Deputados do PL discutem em WhatsApp, e líder diz que procurará Valdemar e Bolsonaro por limites

Parlamentares protagonizaram discussão acalorada após conclusão da votação da Reforma Tributária

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Brasília

No dia seguinte à conclusão da votação da Reforma Tributária na Câmara dos Deputados, parlamentares do PL protagonizaram uma discussão acalorada no grupo do WhatsApp que reúne os deputados desta legislatura.

O pano de fundo foi em torno dos 20 votos favoráveis que a legenda deu à reforma, mesmo após orientação contrária do partido e pressão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Mas o debate também acabou abordando críticas sobre a articulação do PL à CPI do 8 de Janeiro e ao comportamento de alguns deputados do partido contra o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) em reunião da bancada na última semana.

A discussão teve troca de ofensas e até mesmo pedido para que deputados deixassem a legenda, colocando de um lado um grupo mais alinhado a Bolsonaro e de outro parlamentares que integram o centrão e não o chamado "bolsonarismo raiz". A Folha teve acesso à troca de mensagens, revelada pelo jornal O Globo.

O plenário da Câmara dos Deputados, durante votação da Reforma Tributária nesta quinta-feira (6) - Gabriela Biló/Folhapress

A discussão fez com que o líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), interviesse na tarde de domingo (9) para acalmar os ânimos. Ele bloqueou temporariamente o grupo (fazendo com que mais ninguém pudesse enviar mensagens) e afirmou que iria buscar Bolsonaro e o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, para "estabelecer os limites" da bancada.

"Não vamos chegar a lugar nenhum com essas ofensas lado a lado!! Acho que precisamos ter diálogo e estabelecer quais são os limites de cada um que representa o PL! Vou conversar com o presidente Bolsonaro e com o presidente Valdemar para que possamos juntos com a bancada discutir e estabelecer nossos limites", escreveu Altineu.

"Vamos manter a calma, com agressão não vamos resolver nada!", seguiu o líder do partido.

Deputados ouvidos pela reportagem afirmam que esses ruídos no partido, que tem a maior bancada da Câmara (99 cadeiras), vêm se arrastando desde a votação do novo arcabouço fiscal na Câmara —quando o PL deu 30 votos favoráveis à matéria.

O estopim, agora, foi porque parlamentares que votaram a favor da reforma afirmam ter sido alvo de críticas nas redes sociais por colegas por causa de seus votos.

Samuel Viana (MG), que votou a favor da reforma, afirmou que esse tipo de comportamento é de "canibalismo político". "Publicando nomes, açoitando o eleitorado de cada um para ir contra? Isso é, na prática, sustentar e alimentar a desunião com as atitudes", escreveu.

Em outra mensagem, ele criticou a desunião da bancada e citou como exemplo a CPI do 8 de Janeiro que "começou aqui, pelo PL" e "por total falta de habilidade política", os parlamentares da legenda "perderam o controle e a esquerda dominou". "Fraqueza nossa."

"Quem desses que votam as vezes com o governo publicou alguma coisa contra esse grupo e falando isso? Pra que faríamos? Falar que virou CPI do Golpe, que só convocaram aliados do Bolsonaro e do Lula não… Fazer isso seria criar e alimentar desunião. Desnecessário", continuou.

Viana afirmou também que desde 2018 o bolsonarismo tem uma característica: "ou fica totalmente a favor, inclusive dos erros, ou então é ‘petista, ladrão’ e queima todo mundo que pensa uma vírgula diferente". Nesse momento, ele criticou o comportamento de colegas com o governador de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro ("vaiaram e criticaram até o Tarcísio").

Em reunião da bancada do PL na última quinta (6), Tarcísio foi hostilizado por parlamentares ao defender a aprovação da reforma. Na ocasião, Bolsonaro chegou a interromper o ex-ministro, quando ele defendia a participação da direita na reforma.

"Como eu disse, tomaram a invertida na CPMI do 8 de Janeiro por falta de habilidade política. Perderam a chance de ter trabalhado pelo Brasil na reforma e com isso penso que saiu menor. Foi muito feio vaiar e criticar o Tarcísio quando ele estava ali expondo o que pensava com ponderação", seguiu Viana.

Vinicius Gurgel (AP), que também votou a favor da Reforma Tributária, chegou a sugerir que o partido tivesse dois líderes na Câmara, "porque a direita radical não representa todos!!!". O deputado também disse que, se tivessem que expulsá-lo do partido ou retirá-lo das comissões das quais participa diante das críticas que vinha fazendo, "sem problemas".

Em resposta, a deputada Julia Zanatta (SC), ligada a Bolsonaro, criticou o uso do termo "direita radical" e pediu respeito ao colega ("seria bom conquistar respeito respeitando").

Líder da oposição, Carlos Jordy (RJ) também entrou na discussão, afirmou que Gurgel é "incoerente" ao dizer que é conservador, mas não é de direita. "O grande problema é que vocês querem justificar seus votos dizendo que são de centro e dizem que aqueles que cobram uma posição coerente são ‘direita radical’".

Jordy afirmou também que o PL se tornou "essa máquina enorme graças a Bolsonaro" —e defendeu a saída de parlamentares. "O PL não vai retroagir, o caminho é consolidar-se como o maior partido conservador, de direita, de oposição no Brasil. E aqueles que não aceitam essa posição devem sair do partido", escreveu.

Houve também um embate entre Gurgel e André Fernandes (CE), autor do requerimento da CPI do 8 de Janeiro. Gurgel escreveu: "Que tristeza vocês terem vindo para o PL", ao que Fernandes perguntou a quem ele estava se referindo.

"Você, amigo, é um deles, pede expulsão, não respeita! Preferia você em outro partido", disse Gurgel.

"Não me chame de amigo. Não lhe dei essa liberdade", respondeu Fernandes. "O PL não está dividido (...) na votação vimos que ficaram 80 de um lado e 20 do outro (...) 80/20. Tá achando ruim? Pede para sair."

Na noite de segunda (10), o deputado Gustavo Gayer (GO) criticou que as mensagens do grupo tinham sido divulgadas à imprensa e afirmou: "Uma coisa eu garanto. Esse ataque desproporcional não vai ficar assim".

Como resposta, Yury do Paredão (CE), que está licenciado do cargo, disse que o parlamentar estava ameaçando os demais colegas. "Vocês nos atacam e agora estão nos ameaçando? A coisa pelo vista está piorando cada vez mais", escreveu Paredão.

Diante do novo princípio de discussão, Côrtes voltou a alterar as configurações do grupo, fazendo com que deputados não pudessem mais escrever mensagens.

Procurado, Gayer criticou Gurgel, com quem havia trocado acusações no dia anterior, e afirmou que "é difícil conviver com um deputado que não consegue defender seus votos e parte para o ataque pessoal contra colegas de partido".

À Folha Gurgel disse que está no PL há 13 anos e que não pretende deixar a legenda. Afirmou que não se elegeu na onda do bolsonarismo e que sua liderança, desde o começo, é a de Valdemar.

"A solução que ele decidir tomar eu vou acatar. Tenho certeza que ele dará uma boa condução a essa crise. Partido grande é assim mesmo, não sei de verdade como vai ficar [a situação]. Às vezes, depois do atrito, as pessoas começam a respeitar mais os outros", disse.

Ele criticou que uma "minoria do partido" tem incentivado ataques a colegas nas redes sociais. "Eles incitaram ódio da militância contra a gente, para ganhar notoriedade. Mas nem todos são assim. Não precisa pisar nos outros para crescer, lacrando para ganhar like."

Viana disse à reportagem que foi claro em seus posicionamentos no grupo de WhatsApp e que ele preza pelo diálogo e pela ponderação. "As pautas ideológicas e o perfil de extremismo que alguns parlamentares estejam priorizando não podem ser superiores às pautas de interesse ao Brasil", disse.

Zanatta disse que avalia ser normal um partido grande ter divergências e que se tratou de um episódio. "Sinceramente acho natural [não ter consenso] num partido grande. Para mim é vida que segue, só não acho que é legal jogar ofensas como foi feito por alguns no grupo, precisamos harmonizar. Vi ali que muitos estavam incomodados com a nossa presença e não nós com a deles."

Carlos Jordy, André Fernandes e Altineu Côrtes foram procurados, mas não responderam.

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