Temos espaço para atrair mais partidos, diz líder do governo Lula na Câmara

José Guimarães cita negociação por cargos com parlamentares e diz que relação entre governo e Lira terá nova dinâmica

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Brasília

Futuro líder do governo na Câmara, o deputado José Guimarães (PT-CE) diz que há espaço para ampliar a base de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso e cita a negociação de cargos de segundo escalão como um instrumento para atrair mais parlamentares.

O deputado também afirma que buscará aparar arestas com a União Brasil e procurará o Republicanos para que o partido apoie a gestão petista —para isso, ele não descarta eventuais trocas no ministério já anunciado por Lula.

"Eu considero que a montagem do governo não resolveu tudo, mas foi um começo decisivo para o governo consolidar a base", afirmou em entrevista à Folha.

O deputado federal José Guimarães (PT-CE), no plenário da Câmara
O deputado federal José Guimarães (PT-CE), no plenário da Câmara - Gustavo Bezerra/PT na Câmara

PSD, MDB e União Brasil ficaram com três ministérios cada um. Mesmo assim, a União Brasil segue com postura independente —sem aderir à base diante de impasses com o líder da sigla, deputado Elmar Nascimento (BA). A indicação de Elmar para o ministério de Lula sofreu resistência dentro do PT.

O futuro líder diz ainda que o governo terá com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), uma relação diferente da que houve na gestão Jair Bolsonaro (PL). "É uma outra dinâmica. É uma outra relação, até porque acabaram as emendas de relator."

Quais os projetos prioritários do governo Lula no começo do próximo mandato? O governo não definiu ainda a pauta legislativa. Mas penso que alguns pontos são fundamentais para o país no novo governo, do ponto de vista do Legislativo.

Uma pauta prioritária é a reforma tributária, e para isso tem que envolver todos os entes federados. Não só os governadores, [mas] os prefeitos de capitais e o conjunto dos setores que puderem colaborar. Você não pode discutir reforma tributária sem juntar os empresários e trabalhadores. Não tem proposta pronta, mas tem um começo. Qual é o começo? É a PEC 45 [que unifica tributos e é apadrinhada pelo MDB], que está tramitando aqui na Casa. Acho que nós deveríamos partir da discussão que já foi feita na PEC.

O presidente pediu que esta seja uma das pautas prioritárias? Não pediu, mas eu vejo que tem ambiente. Também vamos ter de votar algumas medidas provisórias que são importantes, como ampliar o combate à fome e à pobreza. Tem o Bolsa Família, mas é preciso uma regulamentação disso.

Também há o compromisso com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que nós fizemos na negociação da PEC [da Gastança]. Enviar o quanto antes ao Congresso a nova política fiscal do país.

Quantos votos hoje o Lula teria na Câmara? Eu não vou falar em quantos votos. Eu considero que a montagem do governo não resolveu tudo, mas foi um começo decisivo para o governo consolidar a base.

Primeiro, nós precisamos reconstruir a relação entre Executivo e Legislativo. Legislativo não pode ser apenas um um puxadinho do Planalto; e Executivo não pode ser um puxadinho do Legislativo como foi no governo Bolsonaro.

Toda discussão que tivemos até agora com o Arthur Lira foi assim, uma relação institucional, respeitosa, de diálogo. Se fizer isso, é meio caminho andado para construir o processo legislativo. Queremos também consolidar um bloco que tenha compromisso programático com o país, com o centro político e partidos de esquerda.

O que falta ser resolvido para ampliar a base? O PSD e MDB estão consolidados. Estamos tratando como recompor a União Brasil em função das insatisfações. O Republicanos não integra [a base], mas eles fizeram um gesto muito importante para nós que foi a votação da PEC do Bolsa Família naquele destaque [o partido evitou uma desidratação da proposta].

A gente tem que fazer um esforço grande, não é uma base para servir o governo através do chicote; é uma base para atender as demandas do país e dialogar permanentemente com o governo.

Evidentemente tem os pleitos dos estados, tem obras importantes para serem retomadas. É normal que os deputados peçam isso e aquilo para sua base eleitoral, tudo com transparência. Também queremos um fórum permanente com todos os líderes. E também diálogo com aqueles que ficaram na oposição. Eu acho importante o presidente receber os parlamentares, os líderes. Meu esforço é que eles opinem também em projetos do governo.

Como atrair o Republicanos? O governo vai procurar o PP? Você não governa se não dialogar com todo mundo. A [presidente do PT] Gleisi [Hoffmann] continuará cuidando do fórum com os partidos, e eu com os líderes aqui [na Câmara dos Deputados]. Eu vou procurar o Republicanos.

Mas como fazer com que o Republicanos vá para a base? A Argentina [na Copa do Mundo] começou com uma seleção que perdeu o primeiro jogo, depois foi campeã e [a seleção] foi mudando.

Então a composição da Esplanada vai mudar? Você larga com uma composição. Como foi no próprio governo Lula. O esforço é para ampliar cada vez mais a base. Como fazer? Ainda é cedo. Nem começou o governo ainda. Mas acho que tem espaço, sim. Eu quero atrair todos dentro de uma dinâmica de diálogo. Nós queremos que o Republicanos integre a base.

Petistas e aliados de Lula reclamaram do espaço que o presidente eleito deu para a União Brasil, que, ainda assim, ficará independente. Qual foi a aposta? A aposta foi atrair o partido para a base. Todas as articulações dependem da nossa competência para atrair, para aglutinar essas forças todas. A União Brasil foi importante, é um processo que está em curso. Nós vamos trabalhar para unificar a União Brasil, evidentemente respeitando a autonomia deles. Vamos dialogar com todos. Tem um núcleo bolsonarista aqui, mas essa Câmara não é bolsonarista.

Como será e quando será a conversa com o PP? O governo nem tomou posse ainda. O problema é que o vazio do Bolsonaro foi tão grande que nós tivemos que governar sem estar dentro. Como você aprova uma PEC sem ter governo ainda? Nós ficamos governando dentro de um hotel [local onde Lula se hospedou na transição]. Então a partir de segunda-feira [2] vamos passar a primeira marcha. E evidentemente que essa relação com o Congresso é fundamental. Temos que procurar o PP. Temos que tratar o Arthur Lira como presidente do Poder Legislativo.

O que isso significa? Significa que vamos apoiá-lo. Não tem essa história de que vamos lançar um concorrente. O governo não vai se meter nisso.

Houve uma avaliação de uma ala política de que Lira era um primeiro-ministro no governo Bolsonaro. O novo governo quer rever isso? Não é que queremos rever. É uma outra dinâmica. É uma outra relação, até porque acabaram as emendas de relator.

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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Pedro Ladeira-09.nov.22/Folhapress

É possível uma reforma ministerial já em 2023? Quando você inicia o governo, tudo é possível. O governo tem uma diretriz evidente que quem não se adequa aquilo, é papel do presidente [fazer mudanças].

E se o apoio da União Brasil for inferior ao esperado? A gente senta e discute. Cede aqui, cede acolá. Sobre a União Brasil, para mim foi o caminho possível, mas não resolutivo. Lula nunca disse para nós que o Elmar não poderia ser ministro. Sempre foi colocado que tem que atender o Senado e também a Câmara. Você não agrada todo o partido. Eu mesmo vou procurar o Elmar para tentar contornar essas coisas. Ele é um grande líder, tem força política na bancada e nós precisamos recompor a relação com ele.

Isso significa que a União Brasil pode ter ainda mais espaço no governo, mas não no primeiro escalão? Depois que nós contemplarmos os partidos pequenos que ainda não foram contemplados, como PV, Avante, Solidariedade, tudo é possível.

Elmar pode acabar tendo então uma indicação no segundo escalão? Pode. Tudo pode. Vou procurar o Elmar para dialogar com ele. Até porque ele foi o relator da PEC, que desconstitucionalizou o teto [de gastos]. Nós acabamos com o teto, mas não significa irresponsabilidade fiscal.

Como o governo quer manter a base fiel sem emendas de relator? O ambiente na Câmara é o melhor possível, porque os deputados tiveram as emendas com transparência agora, as emendas individuais e quem libera é o governo. Eu tenho uma emenda individual impositiva e que [o governo Bolsonaro] não liberou ainda. Vai terminar o ano sem liberar.

Mas agora é um novo momento. É uma nova relação. O Lula quer levar os líderes dos partidos para fóruns internacionais para potencializar essa relação. Nós temos que repaginar e qualificar a nossa base aqui dentro. Não pode ser uma base só para votar, e sim para ajudar, discutir os projetos.

Os ministérios do governo estão dispostos a liberar recursos para atender pedidos da base? Deixa começar [o governo]. Quando a gente assumir, vamos pegar o Orçamento e vamos ver como fazer. Por exemplo, o governo vai lançar o Minha Casa, Minha Vida no Ceará ou obra da [ferrovia] Transnordestina. Tem que chamar os deputados para irem juntos e dar crédito aos deputados.


Raio-X | José Guimarães, 64

Deputado federal no quarto mandato. Um dos vice-presidentes nacionais do PT e membro da executiva nacional do partido. Foi um dos coordenadores da campanha de Lula. Escolhido para ser o líder do governo na Câmara no novo governo. Formado em direito.

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