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Lira mostra controle do plenário, leva centrão para governo Lula e agora abraça o mercado

Pauta econômica enverniza figura de líder do centrão, que detém monopólio da Câmara e negocia emendas

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Thiago Resende

Desde janeiro de 2019, trabalha na Sucursal de Brasília. Escreve sobre política e economia. É formado em Jornalismo pela UnB (Universidade de Brasília).

Brasília

Arthur Lira (PP-AL) já tinha alcançado conquistas expressivas para o centrão, bloco que lidera. Em dois anos e meio na presidência, ele tem fortalecido as bases para que o grupo possa continuar com o monopólio da Câmara e poder sobre o Orçamento. Na semana que passou, deu outro passo relevante: deixou agora também sua marca definitiva com o mercado financeiro.

Reeleito com a votação recorde de 464 deputados, o presidente da Câmara usou o capital político que tem no plenário para aprovar a Reforma Tributária —um feito histórico, aguardado há mais de três décadas.

Em menos de uma semana, o deputado alagoano fez o clima mudar em Brasília e costurou o apoio de governadores e partidos para a Reforma Tributária atingir 382 votos. Eram necessários 308, por ser uma PEC (proposta de emenda à Constituição).

Ao longo das suas duas gestões na presidência da Casa, Lira foi se posicionando com acenos ao mercado, construindo seus mandatos como um defensor de pautas liberais, fez projetos serem aprovados e agora consolida de vez sua imagem com empresários e investidores.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), em votação da Reforma Tributária - Gabriela Biló-6.jul.23/Folhapress

Os laços mais estreitos eram uma meta clara do deputado, que teve início ainda no período de seu antecessor, Rodrigo Maia (PSDB-RJ), justamente na tentativa de rivalizar com ele. Na época, Maia conseguiu se firmar com o mercado, carimbando seu nome com a aprovação da Reforma da Previdência.

Se a PEC for aprovada também pelo Senado, Lira irá conduzir votações de projetos complementares para concluir o quebra-cabeça da Reforma Tributária até o fim de sua gestão, em janeiro de 2025.

Isso dará reiteradas oportunidades para o alagoano se firmar como o queridinho do mercado e buscar envernizar a figura de líder do centrão.

O ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), deu um empurrão para esse projeto de Lira. A investigação sobre supostos desvios em contratos de kits de robótica, que envolve aliados do presidente da Câmara e repasses de emendas, foi suspensa enquanto o deputado desatava os nós para as votações no plenário.

Desde o governo Jair Bolsonaro (PL), Lira construiu um espólio valioso para os deputados. A gorda fatia do Orçamento para emendas consolida o processo de independência e fortalecimento da Câmara, iniciado lá no governo de Dilma Rousseff (PT).

Com o respaldo de uma massa de fiéis na Câmara, ele negociou com Lula e, em menos de seis meses, revisou cláusulas contratuais com o petista. O deputado trilhou o caminho do centrão para dentro do governo e se reposicionou na distribuição de bilhões de reais das emendas.

Assim, Lira consegue mobilizar seus devotos para praticamente qualquer direção na Câmara. Foram poucas derrotas —uma delas foi o adiamento do PL das Fake News, em maio.

A Reforma Tributária é de interesse do Palácio do Planalto. Mas Lula não se engajou muito. Preferiu empoderar Lira e auxiliares do governo, principalmente Fernando Haddad (Fazenda), que entrou na articulação e criou as condições financeiras para a proposta avançar.

"Como falar de velocidade, de rapidez na votação de uma Reforma Tributária que é esperada pela nação há mais de 50 anos?", discursou Lira na quinta-feira (6), rebatendo críticas de que não houve tempo suficiente para que os deputados avaliassem a proposta, cuja versão final foi apresentada horas antes da sessão.

Mesmo quem votou a favor do texto reconhecia que a reforma aprovada não é a ideal, mas era necessário liquidar esse assunto na Câmara. Alguns dos aliados de Lira confessaram nos bastidores que votaram a favor do projeto pela gratidão que têm ao alagoano.

Lira e Haddad após coletiva de imprensa - Ueslei Marcelino-18.abr.23/Reuters

Lula não conseguiu, nesses seis meses, ajustar uma base sólida de deputados. A reforma passou pela Câmara sem que o petista alinhasse com o centrão quantos e quais ministérios serão presenteados. As negociações estavam em curso enquanto Lira batalhava pela reforma.

Mas agora chegou o momento de o Planalto resolver as pendências com o centrão.

A pauta legislativa do governo Lula já foi praticamente concluída na Câmara neste semestre —tarefa executada na base da força política de Lira. Não há, por ora, um propósito comum que una Lira e Lula nas votações. Com isso, o preço para o deputado frear derrotas do petista no plenário deverá subir.

Lira vocaliza nos últimos meses a insatisfação do centrão com o espaço que tem nos ministérios de Lula. O deputado intermediou a aproximação do Planalto com o bloco, o que deve resultar numa reforma ministerial.

Lula precisará abrigar aliados de Lira para que não seja penalizado no plenário nos próximos meses, seja em derrotas na área ambiental, por exemplo, ou na elaboração do Orçamento do próximo ano —que está nas mãos de um relator do PL, partido de Bolsonaro.

Resta saber em que termos será essa aliança do governo com o centrão, pois a fatura apresentada pelo bloco de Lira é alta, incluindo ministérios como o da Saúde e o do Bolsa Família. Para uma relação estável, alguém vai ter que ceder.

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