Flávio Bolsonaro deve manter protagonismo no Congresso, enquanto Carlos e Eduardo focam radicais

Aliados apontam que filhos serão importantes para manter influência da família após pai ficar sem cargo público

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Brasília

Com Jair Bolsonaro (PL) dando sinais dúbios sobre o futuro após deixar a Presidência da República, aliados articulam e defendem que seus filhos tenham papel fundamental para manter o sobrenome e o movimento bolsonarista relevantes no universo político.

Aliados avaliam que o primogênito, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), será o principal canal de diálogo de seu pai com a base bolsonarista no Legislativo, além de se tornar uma referência na oposição ao futuro governo petista.

Seus irmãos, por outro lado, devem atuar para manter Bolsonaro conectado com a direita mundial e com a ala mais radical da militância no Brasil.

A expectativa é que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) mantenha a interlocução com líderes da direita de outros países, enquanto o vereador Carlos (Republicanos-RJ) prossiga como o mentor das redes sociais bolsonaristas.

Foto mostra o presidente Jair Bolsonaro ao centro, tendo os seus quatro filhos mais velho ao seu lado. Bolsonaro veste um terno cinza, com camisa branca e gravata verde. À sua esquerda, estão o senador Flávio Bolsonaro, que tira uma selfie, e o vereador Carlos Bolsonaro. À direita, estão Eduardo Bolsonaro e Jair Renan
O presidente Jair Bolsonaro com os seus filhos Flávio, Carlos, Eduardo e Jair Renan - Reprodução/ Twitter de @BolsonaroSP

Jair Bolsonaro tornou-se o primeiro presidente da era democrática a ser derrotado na busca pela reeleição, mas conseguiu eleger grandes bancadas no Congresso Nacional, além de colocar aliados no comando de alguns dos estados mais importantes do país.

Analistas políticos e pessoas próximas a Bolsonaro avaliam que uma das dificuldades será manter fidelizados os 58,2 milhões de eleitores que o escolheram e garantir vigor ao movimento bolsonarista, dentro e fora do mundo político, com ele fora de cargo público.

O presidente deverá seguir a partir de janeiro em Brasília, perto das instituições e das principais discussões políticas. O PL deve pagar um salário de R$ 39,2 mil, além de alugar uma mansão em um condomínio fechado e nomeá-lo presidente de honra da legenda.

A aposta é que ele permanecerá ativo nas redes sociais, mantendo assim a proximidade com boa parte dos seus apoiadores.

A avaliação de aliados é que caberá a seus filhos o enfrentamento político diário, cerrando fileiras na oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com espaço nas tribunas do Congresso Nacional, aparecendo com mais frequência no noticiário.

Flávio ganhará protagonismo na representação institucional no Parlamento. Embora menos popular que seus irmãos nas redes sociais, ele deve ser o grande responsável por manter o sobrenome em evidência por ter mais trânsito no mundo político e capacidade de articulação. O primogênito foi o coordenador da campanha presidencial de seu pai.

Além disso, Flávio tem mandato até 2026 no Senado —Casa legislativa que deve ser a pedra no sapato do futuro governo Lula, uma espécie de "bunker bolsonarista", dado o grande crescimento dos partidos aliados nas eleições.

Bolsonaro ajudou o PL a fazer a maior bancada, garantindo a eleição de políticos mais identificados com o chamado bolsonarismo raiz não só na legenda como em siglas aliadas. Entre os exemplos, estão o astronauta Marcos Pontes (PL-SP), o ex-secretário da Pesca Jorge Seif (PL-SC) e a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos-DF).

A expectativa é a de que Flávio desempenhe uma atuação semelhante à que tinha na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), como deputado estadual, quando era mais ativo na tribuna e aparecia mais na imprensa. Como senador, ele manteve uma postura mais discreta nos seus primeiros quatro anos de mandato, para evitar contratempos que prejudicassem a gestão do pai.

Além disso, submergiu após as denúncias de que liderava um esquema de "rachadinha" em seu gabinete quando era parlamentar no Rio de Janeiro.

O caminho para Flávio, no entanto, pode enfrentar concorrência, mesmo dentro do próprio partido. O senador ainda não deixou claro se a figura de liderança que almeja significa ocupar o cargo formal de líder da oposição. Esse posto vem sendo cobiçado e alvo de articulação por outros membros da bancada do PL. Um deles é o atual líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ).

A expectativa em relação a seus irmãos é bem diferente. Eduardo Bolsonaro foi reeleito, mas não obteve o mesmo destaque de eleições anteriores, perdendo 1 milhão de votos. Além disso, há a avaliação de que não se mostrou hábil para articulações na Câmara, como Flávio foi no Senado.

Por isso, aliados apontam que seu papel será diferente. O filho 03 do presidente deverá intensificar sua atuação para que ele e seu pai sejam referências da direita mundial, em particular na América Latina. Os próximos anos serão dedicados a viagens ao exterior, com foco especial nos Estados Unidos, onde o republicano Donald Trump busca ressurgir após, assim como Bolsonaro, ter sido derrotado em sua tentativa de reeleição.

A aliança com o trumpismo e seus ideólogos, como Steve Bannon, é uma das apostas para um eventual retorno ao poder em 2027.

Segundo essa leitura, caso Trump seja vencedor em 2024, poderia haver uma nova onda conservadora no mundo, influenciando o cenário político brasileiro.

Já o papel político a ser desempenhado por Carlos Bolsonaro é menos explícito. Ele deverá seguir como um dos principais conselheiros de seu pai, responsável pelas mídias sociais de Jair Bolsonaro –que são o principal meio de comunicação do mandatário com seus apoiadores.

Dessa forma, Carlos é visto como um "defensor do legado" do pai, em particular para seus militantes. Ao contrário dos demais, Carlos terá um desafio eleitoral já em 2024, com o fim de seu mandato de vereador.

Embora sua reeleição não seja considerada complicada, alguns avaliam que sua votação será um indicativo antecipado da força bolsonarista. Por isso há até mesmo a possibilidade de que ele não concorra e venha a disputar uma vaga nas eleições de 2026.

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