Governo Lula vê pressão por ministérios e embate entre Lira e Renan em disputa sobre MP

Líderes partidários demonstram insatisfação, reclamam de espaços a petistas e atraso com emendas

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Brasília

As dificuldades que envolveram a medida provisória que reestrutura a Esplanada dos Ministérios foram lidas por integrantes do governo Lula (PT) como recados de insatisfação de integrantes do centrão com o espaço de cada partido nas pastas.

Por trás dos entraves também há uma disputa entre o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Renan Calheiros (MDB-AL) que deve se manter independentemente do desfecho da MP, na avaliação de governistas e membros do Palácio do Planalto.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em reunião no Palácio do Planalto para anunciar medidas par acelerar vendas do setor automotivo no país
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em reunião no Palácio do Planalto para anunciar medidas par acelerar vendas do setor automotivo no país - Ueslei Marcelino - 25.mai.23/Reuters

Em novo revés do governo Lula, a Câmara decidiu no final da noite desta terça (30) adiar a votação da medida provisória, elevando os riscos de que expire. O texto perde a eficácia no fim da noite de quinta-feira (1º) —e ainda precisa ser analisado pelo Senado até lá.

Às 23h30, Lira agendou nova votação para a manhã desta quarta (31), "pelo adiantado da hora e depois de uma longa reunião com todos os líderes" da Casa. Mais cedo, ele não afastava um cenário de derrota da base de Lula.

Governistas passaram o dia trabalhando para melhorar o clima no Congresso.

Nos bastidores, líderes de partidos do chamado centrão reclamaram do excesso de espaço do PT nos ministérios, da projeção dada à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede) e do espaço que outros partidos, como a União Brasil, têm, sem necessariamente entregar os votos.

Além disso, deputados reclamavam da demora na liberação de emendas parlamentares e também das chamadas verbas extras, que englobam o dinheiro dos ministérios, além da relação com os ministros do governo.

Por isso, segundo três líderes afirmaram à reportagem, havia a disposição de uma ala do Congresso Nacional de derrotar a medida provisória do governo visando reiniciar as discussões sobre a montagem e a estrutura da Esplanada.

Essa medida, porém, seria drástica, já que a Esplanada passaria a ter a configuração do governo Jair Bolsonaro (PL), e era tratada como improvável por alas do Congresso e pelo próprio governo. Independentemente da aprovação da MP, no entanto, a insatisfação de parlamentares com o governo deve permanecer.

Em outra frente, integrantes do Planalto atribuíram ao que chamaram de "questões paroquiais", resultado de uma disputa em Alagoas entre Lira e Renan, o receio de que o presidente da Câmara não atuasse para ajudar o governo nesse tema específico.

Segundo membros da ala política e parlamentares governistas, Lira fez chegar ainda na noite de segunda-feira (29) ao próprio presidente Lula, à Casa Civil e à Secretaria de Relações Institucionais a reclamação de que estava insatisfeito com mensagens publicadas por Renan Calheiros em redes sociais.

No Twitter, o senador chamou Lira de caloteiro, o acusou de desviar dinheiro público e também de ter batido na ex-mulher Julyenne Lins. O presidente da Câmara mandou recado ao Planalto de que considerava inadmissíveis as declarações do senador da base de Lula e que o governo estava sendo leniente ao manter o filho dele, Renan Filho, à frente do Ministério dos Transportes.

De acordo com integrantes do Planalto, Lira enviou mensagens de que pautaria a MP da Esplanada para não provocar um apagão do governo, mas mudaria de postura em medidas de interesse de Lula. O recado foi lido no governo como uma pressão para que Lula substitua Renan Filho.

Aliados de Renan, porém, dizem que o governo faz uma avaliação equivocada sobre a influência de uma disputa local, em Alagoas, na política nacional. Uma parte de líderes governistas também minimiza o efeito do embate entre o presidente da Câmara e o senador.

Na noite desta terça, Lira negou que tenha pressionado pela substituição do ministro Renan Filho. "É falsa e descabida a informação que pedi 'a cabeça de ministro', e muito menos em troca de aprovação de qualquer proposta do governo. Tenho agido sempre com respeito aos Poderes", escreveu o presidente da Câmara em seu perfil no Twitter.

"A origem da desinformação segue na mesma linha daquele que tem usado as redes sociais, e seus prepostos, para me desrespeitar gratuitamente. Isso não admito e exijo respeito! Tenho uma trajetória política de mais de 20 anos dedicados a Alagoas e ao Brasil, sempre em defesa da liberdade e da democracia", seguiu o parlamentar.

Lira afirmou mais cedo que a medida provisória seria votada ainda nesta terça, mas ponderou que caberia aos parlamentares decidir sobre o texto, não sendo possível garantir uma versão de interesse do governo.

"Tem que ser votada. Se vai ser aprovada, se não vai ser aprovada, se vai ser emendada, se vai ser modificada, é o plenário. Não votar acho que é um ato abusivo", disse Lira ao chegar à Câmara no fim da tarde.

Ele afirmou que não participou "diretamente" da articulação da medida provisória e que isso ficou a cargo da liderança do governo na Câmara. Segundo ele, deveriam ter "muitos destaques" ao texto apresentado pelo relator Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL), aliado de Renan.

O texto previsto para ser votado no plenário da Câmara esvazia os ministérios de Marina e de Sônia Guajajara (Povos Indígenas), além da pasta do Desenvolvimento Agrário, comandada por Paulo Teixeira.

O governo tem pressa para votar o texto porque, caso não seja aprovada nas duas Casas até quinta, a estrutura do governo pode voltar a ser a do ministério anterior, de Bolsonaro, o que representaria uma ampla derrota a Lula.

Como a Folha mostrou, deputados da oposição e do centrão enviaram recados ao Palácio do Planalto sobre a insatisfação e que poderiam usar a votação da MP para emparedar o governo.

Mais cedo, o ministro Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) disse que o governo Lula irá defender a aprovação da versão alterada pelo Congresso, apesar de, na semana passada, o núcleo político do Planalto ter dito que atuação para tentar reverter as mudanças do Legislativo e preservar as pastas de Marina e de Guajajara.

"Reafirmo que vamos defender o relatório do jeito que está", afirmou Padilha, em evento com a Frente Parlamentar do Empreendedorismo, em Brasília. "Não digo que é o relatório ideal para o governo, mas foi uma construção com a Câmara e o Senado", completou.

Integrantes do governo avaliavam que, caso fosse aprovado como passou pela comissão mista na semana passada, já seria uma vitória do governo.

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