Descrição de chapéu Eleições 2022

Corrida à Prefeitura de SP já tem Boulos, Tabata, Nunes e disputa entre bolsonaristas

Na esquerda, PT e PSOL defendem manter unidade, mas PSB deve lançar deputada; Salles e Zambelli duelam por vaga

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São Paulo

Na noite de domingo (30), depois de perder o Governo de São Paulo para Tarcísio de Freitas (Republicanos), Fernando Haddad (PT) "inaugurou" a disputa pela prefeitura da capital ao reiterar o apoio do PT a Guilherme Boulos (PSOL) na eleição municipal de 2024.

Dois anos antes do pleito, partidos e candidatos começam a desenhar suas estratégias e alianças com base na herança da eleição de 2022, num cenário que tem hoje ao menos quatro nomes de destaque: Ricardo Salles (PL), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB) e Boulos.

Na montagem, Boulos, Tabata, Nunes, Salles e Zambelli
Na montagem, possíveis candidatos à Prefeitura de São Paulo em 2024: Guilherme Boulos (PSOL), Tabata Amaral (PSB), Ricardo Nunes (MDB), Ricardo Salles (PL) e Carla Zambelli (PL) - Folhapress

Amargando a terceira derrota consecutiva nas urnas, Haddad, que foi prefeito da capital de 2013 a 2016, procurava listar saldos positivos da sua experiência quando acenou a Boulos ao afirmar que venceu na capital –onde a esquerda perdeu em 2016, 2018 e 2020.

"Boulos, vai se animando aí porque, na capital, eu tive praticamente a mesma votação, em termos percentuais, quando venci José Serra [PSDB], em 2012. Isso é muito significativo, porque eu tenho um amor profundo por essa cidade e fiquei tão feliz de ver o mapa da capital todo vermelhinho", disse Haddad.

Em 2012, o petista venceu o tucano por 55,57% a 44,43% dos votos válidos. Neste ano, Haddad ficou à frente de Tarcísio na capital, com 54,41% a 45,59%. Há dois anos, Bruno Covas (PSDB) venceu Boulos, por 59,38% a 40,62%, e se reelegeu prefeito. Seu vice, Nunes, que assumiu após a morte de Covas, buscará a reeleição em 2024.

O acordo entre PT e PSOL para 2024 é consequência direta do pleito de 2022, em que Haddad conseguiu unificar a esquerda em torno da sua candidatura já no primeiro turno. Evitar a fragmentação e construir uma aliança que de preferência fure a bolha eram as chaves do PT para eleição paulista e também para a de Lula (PT), que derrotou Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Planalto.

O PSOL aceitou retirar a candidatura de Boulos ao Governo de São Paulo e apoiar Haddad em troca de apoio do PT na eleição de 2024.

Em 2020, o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) teve como concorrentes do campo progressista, no primeiro turno, Jilmar Tatto (PT), Márcio França (PSB), Orlando Silva (PC do B) e Marina Helou (Rede) –nomes e partidos que se uniram com Haddad desta vez.

Na opinião de petistas, a reconquista da capital é um trunfo e dá chance para a esquerda recuperar a administração paulistana –que já foi do PT com Haddad, Marta Suplicy e Luiza Erundina (PSOL).

Por outro lado, ponderam que o desafio é grande e que será preciso esforço para não retroceder em apenas dois anos. A preferência, dizem, é que a esquerda mantenha unida a frente pró-Haddad e abrace Boulos.

Os políticos da esquerda ponderam, entretanto, que não é hora de se ocupar com a eleição municipal –a posse de Lula e a governabilidade do petista são prioridades. Até porque uma vitória desse campo na capital também depende de que o governo federal vá bem.

Integrantes do PSOL encampam a tese petista pela unidade. "Vamos dialogar com os partidos, respeitando sua autonomia e suas figuras", afirma Boulos.

As federações, uma novidade deste pleito que possibilitou a união de PSOL-Rede e PT-PV-PC do B, já garantem uma frente de cinco partidos para Boulos.

O centro da discórdia é o PSB –petistas e psolistas estão se dirigindo à sigla quando falam em diálogo e unidade. O partido deve lançar Tabata, que já assumiu o diretório municipal da legenda com esse objetivo.

Reeleita deputada federal, Tabata se engajou na campanha de Haddad e de Lula. De acordo com aliados da deputada, não houve mal-estar com Haddad pela sinalização a Boulos depois de todo o trabalho da pessebista na campanha petista, já que o apoio do PT ao PSOL já era público desde antes do pleito.

Enquanto aliados de Boulos falam em tentar atrair o PSB, o entorno de Tabata elenca razões para que ela seja candidata em 2024. Para eles, não há problema que os progressistas se dividam em duas candidaturas numa eleição de dois turnos –repetir a união seria desejável, mas não é regra geral.

A disputa na esquerda se dará entre dois campeões de votos. Boulos foi o deputado federal eleito mais bem votado em São Paulo, com pouco mais de 1 milhão de eleitores. Tabata ocupa o sexto lugar, com 338 mil. Em 2018, ela também foi a sexta mais votada do estado, com 264 mil.

Integrantes da cúpula do PSB dizem que a decisão de concorrer cabe a Tabata, mas a veem preparada e credenciada pelo aumento de sua votação. Além disso, acreditam que sua rejeição é menor do que a de Boulos.

A leitura no PSB é a de que Tabata teria uma candidatura mais ampla, de centro-esquerda, podendo atrair siglas como PDT e até PSDB-Cidadania e Podemos.

Na direita, também há fragmentação entre Nunes, que representa partidos mais tradicionais desse campo, e os bolsonaristas, que ensaiam uma candidatura própria com Salles ou outro nome.

Na tentativa de reeleição, o prefeito quer manter o amplo arco de partidos de direita e de centro que elegeram Covas em 2020 –PSDB, PP, PL e Podemos entre os principais, além do que hoje seria a União Brasil. Na época, Republicanos e PSL apoiaram o tucano no segundo turno.

Mas o contexto agora é outro. PL, Republicanos e PP são partidos de sustentação do bolsonarismo, que demonstrou força nas urnas. Nesta eleição, Nunes acenou para o bloco ao apoiar Tarcísio e Bolsonaro, esperando reciprocidade daqui a dois anos.

Partido de Tarcísio, o Republicanos lançou o deputado Celso Russomanno para a prefeitura em três pleitos seguidos —ele derreteu em todos. De acordo com o presidente da sigla, Marcos Pereira, já está acertado que a legenda não lançará o deputado novamente em 2024.

Atualmente, o Republicanos integra a gestão de Nunes com o comando da secretaria de Habitação.

Deputados bolsonaristas argumentam a favor de lançar um representante genuíno desse campo em 2024 e pleiteiam que Tarcísio e seu partido endossem o nome bolsonarista em vez de Nunes. Em 2020, Bolsonaro apoiou Russomanno, que não foi bem recebido na base fanática do presidente.

A avaliação de deputados bolsonaristas é a de que a aliança entre Tarcísio e Nunes não tem necessariamente que se repetir em 2024. Eles pregam que um nome mais próximo de Bolsonaro terá mais chances contra Boulos, além de criticarem a gestão do atual prefeito.

Interlocutores do prefeito trabalham com a hipótese de um rival bolsonarista no pleito, mas afirmam que a eleição está distante e que o foco atual é a gestão da cidade. Adversários de Nunes ponderam que sua força está na máquina pública a seu favor.

Entre os bolsonaristas, Carla Zambelli (PL) também é cotada. A deputada, no entanto, diz não considerar essa possibilidade, enquanto Salles já sinalizou que toparia concorrer. O episódio em que Zambelli perseguiu um apoiador do PT com uma arma apontada pelas ruas de um bairro nobre da capital também colaborou para que seu nome não seja o favorito.

Quem defende Salles afirma que o deputado, que já foi ministro do Meio Ambiente no governo Bolsonaro e secretário do Meio Ambiente no governo Alckmin, em São Paulo, teria mais experiência e poderia ter o apoio de empresários.


Resultado de eleições na capital paulista

2012 - Eleição municipal (2º Turno)

  • Fernando Haddad (PT) - 55,57%
  • José Serra (PSDB) - 44,43%

2016 - Eleição municipal (1º turno)

  • João Doria (PSDB) - 53,29%
  • Fernando Haddad (PT) - 16,7%

2018 - Eleição presidencial (2º turno)

  • Jair Bolsonaro (então PSL) - 60,38%
  • Fernando Haddad (PT) - 39,62%

2020 - Eleição municipal (2º turno)

  • Bruno Covas (PSDB) - 59,38%
  • Guilherme Boulos (PSOL) - 40,62%

2022 - Eleição para o governo (2º turno)

  • Fernando Haddad (PT) - 54,41%
  • Tarcísio de Freitas (Republicanos) - 45,49%
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