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Vídeo de plantação destruída na Bahia é de 2019 e não mostra ação da União

Devastação foi resultado de reintegração de posse de área pertencente à Codevasf

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São Paulo

Não foi o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que ordenou, juntamente com a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), a destruição de plantação no assentamento Abril Vermelho, em Juazeiro, na Bahia. O vídeo em que um homem faz tal afirmação e viralizou agora é de 2019, ou seja, foi gravado durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas, circulando em posts nas redes sociais em junho de 2023, sugere ser uma ação do atual governo.

A gravação, como verificado pelo Projeto Comprova, exibe um homem não identificado caminhando entre bananeiras no chão. "Uma situação dessa, as máquinas passando por cima, derrubando a planta do povo. Isso é uma injustiça, Brasil. Quem mandou fazer isso não tem coração, não é um ser humano. É um bandido", diz ele.

A destruição não é uma operação do governo federal, mas determinação do Judiciário, em uma ação de reintegração de posse de terras pertencentes à Codevasf, uma empresa pública vinculada ao Ministério da Integração do Desenvolvimento Regional. A área havia sido ocupada pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em 2012.

Captura de tela do vídeo de 2019
Captura de tela do vídeo de 2019 que mostra plantação destruída na Bahia - Reprodução/Telegram

Em contato com a reportagem, a Codevasf afirmou que "as áreas que à época foram objeto de reintegração são destinadas à regular operação de empreendimentos de agricultura irrigada e à reserva legal".

A reportagem também procurou o MST, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.

Alcance

O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. No Telegram, ele havia sido visualizado ao menos 3,2 mil vezes até 16 de junho.

Como verificamos

O primeiro passo foi buscar no Google por algumas expressões mencionadas pelo homem que aparece no vídeo, como "assentamento Abril Vermelho" e "Codevasf". A pesquisa trouxe como resultado reportagens sobre a ação de reintegração de posse e um vídeo publicado na época pela Mídia Ninja.

A partir daí, a equipe entrou em contato com a Codevasf e com o MST.

O vídeo

O vídeo foi gravado no final de 2019, no acampamento do MST Abril Vermelho, em Juazeiro na Bahia.

De acordo com matéria publicada à época pelo portal G1, foi realizada no local uma reintegração de posse, em 25 de novembro, de terras ocupadas pelo movimento nas cidades de Juazeiro e Casa Nova, no norte da Bahia. Elas eram de propriedade da Codevasf. Os mandados foram cumpridos pela Polícia Federal. Expedida pela Justiça Federal de Juazeiro, a decisão também determinou ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) o assentamento das pessoas que ocupavam irregularmente a área.

Segundo o MST, cerca de 700 famílias moravam na área desocupada, de aproximadamente 1,7 mil hectares. Conhecidas como acampamentos Irani I, Irani II e Abril Vermelho, as terras da Codevasf foram ocupadas pelo movimento em 2012, quando a companhia, segundo a PF, já havia decidido destinar o espaço a projetos de irrigação.

Já o MST afirmou, na ocasião, em comunicado, que as terras estavam ocupadas desde 2007, mediante acordo entre os governos federal e estadual, o Incra, a Ouvidoria Agrária, a Codevasf e o Ministério Público.

O que diz o responsável pela publicação

O perfil Selva Brasil, que já disseminou desinformação outras vezes, como verificou o Comprova, não respondeu à tentativa de contato da reportagem.

O que podemos aprender com esta verificação

É tática comum dos desinformadores tirarem conteúdos reais de contexto, como neste caso. O vídeo é verdadeiro, mas, ao ser publicado em 2023, sem a informação de que é antigo, deixa a entender que é atual. Então, é importante sempre buscar informações em outras fontes quando se deparar com posts assim. Neste caso, uma busca rápida por algumas expressões citadas pelo homem que aparece na gravação, como Codevasf e Abril Vermelho, já seriam suficientes para saber que o caso não ocorreu agora.

Por que investigamos

O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp +55 11 97045-4984. Sugestões e dúvidas relacionadas a conteúdos duvidosos também podem ser enviadas para a Folha pelo WhatsApp 11 99486-0293.

Outras checagens sobre o tema

O mesmo conteúdo foi checado por Aos Fatos e Boatos.org. O Comprova já verificou outros posts enganosos envolvendo o presidente Lula. Recentemente, mostrou que ele não foi hostilizado em visita a polo automotivo de Goiana nem dentro do Bahia Farm Show.

A investigação desse conteúdo foi feita por Folha e Grupo Sinos e publicada em 16 de junho pelo Projeto Comprova, coalizão que reúne 41 veículos na checagem de conteúdos virais. Foi verificada por UOL, Estadão e Plural Curitiba.

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