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Moraes avança sobre líderes de atos antidemocráticos, e PF apreende arsenal

Medidas foram ordenadas pelo ministro do STF contra apoiadores de Bolsonaro envolvidos em bloqueios de rodovias

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Brasília

A Polícia Federal cumpriu nesta quinta-feira (15) um total de 81 mandados de busca e apreensão contra envolvidos em manifestações antidemocráticas, incluindo bloqueios em rodovias, em apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

As medidas foram ordenadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), no inquérito que apura os atos antidemocráticos relacionados ao feriado de 7 de Setembro. Moraes também preside o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

As buscas foram realizadas em endereços nos estados de Acre, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Paraná e Santa Catarina.

Desde o segundo turno, tanto em bloqueio de estradas como em atos em frente a quartéis, bolsonaristas cobram as Forças Armadas para que promovam um golpe que impeça a posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) fazem bloqueio em estrada na BR-251, que liga Brasília à Unaí (MG), na altura do km 15
Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) fazem bloqueio em estrada na BR-251, que liga Brasília à Unaí (MG), na altura do km 15 - Pedro Ladeira/Folhapress

Além das buscas, Moraes também ordenou o bloqueio de diversas contas bancárias e de vários perfis nas redes sociais dos investigados.

O balanço parcial da PF registrou a apreensão de 21 armas e 200 munições.

Em um dos endereços, em Santa Catarina, a PF encontrou o que foi considerado pelos agentes como um arsenal. Foram 11 armas, entre elas uma submetralhadora, um fuzil e rifles com luneta.

No último dia 7, Moraes já havia multado em R$ 100 mil os proprietários dos caminhões identificados pelas autoridades de Mato Grosso que estariam envolvidos em atos.

Moraes também tornou esses veículos indisponíveis —ou seja, proibiu a sua circulação e bloqueou seus documentos. A decisão ocorreu após ele ter determinado a adoção de providências para o desbloqueio de rodovias e espaços públicos no estado.

Em novembro, o ministro também mandou bloquear contas bancárias ligadas a 43 pessoas e empresas suspeitas de envolvimento com os atos antidemocráticos que questionam o resultado das eleições.

Por meio de nota, o STF afirmou que "a operação se baseou em uma rede de investigação formada por relatórios de inteligência enviados pelo Ministério Público, pela Polícia Civil, pela Polícia Militar e pela Polícia Rodoviária Federal dos estados".

De acordo com o Supremo, os levantamentos das corporações identificaram "patrocinadores de manifestações, financiadores de estruturas para acampamentos, arrecadadores de recursos, lideranças de protestos, mobilizadores de ações antidemocráticas em redes sociais, além de donos de caminhões e veículos que participaram de bloqueio".

A nota ressalta que a investigação apura a atuação de três grupos "envolvidos no crime de abolição violenta do Estado democrático de Direito".

Segundo o STF, foram mapeados três grupos envolvidos nos bloqueios. O dos líderes, organizadores, financiadores e fornecedores de apoio logístico; os proprietários e condutores de caminhões; e os proprietário e condutores dos veículos utilizados, por exemplo, no "transporte de pneus a serem queimados, estrutura para barracas e transporte de banheiros químicos".

Os bloqueios de rodovias começaram logo após ser declarada a vitória de Lula, em 30 de outubro. No dia seguinte à eleição, já havia 321 pontos de bloqueios em vias de 25 estados e no Distrito Federal.

Vídeos que circularam na internet mostraram integrantes da PRF (Polícia Rodoviária Federal) agindo de maneira leniente com as manifestações antidemocráticas.

O número de pistas bloqueadas foi diminuindo ao longo dos dias, mas demorou para acabar totalmente. Em 19 de novembro, por exemplo, a PRF ainda contabilizava cinco rodovias interrompidas.

Isso 20 dias depois de Moraes ter determinado o desbloqueio de todas as estradas obstruídas —a decisão foi referendada por unanimidade pelo plenário do STF. Após o fim dos bloqueios, os apoiadores do presidente direcionaram as manifestações para a frente de quartéis do Exército em todo o país.

Esses atos antidemocráticos que pedem um golpe militar e escalam em casos de violência pelo país têm sido atiçados por Bolsonaro desde a sua derrota para Lula.

Na semana da derrota, em uma rápida declaração, ele disse defender os atos, tendo apenas condenado os bloqueios de estradas por seus apoiadores. Já no final da semana passada, Bolsonaro quebrou um silêncio de 40 dias com um discurso dúbio que também atiçou seus apoiadores.

O discurso de 9 de dezembro foi salpicado de referências às Forças Armadas, repetiu a retórica de campanha e estimulou indiretamente manifestações antidemocráticas dos seguidores que contestam a vitória do petista.

Como mostrou recente reportagem da Folha, a escalada da violência nos atos antidemocráticos liderados por bolsonaristas fez desmoronar o discurso público do presidente e de seus aliados, que destacavam as manifestações como ordeiras e pacíficas e buscavam associar protestos violentos a grupos de esquerda.

Com casos de violência que incluem agressões, sabotagem, saques, sequestro e tentativa de homicídio, as manifestações atingiram seu ponto crítico e acenderam o alerta das autoridades, que realizaram prisões e investigam até possível crime de terrorismo.

O caso mais recente de violência ocorreu nesta segunda-feira (12). Horas após a diplomação de Lula, uma ordem de prisão expedida por Alexandre de Moraes contra um indígena bolsonarista acabou em atos de violência em frente à sede da Polícia Federal e em vias de Brasília.

Na ocasião, um grupo de bolsonaristas ateou fogo em ônibus e veículos, arremessou pedras contra agentes de segurança e promoveu atos de depredação na capital federal.

Desde a sua derrota nas urnas em 30 de outubro, Bolsonaro fez apenas três discursos públicos. Nas duas ocasiões, ele não condenou a pauta golpista de seus aliados.

Nesta segunda, reportagem da Folha revelou que caminhões usados em bloqueios antidemocráticos de estradas e avenidas do Centro-Oeste contra a eleição de Lula já estiveram envolvidos em crimes como tráfico de drogas, contrabando e crime ambiental registrados pela polícia.

As informações constam de documento enviado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) ao STF a partir do levantamento de placas dos veículos que participaram de um comboio organizado por manifestantes em Cuiabá (MT) no dia 5 de novembro.

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