Bolsonaro em SP fala palavrão, chama Lula de jumento e vê missão de voltar à Presidência

Ex-presidente participa de evento de filiação ao PL do vereador Fernando Holiday

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São Paulo

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou de evento do PL em São Paulo nesta terça-feira (25). Em seu discurso, falou palavrão, atacou o presidente Lula (PT), reclamou de sua condenação pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e disse que seu eventual retorno um dia ao Palácio do Planalto é encarado por ele como uma "missão".

Bolsonaro foi declarado inelegível por oito anos após mentiras e ataques ao sistema eleitoral e somente poderá disputar as eleições presidenciais de 2030.

"A quem interessa... Leva-se em conta os países europeus, os países do norte, interessa eu ou um entreguista na Presidência da República? Um analfabeto. Um jumento, por que não dizer assim?", declarou.

O ex-presidente Jair Bolsonaro em evento na Câmara Municipal de São Paulo
O ex-presidente Jair Bolsonaro em evento na Câmara Municipal de São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

"Triste um país que pune um político não pelos seus defeitos ou erros, mas por suas virtudes. Eu fui punido no TSE por virtude. Vontade de ser presidente novamente, não é verdade? Eu queria ir para a praia, mas entendo que é uma missão", disse. Bolsonaro falou ainda que, apesar da sua idade, está preparado para novos saltos.

O ex-presidente participou, na Câmara Municipal, do evento de filiação ao PL de Fernando Holiday —que vai para sua quinta legenda desde que entrou na vida pública ao eleger-se vereador de São Paulo em 2016. O salão nobre ficou lotado de bolsonaristas.

Bolsonaro foi "corrigido" pela militância quando disse que perdeu a eleição de 2022. "Eu não esperava perder as eleições", disse ele, e a plateia reagiu: "Não perdeu".

"A eleição que eu sei é ser reconhecido no Brasil todo", continuou Bolsonaro, mencionando a popularidade de uma motociata em São Paulo.

A viagem de Bolsonaro a São Paulo inclui outros compromissos, como um jantar com empresários na quarta-feira (26). Bolsonaro vai se hospedar pela segunda vez no Palácio dos Bandeirantes, a convite do aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O governador de São Paulo já abrigou Bolsonaro na sede do governo paulista em junho. A nova hospedagem serve para sinalizar que eles superaram a briga por causa da Reforma Tributária, algo que trouxe desgaste para Tarcísio junto aos bolsonaristas.

Ao falar no evento, Bolsonaro ainda criticou a Comissão da Verdade, que relevou os crimes da ditadura militar, apoiada por ele.

"Eu lembro aí o que a esquerda faz, por exemplo, Comissão da Verdade. Que porra de verdade é essa, que não começa investigando Celso Daniel? É uma esquerda que não quer o bem do seu país", declarou.

O ex-presidente também disse que era acusado de querer dar um golpe, algo que negou. "Ah ele atacou o sistema eleitoral. Tudo é ataque", reclamou.

E falou em um protesto de rua para defender os presos nos atos golpistas de 8 de janeiro, mencionando ainda seu ajudante de ordens Mauro Cid, que também está preso.

"Qualquer um pode ser preso hoje em dia por nada. […] Qual é a acusação? Ofendeu o Estado democrático de Direito. Ah vá pra ponta da praia! Tudo é Estado democrático de Direito."

"Não vamos nos esmorecer. Ninguém vai pedir para que ninguém faça nada que vai colocá-lo em risco. Se se falar em movimento de rua, se tiver um dia, tem que ser para pedir a liberdade do pessoal que está lá", completou.

Bolsonaro voltou a criticar aqueles que foram a favor da Reforma Tributária, grupo que inclui Tarcísio, e disse que a única certeza é que "vocês vão pagar mais". "Estão dando carta em branco para um cara que tem orgulho de ser chamado de comunista", disse em referência a Lula.

Num discurso longo, Bolsonaro repetiu a série de temas que costuma tratar, incluindo colocar em dúvida a urna eletrônica, atacar o comunismo e a Venezuela, justificar o negacionismo na pandemia e fazer críticas ao Supremo Tribunal Federal.

Fernando Holiday e Jair Bolsonaro no evento de filiação do vereador ao PL, na Câmara Municipal, em São Paulo - Danilo Verpa/Folhapress

Ex-crítico de Bolsonaro, Holiday integrou o MBL (Movimento Brasil Livre), mas deixou o grupo em janeiro de 2021 ao se aproximar de bandeiras da direita conservadora, como a oposição ao aborto.

No evento, o vereador contou a parábola do filho pródigo, como uma analogia para sua trajetória política, de apoiador de Bolsonaro em 2018, a adversário nos anos seguintes e, novamente, bolsonarista agora. Holiday diz ter se arrependido das críticas ao ex-presidente.

"Me sinto como um filho pródigo, um filho que cometeu muitos erros e se arrepende amargamente, mas que está sendo recebido de volta em casa", disse. Holiday afirmou que Bolsonaro foi o único presidente "verdadeiramente de direita e comprometido com valores conservadores".

Holiday disse que, apesar de a mídia classificar Bolsonaro como racista e homofóbico, ele estava filiando "um negro meio veado", piada que fez o ex-presidente dar risada.

Além de Bolsonaro, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e parte dos deputados federais e estaduais do PL acompanharam a filiação, assim como a secretária estadual da Mulher, Sonaira Fernandes (Republicanos). O prefeito Ricardo Nunes (MDB) foi convidado, mas tinha outro compromisso.

No evento, outros jovens foram filiados ao PL, como Lucas Pavanato, ex-MBL que deve concorrer à Câmara em 2024. Valdemar afirmou que Holiday será candidato a deputado federal pelo PL.

O presidente do PL afirmou ainda que "Bolsonaro é a última palavra dentro do partido".

No seu discurso, Bolsonaro ainda ofendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), e disse que até Valdemar, condenado no mensalão, havia cometido erros.

Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente, protestou nas redes sociais contra a filiação por causa do passado de críticas de Holiday a Bolsonaro. O vereador chegou a dizer ser favorável ao impeachment de Bolsonaro por causa da sua postura negacionista na Covid e pelo aparelhamento de instituições.

Em manifestação contra Bolsonaro na avenida Paulista em 2021, Holiday chamou o então presidente de jumento e corrupto.

No mesmo ano, foi expulso do Patriota num movimento do partido para tentar atrair Bolsonaro. "A possibilidade de o Bolsonaro entrar no partido fez com que nossos caminhos acabassem se distanciando", disse Holiday à Folha na época.

Em 2016, Holiday foi eleito pelo DEM, mas migrou para o Patriota para disputar a reeleição em 2020. Depois, entrou no Novo e também passou pelo Republicanos.

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