Descrição de chapéu Folhajus

PT atacou Bolsonaro e exaltou lista tríplice agora rejeitada por Lula na PGR

Presidente indicou nome de fora do documento; petista disse em entrevista não pretender usar eleição interna da ANPR como critério

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O PT criticou o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e exaltou a lista tríplice da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República) quando o ex-mandatário escolheu Augusto Aras para chefiar a PGR (Procuradoria-Geral da República).

A postura do partido se distancia da adotada por Lula (PT), que indicou o subprocurador-geral Paulo Gonet ao órgão, fora da lista oriunda de eleição interna entre procuradores. Durante o primeiro ano de mandato, o presidente afirmou não pretender usar o documento como critério para escolher o chefe da PGR.

Em 2019, o PT chegou a divulgar uma nota após Bolsonaro escolher Aras para comandar a procuradoria, um nome que não constava na lista.

O presidente Lula com o procurador-geral, Augusto Aras, na posse, no Congresso - Mauro Pimentel - 1.jan.23/AFP

"O caso é mais um exemplo do despreparo de Bolsonaro para o cargo que ocupa, envergonhando uma posição que durante 16 anos foi preenchida de maneira brilhante. Durante seus governos, Lula e Dilma [Rousseff] sempre respeitaram a lista tríplice da ANPR e, na maioria das vezes, escolheram o mais votado pelos procuradores", disse a nota do PT à época.

No texto, o partido também citou manifestação da ANPR à época que classificou o desrespeito à lista tríplice por Bolsonaro como "maior retrocesso democrático e institucional do Ministério Público Federal em 20 anos".

Na ocasião, também alertou sobre "eventual aparelhamento da instituição que feriria de morte a democracia brasileira".

Pelas regras atuais, previstas na Constituição, o presidente pode escolher para a função qualquer procurador da República com mais de 35 anos. O nome é submetido a sabatina e aprovação pelos senadores, por maioria absoluta (41 votos).

Em entrevista ao jornalista Reinado Azevedo, Lula disse não repetir a atuação dos governos anteriores do PT, quando foram escolhidos para chefiar a PGR os procuradores que ganharam a eleição interna da categoria.

Disse que "não pensa mais em lista tríplice" e que, quando foi presidente anteriormente e respeitou a tradição da ANPR, se baseava na sua experiência do sindicato.

"Já está provado que nem sempre a lista tríplice resolve o problema. Então, vou ser mais criterioso para escolher o próximo procurador-geral da República", declarou.

A ANPR deve insistir na elaboração da lista tríplice mesmo após as declarações de Lula.

O presidente da associação dos procuradores, Ubiratan Cazetta, disse que a postura de Lula não foi uma surpresa, pois ele já havia sinalizado que não assumiria o compromisso com a classe durante a sua campanha.

Porém, afirmou que solicitou uma audiência com o presidente para tratar do assunto, antes mesmo de a lista ser feita.

"É óbvio que não é um alento, mas também para nós não é o fim da caminhada. O presidente disse que vai ouvir muitas pessoas, então nós vamos nos colocar como interlocutores para discutir modelos, não nomes", disse Cazetta.

A lista tríplice é feita por uma eleição interna na classe a cada dois anos, organizada pela ANPR, para definir os membros da categoria com maior apoio entre os pares para o cargo de procurador-geral.

Os três candidatos mais votados compõem uma lista enviada ao presidente da República, a quem cabe indicar o nome submetido ao Senado. Ele não é obrigado a seguir essa sugestão e pode indicar alguém de fora da lista.

Para Cazetta, a lista funciona como antídoto para as escolhas não republicanas e traz mais transparência à escolha. Ele também declarou ser necessário acabar com a lógica de que esta é uma postura sindical ou corporativista.

"Nós estamos diante de dois modelos: um que é opaco, que não sabemos quem são os candidatos, como eles se apresentam ao presidente da República, e como chegaram lá; e outro em que há uma transparência inerente porque as pessoas têm que vir a público se declarar candidatos", disse.

Ele acrescentou que, durante o processo, os candidatos têm o seu histórico de atuação no Ministério Público avaliado por pessoas que os conhecem há anos. Além de saber como eles lidam em momentos de crise e em questões criminais, direitos humanos, tutela ao meio ambiente e indígena.

"É um modelo muito mais transparente", disse.

O procurador também afirma que o ato de não escolher o líder da procuradoria fora da lista tríplice fragilizaria a independência da instituição.

"Pode ser o nome perfeito, mas o modelo será imperfeito. A forma de escolha deixará sempre uma possibilidade para que o próximo governo faça uma escolha que não seja republicana, porque é assim que se faz quando se escolhe quem quer para ser o PGR", afirmou.

Bolsonaro ignorou a lista tríplice ao indicar por duas vezes Aras para a PGR. Após meses de negociações, ele optou pelo nome que correu por fora e que buscou mostrar afinidade com suas ideias.

Aras foi cobrado por sua inércia diante de suspeitas de irregularidades na gestão de Bolsonaro, como nas apurações sobre a interferência no comando da Polícia Federal e divulgação de fake news.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.