CPIs poupam governador do DF em apurações sobre ataques golpistas

Afastado do cargo por mais de 2 meses e avalista da indicação de Anderson Torres, Ibaneis Rocha não é sequer citado por comissões do Congresso e do DF

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Brasília

Afastado do cargo por mais de 60 dias após a depredação das sedes dos três Poderes, o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), tem escapado das duas CPIs que investigam os ataques golpistas e não é sequer citado nas investigações políticas em curso no Congresso e na Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Desde o dia 8 de janeiro, Ibaneis viu a cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal ser presa, e seu ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres entrar no foco das investigações sobre a ameaça de golpe e de interferência no segundo turno das eleições.

O governador do DF, Ibaneis Rocha, durante a posse do ministro do STF Cristiano Zanin, em agosto - Pedro Ladeira - 3.ago.23/Folhapress

Autoridades federais e do Distrito Federal apontam diferentes motivos para a blindagem do governador, a começar por sua influência no Judiciário.

Reservadamente, políticos também afirmam que uma eventual briga com Ibaneis pode melindrar a relação com o MDB, legenda que integra a base do governo.

Outros apontam ainda o papel da vice-governadora do DF, Celina Leão (PP) —aliada do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e do senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do Progressistas.

A proteção ao governador na CPI da Câmara Legislativa já era esperada desde o início, já que o relator, Hermeto (MDB), foi líder do governo. No Legislativo local, 17 dos 24 dos deputados distritais se declaram base.

Mas nem mesmo na CPI do Congresso Nacional Ibaneis Rocha tem sido lembrado.

Deputados distritais, federais e senadores argumentam que não têm poder para convocar o governador. Eles reconhecem que Ibaneis sempre passou longe da fritura política.

Enquanto na CPI da Câmara Legislativa um convite ao governador não teria apoio da maioria, na comissão do Congresso os requerimentos apresentados (dois convites e quatro pedidos de convocação) nunca entraram em pauta.

Uma das dúvidas que ainda pairam no ar é sobre a abertura da Esplanada dos Ministérios no dia 8. Na véspera, o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), pediu para que o governo do Distrito Federal barrasse o acesso de manifestantes à área.

Na data dos ataques, no entanto, os golpistas não só tiveram a entrada liberada, como deixaram o acampamento montado em frente ao quartel-general do Exército e se aproximaram das sedes dos Poderes escoltados pela Polícia Militar do DF.

Polícia Militar do DF escolta manifestantes no trajeto entre o QG do Exército e a Esplanada dos Ministérios momentos antes da depredação dos três Poderes - Reprodução-8.jan.2023/GloboNews

Após mais de oito meses de investigações, a CPI da Câmara Legislativa ainda não conseguiu responder quem deu a palavra final sobre o assunto. No dia 7 de janeiro, o governador disse ao site Metrópoles que as manifestações no local estavam liberadas, desde que fossem pacíficas.

Integrante da CPI da Câmara Legislativa, o deputado distrital Fábio Félix (PSOL) disse que seria importante a presença espontânea do governador na comissão.

"Já está claro que não teve apagão na inteligência porque existiam informações suficientes para que a operação fosse montada. Por que essa operação não foi bem montada? Ele acompanhou esse processo? Foi ele quem decidiu que a Esplanada não seria fechada [no] dia 8?", questionou.

"E óbvio que tem uma pergunta política anterior do porquê o governador escolheu Anderson Torres para ser o secretário de Segurança Pública, dado o nível de tensionamento social que existia no Brasil. Ele era um homem de [Jair] Bolsonaro no Ministério da Justiça."

Após a derrota de Bolsonaro (PL), ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e integrantes do governo Lula (PT) pediram que Ibaneis não levasse Anderson Torres de volta para a Secretária de Segurança do DF —sem sucesso.

No Congresso, a senadora do Distrito Federal Damares Alves (Republicanos) saiu em defesa do emedebista. A ex-ministra disse que não existe "nenhum indício" contra Ibaneis e que, mesmo tendo pouca relação com ele, sabe que é um "homem de paz".

"O governador Ibaneis não tem nada a ver com os atos de 8 de janeiro. Eu e minha equipe estamos lendo tudo que chega na CPMI e não encontramos nenhum apontamento contra ele", afirmou Damares.

"O afastamento do Ibaneis do governo foi tempo suficiente para se investigar a possível participação dele e naquele momento também nada foi encontrado. Assim, tenho a certeza que a CPMI entregará o relatório sem envolvê-lo."

Procurado pela Folha, o governador não quis se manifestar. "Não trato desse assunto. Estou ainda pendente de julgamento do inquérito junto ao STF", afirmou por mensagem.

O governador é investigado no inquérito do Supremo, que apura a responsabilidade de autoridades na destruição das sedes dos três Poderes. Torres e Fernando de Sousa Oliveira, ex-número dois da Secretaria de Segurança, também são alvo da apuração.

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