Quem foi Erasmo Dias, expoente da ditadura homenageado em lei por Tarcísio

Coronel comandou invasão da PUC-SP, marco da repressão militar contra estudantes

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São Paulo

O coronel Erasmo Dias, agora homenageado pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi um dos expoentes da ditadura militar no Brasil (1964-1985) e um dos símbolos da repressão aos estudantes.

Nascido em Paraguaçu Paulista em 1924, formou-se na Escola Militar de Resende (atual Academia Militar das Agulhas Negras, no Rio) aos 21 anos e subiu na carreira de forma ininterrupta. Em 1973, já como coronel, chegou a chefe do Estado Maior da 2ª Região Militar, em São Paulo.

Coronel Erasmo Dias, que foi secretário da Segurança Pública de São Paulo e deputado estadual
Coronel Erasmo Dias, que foi secretário da Segurança Pública de São Paulo e deputado estadual - Lili Martins-21.nov.1997/Folhapress

Durante sua ascensão, participou, em 1962, de uma tentativa frustrada de depor João Goulart, então presidente da República. No golpe de dois anos depois, comandou a ocupação de uma refinaria em Cubatão (SP).

Sua notoriedade, contudo, viria apenas na década seguinte, quando atuou como secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo de 1974 a 1979, com duas breves interrupções.

Era setembro de 1977, e um decreto do presidente Ernesto Geisel proibia concentrações estudantis em todo o país. No dia 22, porém, a UNE (União Nacional dos Estudantes) desafiou aquela ordem com um encontro na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).

Cerca de 2.000 alunos se reuniam no local quando Erasmo Dias apareceu de surpresa. Os policiais liderados pelo coronel perseguiram os jovens com cassetetes e bombas. Prenderam centenas e feriram 19, sendo 18 mulheres –duas das quais passaram cerca de um mês hospitalizadas.

Trinta anos depois, Erasmo Dias disse à Folha que não se arrependia do episódio que marcou sua vida. "Não faria nada diferente", disse. "Só usamos gás lacrimogêneo para fazer chorar e água fria pra esfriar a cabeça: são coisas ótimas para quem está de cabeça inchada."

Sem arrependimentos, mas com mágoas. Em 2004, por exemplo, considerou-se merecedor de indenização pela repercussão da invasão da PUC. "Sou estigmatizado por ter defendido com unhas e dentes o Brasil contra o regime comunista putrefato", disse.

Era um Erasmo Dias no fim de sua carreira política. Além de secretário na década de 1970, foi deputado federal (1979-1983, pela Arena), deputado estadual (1987-1999, pelo PDS e pelo PPR) e vereador (2001-2004, pelo PPB).

Morreu em 2010, aos 85 anos, em decorrência de um câncer no estômago e no fígado.

Como homenagem póstuma, o governo de Tarcísio de Freitas promulgou nesta quarta-feira (28) uma lei que dá a um entroncamento de rodovias de Paraguaçu Paulista o nome de "Deputado Erasmo Dias".

A reitora da PUC-SP, Maria Amália Pie Abib Andery, professores e alunos da universidade assinaram uma nota de repúdio à homenagem.

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