A distribuição de reservatórios e cisternas por meio de emendas parlamentares no ano eleitoral de 2022 ignorou a maioria das cidades mais vulneráveis à seca na região do semiárido brasileiro.
Análise da Folha com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação mostra que 201 dos 228 municípios com prioridade alta ou muito alta (88%) não receberam nenhum equipamento da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).
O grau de vulnerabilidade foi calculado pela Embrapa Territorial a partir de indicadores socioeconômicos e climáticos.
Enquanto isso, cidades menos afetadas pela seca chegaram a receber o equivalente a uma caixa-d'água para cada três habitantes. A reportagem encontrou casos de recipientes com a marca da estatal sendo guardados em depósitos ou colocados à venda pela internet.
As emendas parlamentares permitem o envio de recursos para áreas indicadas por deputados e senadores independentemente de critérios técnicos.
Um dos braços do governo federal responsáveis pela instalação de cisternas e reservatórios na região Nordeste, a Codevasf foi entregue ao centrão do Congresso pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e segue controlada pelo grupo na gestão Lula (PT).
No ano passado, 90% dos equipamentos de convivência com a seca distribuídos pela estatal foram enviados por meio de emendas. Apenas os 10% restantes tiveram a destinação definida pelo governo.
Veja os dados detalhados de todas as cidades:
A estatal afirma que a distribuição é realizada após avaliação técnica, legal e de conveniência socioeconômica. Argumenta ainda que "a eventual destinação de mais bens para a Bahia é compatível com a configuração do estado e com a estrutura local da Codevasf".
A nota cita que o estado é o mais populoso do Nordeste, conta com duas superintendências da Codevasf e tem o maior número de deputados federais da região, sendo beneficiário, portanto, de mais emendas parlamentares.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.