O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tem plano para o Brasil e que não mostrou a que veio até agora.
A declaração foi dada em entrevista à revista Veja, publicada nesta sexta-feira (21).
"Lula e seus aliados não tinham um plano para o Brasil e não mostraram ainda a que vieram. Vimos a reedição de programas antigos e outros que foram repaginados. Só que o cenário hoje é totalmente diferente", disse.
Tarcísio também afirmou que o governo terá dificuldade para aprovar emendas à Constituição e propostas mais estruturais para o país, por não ter uma base sólida mesmo após distribuição de dezenas de ministérios.
O governador paulista, que como ministro da Infraestrutura de Jair Bolsonaro (PL) estruturou um projeto de privatização do Porto de Santos, afirma considerar que o governo federal não descartou o plano, apesar da resistência do ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França (PSB).
Ele também se mostrou otimista com estudo para a privatização da Sabesp. O Governo de São Paulo assinou um contrato que prevê pagamento de até R$ 45,6 milhões à empresa International Finance Corporation (IFC) pelo estudo preparatório para a privatização da Sabesp.
A bandeira, porém, sofre resistência por parte da população e dos deputados da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). De acordo com pesquisa Datafolha, 53% dos entrevistados dizem ser contra a transferência da empresa para a iniciativa privada, enquanto 40% são a favor. A minoria (1%) declara ser indiferente, e 6% não sabem.
Questionado se ainda se considera bolsonarista, Tarcísio disse que sim. "Tenho relação de amizade e gratidão com o presidente [Jair] Bolsonaro. Ele foi muito importante para mim. Me abriu uma porta que não era aberta para técnicos", disse.
O governador considera que Bolsonaro é o grande líder na direita, apesar do período em que passou nos Estados Unidos. "Todos os presidentes que saíram do poder tiveram um período de reflexão e silêncio por um certo tempo. Mas a figura do Bolsonaro é muito forte".
Ele afirma que o atual governo não tem aproveitado o que define como uma janela de oportunidade atual, o que poderia fortalecer o campo da direita.
O governador também afirmou acreditar que Bolsonaro não será declarado inelegível pelo TSE, ao ser indagado se aceitaria se tornar candidato a presidente nesta situação. Segundo Tarcísio, seu foco é no estado.
O governador disse que foi eleito por um público de centro-direita, mas que governa para todos. "Nunca neguei que eu era favorável à vacina e contra a sua obrigatoriedade, por exemplo", disse, sobre o assunto que é uma pauta cara ao bolsonarismo.
Na área de educação, Tarcísio prometeu mais segurança nas escolas, mas sem transformá-las em local de medo. Ele citou a contratação de psicólogos e segurança privada desarmada.
"A escola tem que ser local de alegria, de barulho de criança. Não será local do medo, com detector de metal, não".
Sobre a cracolândia, região que vive crise de segurança com arrastões, ele afirmou que pretende dar tratamento aos dependentes químicos e oferecer empregos. "No estado, há falta de profissionais na indústria de celulose, na lavoura, na construção civil, por exemplo".
Tarcísio também detalhou seu estado de saúde, após ficar internado devido a pedras no rim durante uma viagem a Londres.
"É um problema que me atinge desde 1995. Sofro esporadicamente e estou fazendo um tratamento em algumas etapas para eliminar de vez o problema. Obviamente isso vai envolver mais cuidados com a saúde. Fiz um bombardeio nas pedras, mas elas não saíram. Agora passei por outro procedimento no sábado passado, 15, e deverei encarar pelo menos mais um", disse.
Segundo pesquisa Datafolha, Tarcísio tem sua gestão avaliada como ótima ou boa por 44% da população e como regular por 39%, enquanto 11% consideram seu desempenho ruim ou péssimo.
Até o momento, ele vem equilibrando entre gestos à base bolsonarista e acenos à esquerda, enquanto consolida a base de apoio na Assembleia Legislativa e lida com os percalços inerentes à função de administrar o estado de São Paulo.
O governo teve desgastes em áreas como educação e transporte, mas viu arrefecer a má vontade da oposição por dois motivos: Tarcísio buscou se distanciar de radicalismos associados a Bolsonaro e abriu diálogo com Lula.
Figura que quebrou o ciclo de quase 30 anos do PSDB na máquina estadual, o atual governador evitou rupturas drásticas com o modelo tucano, diferenciando-se por aspectos como o apetite maior por privatizações e a nomeação preferencial de técnicos em detrimento de políticos.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.