Descrição de chapéu Eleições 2022 Livros

Novo livro analisa momentos decisivos da trajetória do PT; leia trechos

Obra do sociólogo Celso Rocha de Barros, colunista da Folha, chega às livrarias nesta sexta (14)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

O livro "PT, uma história", escrito pelo sociólogo Celso Rocha de Barros, colunista da Folha, analisa a trajetória do partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde as suas origens, na fase derradeira da ditadura militar (1964-1985), até os dias atuais.

O trabalho, que chega às livrarias nesta sexta (14), defende a união do PT com partidos de centro se Lula vencer Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição presidencial. Os trechos reunidos aqui discutem alguns dos momentos decisivos da história do partido.

0
O governador do Rio de Janeiro, Leonel Brizola, o deputado federal Ulysses Guimarães, o governador de Minas Gerais, Tancredo Neves, e o senador Fernando Henrique Cardoso na campanha das Diretas Já, em 1984 - Matuiti Mayezo - 16.abr.1984/Folhapress

Diretas Já e eleição de Tancredo Neves em 1985

"Continuar com os comícios era puxar a transição para a esquerda. Não votar em Tancredo —por mais que o PT estivesse coberto de razão na defesa das Diretas— transmitia uma mensagem completamente diferente. As esperanças criadas pelos atos não se transformaram na frustração que os petistas queriam expressar com sua abstenção. Viraram esperança em Tancredo, a quem o PT parecia fazer oposição.

Constituinte

"No finalzinho do processo da Constituinte, o PT tomou uma daquelas decisões que visam sinalizar pureza, mas que só indicam sectarismo. Diferente do que a direita às vezes afirma, os constituintes petistas assinaram a Constituição de 1988, mas antes votaram contra o texto que havia sobrevivido à contraofensiva do Centrão. [...] o voto contra deu a impressão de que o partido se opunha ao documento que marcava a volta da democracia ao Brasil."

Relações com movimento negro

"A relação do PT com o movimento negro sempre foi mais difícil do que com os movimentos sindical, feminista ou ambiental. O partido sempre foi militantemente antirracista, participou das campanhas contra o apartheid, votou com o movimento negro sempre que pôde no Congresso e [...] foi o partido escolhido pela maioria dos militantes do Movimento Negro Unificado após a reforma partidária. Entretanto, poucos militantes negros chegaram a postos de destaque no partido por serem militantes negros."

Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva no último debate do segundo turno da eleição presidencial de 1989, mediado pelo jornalista Boris Casoy, na TV Bandeirantes - Vidal Cavalcante - 14.dez.1989/Folhapress

Eleição de 1989

"A tristeza dos petistas no dia da derrota [para Fernando Collor] foi devastadora e demorou para passar. No entanto, hoje vários dos dirigentes do partido, a começar por Lula, admitem que foi bom ter perdido. Por mais que o petista sinalizasse nos bastidores que abriria negociações políticas mais amplas se vencesse, o partido ainda era muito radical."

Eleição de 1994

"A vitória de Fernando Henrique Cardoso em 1994 foi, por larga margem, a mais indiscutível, limpa e baseada em resultados concretos oferecidos aos trabalhadores brasileiros da história de uma coalizão de centro-direita no Brasil. Não foi um golpe de marketing como Collor, um estelionato eleitoral como a reeleição de FHC [em 1998] ou um sinal de crise da democracia como a vitória de Bolsonaro em 2018. A aliança comandada por FHC mereceu vencer em 1994."

Reforma da Previdência

"[...] o partido optou por se opor por completo à reforma da Previdência. Ela acabou custando a Fernando Henrique Cardoso um desgaste político enorme, e a versão aprovada foi muito menos ambiciosa do que o governo queria. Os ganhos políticos imediatos para o PT eram evidentes, mas uma crise foi encomendada. Quando Lula foi eleito, aprovou sua própria reforma, que era mesmo necessária."

Eleição de 2002

"Em 2002, a esquerda pôde concorrer, ganhou e levou. Um filho de imigrantes nordestinos pobres se elegeu presidente da República por um partido de massas que ele mesmo ajudou a fundar, por fora do Estado. Se consideramos que a alternância no poder é fundamental em uma democracia, só em 2002 foi possível ter a certeza de que o Brasil tinha um regime democrático."

Avanços sociais nos governos do PT

"Nada disso foi feito com sacrifício dos ricos. Os pobres chegaram nas universidades ao mesmo tempo que o número de vagas crescia. Os programas sociais de Lula eram baratos e não foram sustentados por impostos mais progressivos. A proporção da renda brasileira concentrada na mão dos 1% mais ricos continuou estável durante os governos do PT. Mas a parte de baixo da distribuição de renda se aproximou do centro: os pobres começaram a tirar a enorme distância que os separava da classe média tradicional."

Aliança com partidos da direita

"[Roberto] Jefferson considerava os petistas radicais, moralistas e hipócritas. Em seu livro de memórias, escrito em 2006, Jefferson escreveu que a decisão de apoiar o PT lhe deu vontade de vomitar. O sentimento era mútuo: um dos principais ministros de Lula conta que, na primeira vez que teve que apertar a mão de Jefferson como aliado, sentiu 'um mal-estar físico'."

Dilma Rousseff e a economia

"Desde o início, as cartas que Dilma tinha na mão para jogar na área econômica eram muito ruins. Para tentar evitar uma desaceleração, Dilma recorreu a um dos instrumentos anticrise que haviam sobrado, as desonerações. As desonerações eram a solução errada, e foram utilizadas muito além do que seria justificável, tornando a situação ainda pior. Daí em diante, as decisões econômicas até a eleição de 2014 foram uma sequência de improvisos cada vez piores."

Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia em que ela foi reeleita presidente, em 2014 - Pedro Ladeira - 26-out-2014/Folhapress

Relação de Lula com Dilma

"Em 2014, as relações entre Lula e Dilma eram péssimas: o Instituto Lula havia se tornado centro de peregrinação de empresários e aliados do PT insatisfeitos com a presidente. 'Antes a gente reclamava e o Lula pedia calma com a Dilma; naquele momento, era a gente que tinha que pedir calma para o Lula', diz um ex-ministro dos dois presidentes."

O PT e a corrupção

"[...] o PT aceitou as regras do jogo político brasileiro, em que campanhas eleitorais e aliados eram pagos com dinheiro desviado dos cofres públicos. Seu estatismo econômico pode ter tornado o problema de corrupção preexistente ainda mais grave: com a concentração dos investimentos na mão do Estado, houve mais recursos para os corruptos de sempre desviarem."

Eleição de 2022 e papel do PT

"Hoje não há ninguém entre o Partido dos Trabalhadores e a direita radical. Quem tem que conquistar o apoio do empresariado à democracia é o PT, quem terá que fazer alianças com o equivalente do velho PFL é o PT, quem vai ser vidraça para os movimentos sociais é o PT. [...] Por ser o único dos grandes partidos da Nova República ainda de pé, o PT precisa assumir a reconstrução pós-Bolsonaro, e isso quer dizer construir uma coalizão de governo com forte presença do centro."

PT, uma história

  • Preço R$ 94,90
  • Autor Celso Rocha de Barros
  • Editora Companhia das Letras

Haverá dois eventos de lançamento com a presença do autor. Na terça-feira (18), em São Paulo, na Livraria da Travessa (Rua dos Pinheiros, 513), a partir das 19h. No dia 24, no Rio de Janeiro, na Livraria da Travessa (Rua Visconde de Pirajá, 572), às 19h.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.