Prefeituras de SP omitem destinação de verba bilionária das 'emendas Pix'

Fiscalização do TCE-SP aponta falta de transparência nas contas e ameaça acionar Promotoria

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São Paulo

As cidades paulistas escondem o destino de transferências especiais conhecidas como "emendas Pix", revela apuração do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo).

As emendas Pix permitem acelerar o repasse de verbas para estados e municípios, sem vínculo com projetos específicos, o que dificulta a fiscalização pelos órgãos de controle.

A corte paulista constatou que 565 das 644 cidades receberam R$ 760 milhões por meio desse instrumento, entre o início do ano passado e até agosto de 2023, via governo federal e estadual.

Os valores empenhados, que incluem também verbas ainda a ser recebidas, ultrapassam a marca de R$ 1 bilhão.

Prédio anexo do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, no centro da capital paulista
Prédio anexo do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, no centro da capital paulista - Divulgação/TCE-SP

O tribunal fez uma fiscalização em cem cidades no estado, que é o que mais recebe esse tipo de transferência. No caso dos repasses federais feitos no ano passado, apenas 6% tiveram prestações de contas divulgadas. Segundo o tribunal, não há qualquer dado sobre as emendas estaduais.

O presidente do TCE, Sidney Beraldo, divulgou nota criticando a falta de publicidade dos gastos públicos.

"Da forma como as coisas estão hoje, os gestores acabam não indicando claramente o destino dos recursos. Sem a demonstração adequada do uso das verbas transferidas, o controle externo e a sociedade não podem exercer o seu papel fiscalizatório", afirmou.

Em 2022, as emendas federais empenhadas chegaram a R$ 307 milhões, em verbas para 523 cidades. Neste ano, foram quase R$ 570 milhões para 428 municípios. Já as emendas estaduais atingiram R$ 74 milhões empenhadas no ano passado e quase R$ 110 milhões em 2023.

O levantamento da corte aponta outro problema: as prefeituras ignoram a regra do governo federal de criação de contas bancárias específicas para os depósitos. A falta de conta para a transferência pode fazer com que ela se misture com verbas diferentes, dificultando ainda mais qualquer fiscalização.

No caso estadual, não há essa determinação. A falta de normativas que disciplinem a destinação destes valores é uma das preocupações do tribunal de contas.

O TCE paulista emitiu alerta aos gestores, por exemplo, sobre a proibição de usar a verba para despesas de gastos com pessoal, encargos sociais e dívidas.

Na avaliação da corte, os problemas detectados podem resultar em multas e comunicação ao Ministério Público.

O TCU (Tribunal de Contas da União) firmou entendimento de que o controle da aplicação das transferências especiais para prefeituras cabe às cortes de contas estaduais e municipais.

Em cinco meses de governo, o presidente Lula (PT) assistiu ao repasse de R$ 6,6 bilhões do Orçamento da União diretamente para deputados e senadores, por meio das emendas Pix. O valor é quase o dobro (94%) do movimentado em todo o ano passado.

Dados do Orçamento federal mostram que, entre janeiro e maio, foram pagas 8.327 emendas no total de R$ 6,6 bilhões. Em 2022, o número de operações foi de 8.191 e destinaram R$ 3,4 bilhões aos congressistas.

Em 2021, foram R$ 2 bilhões e, em 2020, R$ 621,2 milhões.

Esse crescimento ocorreu porque muitas das emendas Pix faziam parte anteriormente das verbas de relator, derrubadas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no fim do ano passado.

Ou seja: como elas não eram contabilizadas como transferências para estados e municípios, é possível que a cifra dos anos anteriores tenha sido bem maior.

Relator da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), o deputado federal Danilo Forte (União Brasil-CE) vem tratando com o presidente do Tribunal de Contas da União, Bruno Dantas, sobre como incluir no texto mecanismos de controle sobre as transferências especiais.

A negociação do deputado ocorre em meio a uma movimentação do Congresso Nacional para tentar ampliar no Orçamento o espaço reservado para transferências especiais.

A ideia do relator é estabelecer como contrapartida à ampliação dos recursos uma forma de identificar o destino da verba depois que ela chega ao município. Desta forma, além de aumentar a fiscalização sobre o dinheiro, o parlamentar responsável pelo envio também ficaria com seu carimbo junto à prefeitura.

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