Nas periferias de SP, eleitores apontam até uma hora de espera por ônibus em dia de passe livre

Reportagem presenciou longas filas nos terminais João Dias e Jardim Ângela, na zona sul da capital paulista; SPTrans diz que não faltou coletivo em nenhuma região

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Agência Mural

A gratuidade do transporte público em cidades da Grande São Paulo neste domingo (30) de eleições foi comemorada por moradores das periferias, mas houve reclamação por demora e lotação nos ônibus em algumas regiões. O trânsito, menor que o registrado no primeiro turno, também atrapalhou a locomoção em alguns bairros durante o passe livre.

Na capital paulista, eleitores levaram até uma hora para a chegada de algumas linhas.

"Demorei uma hora para embarcar. Tinha uma senhora no ponto há duas horas", conta a jornalista Taynara Carmo, 28, moradora de Cidade Ademar, na zona sul de São Paulo.

A reportagem da Agência Mural presenciou longas filas nos terminais João Dias e Jardim Ângela, na zona sul, de onde partem linhas para outras regiões da cidade, como Jardim São Luís e Capão Redondo.

Pessoas em fila embarcam em ônibus com o letreiro Valo Velho
Fila para ônibus neste domingo (30) de eleições, com passe livre, na Chácara Santa Maria, na zona sul de São Paulo - Karime Xavier/Folhapress

No Campo Limpo, a reportagem levou mais de duas horas para fazer o trajeto entre os bairros de Jardim Macedônia e Jardim Ângela por causa do trânsito e da demora dos ônibus. O mesmo trajeto costuma levar uma hora em um dia usual.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da SPTrans, afirmou que não faltou ônibus em nenhuma região da cidade e que 100% dos coletivos anunciados estão nas ruas neste domingo (30). A frota do transporte público, segundo a gestão municipal, foi reforçada e contou com cerca de 2.000 ônibus a mais para facilitar o deslocamento dos eleitores.

A SPTrans projetou a circulação de 3,3 milhões de passageiros —40% a mais que o normal para o dia. A Secretaria de Transportes Metropolitanos disse, porém, que o balanço do número de passageiros atendidos será divulgado apenas nesta segunda (31).

A administração municipal afirmou que a medida custará R$ 7 milhões aos cofres públicos —para o estado, R$ 11,5 milhões.

Já em terminais de ônibus municipais e estações de trem e metrô no centro expandido de São Paulo o movimento foi acima do normal para um domingo, mas nada que tenha provocado incômodo ou reclamação.

Em Osasco, na região metropolitana, filas de espera foram formadas em plataformas do terminal no centro da cidade.

A atendente Cristina de Luca, 53, esperava há mais de 30 minutos por um ônibus para ir votar. "Está pior [em relação aos outros domingos]. Pego aqui sempre, é demorado, mas hoje está o dobro [do tempo]", afirmou.

A atendente de telemarketing Alice Oliveira, 27, também estava esperando o transporte para ir à seção eleitoral em Osasco. Ela estava no centro de São Paulo e utilizou um ônibus intermunicipal, o metrô e um trem.

Segundo a eleitora, os outros transportes "estavam tranquilos", mas a espera pelo ônibus foi pior. "O ônibus em Osasco normalmente já é complicado por si só, além da passagem ser mais cara do que em São Paulo", conta, se referindo ao preço de R$ 5 no município, ante R$ 4,40 da capital paulista.

Apesar dos problemas, a gratuidade foi celebrada por eleitores. Moradora da Cidade Líder, na zona leste da capital, Andressa dos Santos, 22, disse que só pôde votar por causa do passe livre.

"Achei muito bom, porque, se não fosse isso, eu não iria votar, não tenho condições de vir. Tenho três filhos pequenos, mas como soube do transporte gratuito vim e deixei meus filhos com meu pai e já vou aproveitar para sair depois", contou.

A medida visa reduzir a abstenção neste segundo turno e tem o respaldo do STF (Supremo Tribunal Federal), que autorizou as prefeituras a oferecer a gratuidade sem risco de serem punidas por improbidade administrativa.

O tatuador Rafael Silveira Rocha, 34, disse que a gratuidade foi a "melhor coisa" que poderiam ter feito, já que o preço atual da passagem é caro para muitos eleitores.

Morador do bairro Jardim da Conquista, na zona leste, ele votou em outro bairro do distrito de São Mateus e disse que o preço da tarifa pesou no primeiro turno.

"No primeiro turno, falei: ‘Vou ter que pagar condução para ir, tô sem o Bilhete [Único] e vou ter que pagar de novo para voltar, aí já são quase R$ 10’", lembrou.

O frentista Valdomiro Soares dos Santos, 48, que vota em São Mateus, também comemorou a economia. "Venho de Guaianases [zona leste] e preciso pegar duas conduções porque não tem uma [linha] direta. Para mim facilitou bastante", disse.

A gratuidade no transporte foi aproveitada por moradores também para realizar outras atividades. A operadora de caixa Ana Claudia Barbosa, 45, decidiu levar o filho ao Sesc Interlagos neste domingo. Ela defendeu a medida que isentou os moradores da capital de pagar pela tarifa.

"Já devia ter tido isso [a gratuidade] desde o primeiro turno. É uma opção para quem não tem condições e eu achei muito bom", afirmou.

Morador do Parque Arariba, no Campo Limpo, o casal Daniel Rodrigues, 22, e Lígia Maria, 35, votou no próprio bairro e aproveitou a isenção da tarifa para levar os três filhos à casa da avó no Jardim São Luís. Com a gratuidade, a família economizou R$ 17.

Para Lígia, a medida permitiu que as pessoas, além de exercerem o direito ao voto, pudessem também ter direito ao lazer.

"Muita gente deixa de passear porque não tem dinheiro da condução", concluiu a auxiliar de serviços gerais.

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