Descrição de chapéu Governo Lula

Dino dispara, passa Haddad e lidera popularidade digital entre ministros de Lula

IPD mostra que titulares de pastas voltadas a minorias estão entre os que mais perderam no quesito desde início do ano

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São Paulo

Em evidência por ações da pasta de Justiça e Segurança Pública e por embates com opositores, Flávio Dino se tornou o ministro com maior popularidade na internet entre os titulares da Esplanada no governo Lula, segundo o IPD (Índice de Popularidade Digital).

O indicador, que varia de 0 a 100, é calculado diariamente pela empresa de pesquisa e consultoria Quaest.

Nos três primeiros meses do ano, Fernando Haddad (Fazenda) era quem detinha a maior pontuação no indicador. Embora ele tenha se mantido em patamar elevado, foi ultrapassado por Dino neste mês.

homem com sobrepeso de terno cinza, camisa branca e gravata rosa com sorriso no rosto
O ministro Flávio Dino (Justiça e segurança Pública) em sessão da comissão de Segurança Pública da Câmara - Gabriela Biló - 12.abr.23/Folhapress

O IPD do ministro da Justiça começou a disparar em março. De 53 em fevereiro, passou para 61 em março e saltou para 73 em abril, quando o governo completou cem dias.

Foi em março que a Polícia Federal, sob a pasta de Dino, realizou ação para desarticular plano da facção criminosa PCC para atacar autoridades e em que Dino viralizou na internet com respostas debochadas e "lacradoras" a opositores em audiência na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça).

Em uma das cenas mais replicadas, o ministro é acusado falsamente pelo deputado André Fernandes (PL-CE) de responder a mais de 200 processos na Justiça, segundo pesquisa que o político disse ter feito em um site jurídico.

Dino, então, responde de forma irônica. "Deputado da CCJ dizer que pesquisou no Jusbrasil: eu vou contar para os meus alunos como anedota, como piada. O senhor acaba de entrar no meu livro de memórias", afirma.

Desde o início do governo, Dino tem participado com declarações ou anúncios da reação do governo a fatos que marcaram o período, como os ataques golpistas em Brasília, o debate sobre regulação de redes sociais e a violência nas escolas.

Para Felipe Nunes, diretor da Quaest e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a atuação do ministro mostra que é possível para o governo Lula pautar as redes sem aderir a métodos tradicionais do bolsonarismo, como notícias falsas e declarações que buscam desviar o foco de temas importantes.

Por outro lado, ele afirma que o protagonismo de um ministro que nem sequer é do PT coloca em dúvida qual a estratégia de comunicação do governo Lula para a internet. Dino é filiado ao PSB.

Nunes ressalta também a manutenção do bom patamar de Haddad no IPD (66 pontos).

Em sua visão, o ministro conseguiu consolidar tanto dentro como fora do governo a imagem de que detém o controle da área econômica mesmo sob fogo amigo do PT, após uma dúvida inicial de que esse papel poderia ser dividido com a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, ou o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante.

Nunes ressalta como vitórias de Haddad a volta da tributação de PIS/Cofins sobre a gasolina, a relativa boa recepção do arcabouço fiscal e o desagravo a ele feito por Lula na reunião de balanço de cem dias do governo.

"Haddad, de vez em quando eu sei que você ouve algumas críticas, tenho que elogiar você e a equipe que trabalharam porque certamente, em se tratando de economia, em se tratando de política tributária, a gente nunca vai ter 100% de solidariedade", disse o presidente.

O IPD é calculado por meio de um algoritmo de inteligência artificial que coleta e processa 152 variáveis das plataformas Twitter, Facebook, Instagram, YouTube, Wikipédia e Google.

São consideradas na nota final cinco dimensões: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagem), mobilização (compartilhamentos), valência (proporção de reações positivas e negativas) e interesse (volume de buscas).

O peso que cada dimensão tem na conta é determinado por um modelo assimilado pela máquina a partir dos resultados reais de eleições anteriores, com milhares de candidaturas monitoradas pela empresa.

Outro petista que aumentou seu patamar de popularidade digital foi o ministro Paulo Pimenta, da Secom (Secretaria de Comunicação Social). Seu IPD começou em 34 em janeiro, chegou a 44 em março e estava em 42 nos cem dias.

Aos poucos, avalia Nunes, Pimenta vem se consolidando como uma espécie de porta-voz informal do governo Lula. Diferentemente do que aconteceu em outros mandatos, o petista não tem alguém oficialmente na função no Planalto.

Além de tomar a frente do debate de questões como a regulação das redes sociais, Pimenta também se envolveu em episódios controversos que repercutiram nas redes sociais, como a entrevista em que tentou desqualificar uma jornalista da CNN.

Entre os ministros que perderam popularidade digital, chama a atenção a predominância de titulares de pastas ligadas a minorias.

Sônia Guajajara (Povos Indígenas) teve a maior queda, com 18 pontos a menos entre janeiro e abril, seguida por Silvio Almeida (Direitos Humanos, 14 pontos a menos) e Anielle Franco (Igualdade Racial), Marina Silva (Meio Ambiente) e Simone Tebet (Planejamento), as três com dez pontos a menos.

Tebet, por outro lado, mantém-se com alta popularidade digital (46), ficando atrás apenas de Haddad e Dino.

Para Nunes, a queda no IPD de ministros de pastas caras ao eleitorado progressista, ou identitário, pode indicar uma estratégia de comunicação do governo focada na economia.

Por outro lado, o diretor da Quaest ressalta a popularidade digital mediana ou mesmo baixa do que ele chama de "pastas-fim", ligadas a bandeiras tradicionais do PT.

É o caso do ministro da Educação, Camilo Santana, com menos da metade do IPD de Dino (36), de Wellington Dias (Desenvolvimento Social), apenas com o 18º maior índice (21), e principalmente da ministra da Saúde, Nísia Trindade.

O IPD dela não só é o sétimo menor da Esplanada como caiu de 24 para 15 pontos em abril. Para Nunes, a situação chama a atenção, uma vez que a atuação do governo de Jair Bolsonaro (PL) na área da saúde durante a pandemia foi um importante motor do voto em Lula.

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