É falso que Lula indicou mulher de Marcola, do PCC, para ser ministra

Conteúdo distorce fala de Luís Ernesto Lacombe sobre advogado

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São Paulo

É falso que a esposa de Willians Camacho, o Marcola, chefe da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), tenha sido indicada por Lula (PT) ao cargo de ministra da Segurança Pública. A pasta está entre as que devem ser recriadas pelo próximo governo, mas o nome de Cynthia Herbas não foi cogitado para o cargo.

Como verificado pelo Projeto Comprova, a afirmação se baseia num trecho do programa "4por4", do canal de TV por assinatura Jovem Pan News, em que o jornalista Luís Ernesto Lacombe lê uma nota de outro jornalista, Lauro Jardim, publicada em sua coluna no jornal O Globo. No texto, Jardim afirma que o advogado de Cynthia, o criminalista Alberto Toron, e não ela, teria o "sonho de ser ministro de Lula".

Numa das peças de desinformação aqui verificadas, o trecho inicial da fala de Lacombe é cortado, levando o espectador a pensar que ele fala de Cynthia, e não sobre Toron. Em outro vídeo, um homem apenas comenta o fato, provavelmente, já baseado neste trecho descontextualizado, mas dizendo que a indicação seria ao Ministério da Defesa.

Marcola está no centro da foto, de roupa azul, óculos escuros e algemas nas mãos; ele está sendo escoltado por policiais. O que está a sua esquerda (à direita na foto) carrega uma arma nas mãos
Marcola, de azul, é escoltado em Brasília; é falso que Lula tenha indicado a mulher do traficante para o cargo de ministra - Sergio Lima - 21.jan.2020/AFP

O próprio site do presidente eleito Lula divulgou um texto negando qualquer indicação da mulher de Marcola ao Planalto. "O presidente eleito sequer anunciou seu ministério e naturalmente que Cynthia Giglioni Herbas não estará entre as pessoas chamadas", diz o texto, que ainda afirma que "tentar associar Lula ao PCC é uma tática repetitiva do bolsonarismo".

O UOL Confere também afirmou que não há informações oficiais ou de bastidores sobre uma possível indicação do advogado criminalista Alberto Toron para assumir qualquer ministério.

Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.

Alcance

Até 11 de novembro, a publicação tinha 95,6 mil visualizações, 4,7 mil retuítes e 9,2 mil curtidas no Twitter. No TikTok, um vídeo sobre o mesmo tema tinha 35,6 mil visualizações, 4,6 mil curtidas, 411 comentários e 1,5 mil compartilhamentos.

O que diz o responsável pela publicação

O TikTok não permite o envio de mensagens entre contas que não se seguem. A página que publicou a desinformação no Twitter não permitia o envio de mensagens diretas.

Como verificamos

Buscas no Google pelos termos "esposa de Marcola" e "Ministério da Segurança Pública" levaram a verificações que desmentem o conteúdo de desinformação alvo desta checagem, como as do UOL Confere e da AFP Checamos.

Ainda com esses termos, foi possível encontrar uma publicação do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, que cita um desejo do criminalista Alberto Toron em ocupar o Ministério da Segurança Pública.

O site oficial do presidente eleito também se posicionou a respeito do assunto, classificando o conteúdo como falso.

Buscamos, ainda, o conteúdo original no YouTube do programa "4por4" para saber se o vídeo checado havia sofrido alguma edição ou corte.

Edição

O conteúdo de desinformação teve origem a partir de um trecho do programa "4por4", do canal de TV por assinatura Jovem Pan, no qual o jornalista Luís Ernesto Lacombe lê uma nota do colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. No texto, Jardim afirma que o advogado de Cynthia, Alberto Toron, e não ela, teria o "sonho de ser ministro de Lula".

No conteúdo original exibido pela Jovem Pan, no dia 6 de novembro, após ler a nota, Lacombe questiona a opinião da colega Ana Paula Henkel —ex-jogadora de vôlei e colunista— a respeito do assunto.

Um dos conteúdos de desinformação, no entanto, omite o início da fala de Lacombe, justamente o trecho em que ele cita a vontade de Toron em assumir o cargo. A fala original pode ser conferida no YouTube do programa 4por4 a partir de 1’18’25.

Com o corte, a fala do jornalista acaba ficando truncada, abrindo margem para uma interpretação equivocada. No outro vídeo aqui verificado, um homem apenas comenta o fato, provavelmente, já baseado neste trecho cortado do programa "4por4" que viralizou. Neste caso, o autor se referiu ao Ministério da Defesa, informação que também não procede.

Site oficial

Em nota publicada no site oficial, Lula afirmou que Cynthia Giglioni Herbas não está entre as pessoas que integrarão seus ministérios a partir de janeiro de 2023. Até o momento, o petista ainda não anunciou nenhum ministro de sua equipe.

O presidente eleito também afirmou que há uma "tática repetitiva" de tentar associar seu nome ao da organização criminosa: "Não existe relação entre Lula e PCC. Nunca existiu nem existirá". Ao longo da campanha eleitoral, inclusive, advogados do petista acionaram o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em várias ocasiões para derrubar publicações que fazem tal associação.

Por fim, o presidente eleito atribui a viralização do conteúdo à "máquina de desinformação bolsonarista".

Por que investigamos?

O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais sobre pandemia, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. No atual momento, conteúdos que contêm desinformação sobre a transição de governo e eventuais nomes que possam ocupar cargos no governo do presidente eleito Lula podem tumultuar a democracia.

O UOL Confere e a AFP Checamos também já desmentiram a mesma desinformação aqui verificada. O site do presidente eleito Lula publicou ainda um texto dizendo que a alegação é falsa.

Sobre o PCC, o Comprova já mostrou que o TSE não admitiu ligação entre o PT e a organização criminosa. Recentemente, apuramos que um relatório compartilhado no Twitter e em live argentina usa desinformação para atacar processo eleitoral e que um vídeo reúne informações incorretas para enganar sobre comemorações da vitória de Lula.

A investigação desse conteúdo foi feita por CBN Cuiabá, imirante.com e GZH e publicada em 11 de novembro pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 43 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por Folha, Crusoé, Estado de Minas, A Gazeta, O Dia, Plural Curitiba e Metrópoles.

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