior estado do país, com a vitória que foi possível em 2018 e com o governo eficiente, transformador e honesto. Aqui se respeitou o dinheiro público. Salvamos vidas e empregos.

Mas a que atribui o resultado na eleição? A mim é que não é. Não faz o menor sentido. Alguém que foi vitorioso e que fez um bom governo vai ser culpado pelas falhas, omissões e equívocos do PSDB?

Quais são as falhas, omissões e equívocos do PSDB? Eu não sou analista do PSDB, não cabe a mim fazer essa análise. Eu não sou da executiva do partido. Hoje não estou na política. Não quero ser comentarista do PSDB.

Como fiador do Rodrigo, já que o sr. filiou ele ao PSDB para concorrer, apostou nele como vice e secretário, se sente responsável pela derrota dele em São Paulo? Ele não foi ao segundo turno num estado governado pelo PSDB desde 1995. Não. Eu não tive nenhuma participação na campanha e nunca me queixei disso. Respeitei a autonomia do Rodrigo Garcia como governador e como candidato.

Não tive nenhuma interferência, sugestão, recomendação ou censura a qualquer ato, atitude, programa e ação feita pelo Rodrigo nesse período. A ele conferi autoridade plena para definir e aprovar seus atos de campanha.

Votei no Rodrigo, continuo amigo do Rodrigo e continuo a gostar dele.

Como viu o apoio do Rodrigo a Tarcísio e Bolsonaro, sendo que Tarcísio disse que não faz sentido um palanque com o PSDB? Lembrando também o que foram esses anos do sr. no governo, em que não havia interlocução com o governo federal, o que prejudicou obras, além da questão da vacina e da pandemia. Sem discordar da introdução da pergunta, mas a minha posição é outra. Eu respeito a posição do Rodrigo. Mas essa não é a minha posição. Embora eu discorde, eu não me sinto à vontade para criticar o Rodrigo, que tem autonomia plena. Mas eu pessoalmente tenho uma visão diferente. Por isso, tenho deixado claro que a minha posição é pela neutralidade, meu voto será nulo no nível federal e estadual.

Pretende sair do PSDB? Nem sequer pensei nisso. Minha preocupação não é minha posição em relação ao partido, é o Brasil. Minha preocupação é que possa haver um compromisso com o país. Depois das eleições, vou fazer essa análise.

Neste momento, minha preocupação é que os dois candidatos manifestem clara e objetivamente quais são seus programas econômicos e sociais para o Brasil, o que não foi feito no primeiro turno.

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