Morre ex-deputado David Miranda, marido do jornalista Glenn Greenwald

Ex-parlamentar de 37 anos estava internado desde agosto do ano passado no Rio de Janeiro

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São Paulo

O ex-deputado federal David Miranda (PDT-RJ), 37, morreu nesta terça-feira (9). Casado com o jornalista Glenn Greenwald, ele havia sido internado em agosto do ano passado na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, com um quadro grave de inflamação na região abdominal. A causa da morte não foi informada.

O anúncio foi feito por Glenn nas redes sociais. "Sua morte, nesta manhã, ocorreu após uma batalha de 9 meses na UTI. Ele morreu em plena paz, cercado por nossos filhos, familiares e amigos", escreveu.

O então deputado David Miranda durante entrevista - Ricardo Borges-25.jan.19/Folhapress

O jornalista relembrou a trajetória do companheiro, com quem tinha dois filhos. A mãe de David morreu quando ele tinha cinco anos. Deixado em um orfanato, na favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio, ele foi adotado pela vizinha, mãe de outras quatro crianças.

"Ele se tornou o primeiro homem abertamente gay eleito vereador no Rio de Janeiro, e deputado federal aos 32 anos. Ele inspirou tantas pessoas com sua biografia, paixão e força de vida", disse Glenn. David completaria 38 anos nesta quarta-feira (10).

Desde a internação, em 6 de agosto, Glenn fazia atualizações periódicas nas redes informando o estado de saúde do marido. Ele afirmou ter ouvido ao menos três vezes que David tinha poucas chances de sobreviver além de uma semana.

"Sendo David, recusou. Os últimos 4 meses deram à nossa família os mais belos momentos juntos", afirmou, agradecendo aos médicos, enfermeiros e profissionais da saúde que se dedicaram à recuperação do ex-deputado.

Em um artigo publicado em abril, em seu blog, Glenn contou que David estava quase totalmente acordado, comunicativo e alerta, registrando melhora em relação às seis semanas iniciais de internação, em que ele foi mantido, na maior parte do tempo, em coma induzido, disse.

O presidente Lula (PT) publicou uma nota prestando solidariedade à família e afirmando que David foi um "jovem de trajetória extraordinária que partiu cedo demais". A primeira-dama, Janja, escreveu que David deixa uma trajetória de luta e amor.

Formado em jornalismo, David assumiu uma vaga na Câmara dos Deputados em 2019, após o ex-deputado Jean Wyllys renunciar ao mandato. Em maio daquele mesmo ano, ele foi destacado pela revista Time em uma reportagem sobre líderes da próxima geração, ao lado de outros nomes, como o da sueca e ativista ambiental Greta Thunberg.

Nas redes sociais, Wyllys reagiu com tristeza ao anúncio sobre a morte. "Que tristeza! Meus sentimentos à sua família e aos seus amigos. Que ele agora descanse em paz!", escreveu.

Em setembro, a Justiça Eleitoral acolheu o pedido da família de David e retirou a candidatura do então deputado à reeleição.

Ele havia sido internado para tratar uma infecção intestinal, após sentir dores abdominais. Os médicos, então, perceberam complicações no diagnóstico.

Três meses após a internação, em novembro, Glenn afirmou que o quadro de saúde de David mudava radicalmente de um dia para o outro, com complicações sem aviso prévio. Segundo ele, o ex-deputado chegou à sala de emergência com vários órgãos do sistema gastrointestinal gravemente inflamados e infectados.

A infecção migrou para a corrente sanguínea e passou a causar falhas no pâncreas, rins, fígado e pulmões, relatou Glenn.

"Durante as semanas em que ele melhorou mais, ele conseguiu respirar por dias sem a necessidade de um respirador. Ele foi capaz de falar com sua própria voz usando um tubo especializado."

Anteriormente filiado ao PSOL, David migrou para o PDT no início de 2022 e passou a ser alvo de ataques racistas e homofóbicos por apoiar a candidatura de Ciro Gomes ao Planalto.

O ex-presidenciável do PDT publicou uma foto abraçando David e afirmou estar muito triste com a notícia da morte do ex-deputado, a quem chamou de amigo.

"Um exemplo de vida, um exemplo na política, um exemplo na luta pela Democracia, pela liberdade e pelo Brasil. Meu abraço afetuoso ao Glenn, seus filhos e familiares", escreveu Ciro.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), prestou solidariedade à família de David. "Descanse em paz após uma luta intensa pela vida", disse.

Em sessão da CCJ, a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP) pediu um minuto de silêncio em memória de David Miranda.

A morte também foi lamentada por ministros de Lula, como Fernando Haddad (Fazenda), que enviou sentimentos aos filhos, a Glenn e a amigos e familiares de David.

Políticos de diferentes espectros ideológicos também se manifestaram. Deputada estadual no Rio Grande do Sul pelo PSOL, Luciana Genro disse que David procurou por ela quando decidiu se filiar ao partido.

"Convivemos no partido por vários anos, e ele foi sempre um parceiro leal. É uma tragédia a sua morte. Quero deixar meu abraço apertado ao seu marido Glenn e aos filhos que ele tanto amou", afirmou

A deputada bolsonarista Bia Kicis (PL-DF) disse que David passou por meses de sofrimento. "Espero que tenha encontrado a paz e que Deus console a família, especialmente os filhos pequenos e seu companheiro", disse.

Edward Snowden, ex-analista de sistemas americano que revelou um sistema de vigilância em massa do governo dos EUA a jornalistas, Glenn entre eles, disse que de todos que participaram daquele momento, David, a quem chamou de querido amigo, foi talvez o mais justo e puro.

"Jamais esquecerei que quando o Reino Unido quebrou suas próprias leis para deter David como um 'terrorista' por ousar ajudar um ato de jornalismo —e ameaçou jogá-lo em uma masmorra pelo resto de sua vida— ele nunca vacilou. Em vez disso, ele os desafiou a fazê-lo."

"Foi essa coragem que o libertou. Essa coragem que moveu a história adiante. Isso servirá para sempre como o exemplo do melhor de um homem. Vou sentir sua falta, David. Continue livre", finalizou.

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