Descrição de chapéu Legislativo Paulista

Deputada relata ter sido vítima de racismo por servidora da Alesp: 'Dói muito'

Thainara Faria afirmou que funcionária quis impedi-la de assinar livro para parlamentares

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São Paulo

A deputada estadual Thainara Faria (PT) afirmou nesta sexta-feira (31) ter sido vítima de racismo por uma servidora da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo).

Emocionada, a deputada de primeiro mandato fez um pronunciamento contando que outras vezes também sofreu racismo por servidores por eles não acreditarem que ela é deputada.

"Eu não gostaria de estar chorando aqui agora. Mas a questão é que dói muito toda hora sofrer racismo. Quando não dói, ele mata a gente. E eu não quero que mais ninguém passe por isso", disse.

Deputada Thainara Faria (PT) chora em plenário ao relatar racismo - Reprodução/Alesp no YouTube

Desta vez, o caso aconteceu quando ela foi impedida de assinar um livro de parlamentares. "Quando desci da mesa e fui assinar os livros, a servidora falou: 'Não, esses livros são só para os deputados", disse. Ela afirma que, depois, ouviu a servidora falando em seguida: "É difícil".

"Voltei e falei para ela. É difícil todos os dias nesta Casa ser confundida. Nós procuramos vocês hoje para que fosse garantido o meu bóton para que não precisasse passar racismo e vocês negaram esse bóton. Porque não estão acostumados com uma mulher preta, jovem, de 28 anos circulando por essa Casa."

A parlamentar, que assumiu neste mês, afirma que não foi a primeira vez que aconteceu esse tipo de situação. Só na posse foram dez vezes, disse.

"Desde que eu fui eleita deputada estadual, eu venho sofrendo racismo nessa Casa. Na posse, uma policial e uma servidora pediram para que eu liberasse o caminho para que os deputados pudessem passar", disse.

A deputada afirma que chegaram a confundir o assessor dela, branco, com um deputado.

Thainara foi eleita com mais de 90 mil votos nas últimas eleições. Durante sua carreira política, ela passou por outros episódios também.

Preta, filha de pedreiro e de empregada doméstica, Thainara, 28, tinha 21 anos quando estreou na política e se elegeu vereadora em sua cidade, Araraquara. Na primeira sessão, um vereador, referindo-se a ela, ofereceu chocolate a colegas.

Outros ataques racistas e sexistas passariam a fazer parte de sua rotina na Câmara.

Um político lhe disse que "agora podemos ter escola de samba". Outro, enquanto ela subia ao púlpito, falou "tomara que sua saia arrebente".

Certa vez, lhe negaram água no plenário. Primeira vereadora negra da cidade, passou também a sofrer uma criminosa perseguição nas redes sociais.

Em nota, o presidente da Alesp, André do Prado (PL), afirmou solidarizar-se com a deputada. "De imediato, o presidente determinou providências ao secretário-geral Parlamentar, que substituiu a funcionária pública envolvida no episódio. O caso será avaliado em âmbito administrativo", afirma o comunicado.

O discurso com o relato de Thainara gerou reação de outros deputados petistas, como Eduardo Suplicy (PT). "Minha primeira palavra é de solidariedade a você, Thainara", disse, que citou célebre discurso contra o racismo de Martin Luther King durante sua fala no plenário da Alesp.

O deputado Donato (PT) disse que o episódio é inadmissível. "Todas as medidas têm que ser tomadas pela Presidência e pela Mesa Diretora, e a gente vai cobrar isso".

No ano passado, a deputada Monica Seixas (PSOL), também negra, denunciou ter sido vítima de preconceito, quando o então deputado Wellington Moura (Republicanos) que iria "colocar um cabresto" nela.

"Cabresto faz referência a uma tática usada amplamente na escravidão para impedir que negros e negras se manifestassem, comessem e bebessem. Eu pedi questão de ordem e fui acusada de estar atrapalhando a sessão", disse Monica. O Conselho de Ética da Casa rejeitou denúncia contra o parlamentar.

Além de relatos de casos racismo, outro episódio contra deputada mulher aconteceu no fim de 2020, quando o deputado Fernando Cury (União Brasil) apalpou a colega Isa Penna (PC do B) em sessão no plenário. A deputada denunciou Cury, que acabou punido e teve o mandato suspenso por seis meses.

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