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É preciso distinguir decisão que a gente não gosta de decisão ativista, diz Barroso

Presidente do STF também volta a afirmar que 'ativismo judicial é lenda'

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Brasília

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, disse nesta segunda-feira (6) que "é preciso distinguir decisão de que a gente não gosta de decisão ativista".

Em palestra no banco BTG Pactual, em que debateu os desafios do Supremo, ele voltou a afirmar que "ativismo judicial é lenda".

O ministro disse ainda que geralmente as pessoas chamam de ativistas as decisões das quais não gostam, enquanto aquelas que acham boas são consideradas como "interpretação constitucional positiva".

"Quem acha a interpretação ruim diz que o Supremo está se metendo [no assunto]. Ativismo é levar um princípio constitucional vago para reger uma situação que não foi especialmente contemplada, nem pelo constituinte nem pelo legislador", afirmou.

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, fala com a imprensa no Supremo em Brasília - Pedro Ladeira - 29.set.2023/Folhapress

Barroso disse que não há ativismo no sentido de exercício próprio do poder judicial, mas "por incultura ou por qualquer outra razão, uma certa exploração equivocada do que o Supremo está fazendo".

As declarações de Barroso foram dadas quando ele comentava sobre temas polêmicos discutidos no STF, como as uniões homoafetivas e o julgamento da descriminalização do porte de drogas para uso pessoal.

Ele afirmou que, no primeiro tema, não havia no direito brasileiro uma regra ou uma disciplina sobre a questão, mas que os problemas surgiam "porque a homossexualidade é um fato da vida".

"Tem direito à sucessão, à pensão alimentícia. Quando vender um imóvel, tem que os dois assinarem juntos, quando um tira licença, sendo servidor público, o cônjuge pode acompanhar. Então, o Supremo decidiu e equiparou as uniões homoafetivas às uniões estáveis convencionais", disse.

Já sobre as drogas, Barroso disse que quem despenalizou o consumo foi o Congresso "há muitos anos" e que a lei já prevê que alguém flagrado com a posse para consumo pessoal não seja preso, "no Código Penal votado pelo Congresso".

"O que o Supremo está fazendo é definindo qual é a quantidade que vai separar o porte pessoal de tráfico. Por qual razão? Porque chegam milhares de habeas corpus no Supremo de pessoas que são presas com pequenas quantidades de drogas", disse.

Ele chamou de fiasco a política sobre o tema no país e disse que hoje quem define se é tráfico ou consumo pessoal é a polícia, "com critérios muitas vezes discriminatórios ou racializados".

"Na zona sul do Rio, 50 gramas é consumo pessoal e, no subúrbio, 50 gramas é tráfico. O que o Supremo quer fazer é ter um critério que faça com que a polícia tenha uma orientação. O Supremo não está mudando nada, só está determinando o que é, qual quantidade. Mas é uma exploração muito malversada disso", defendeu.

Barroso ainda afirmou que a sua ideia, como presidente do STF, "é pautar tudo", mas voltou a dizer que não deve colocar em julgamento a descriminalização do aborto por enquanto.

Segundo o ministro, "é preciso desanuviar o ambiente" antes disso e que o debate ainda precisa ser amadurecido na sociedade.

Porém afirmou que "é preciso tentar convencer as pessoas de que ninguém é a favor do aborto" e que ele deve ser evitado, mas a discussão é se a mulher deve ou não ser presa por isso.

"O que estamos discutindo é se deve criminalizar. Precisamos colocar na mesa que nenhum país desenvolvido do mundo criminaliza. É uma má política pública. Nessa matéria estamos atrás da Argentina, Colômbia e México. Numa democracia, nenhum tema deve ser tabu", afirmou.

Pouco antes de se aposentar, a ministra Rosa Weber, então presidente da corte, colocou a ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental) 442 sobre a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação em pauta e deu um voto considerado histórico em defesa da descriminalização do procedimento.

Na sequência de Rosa, Barroso apresentou um pedido de destaque, levando o tema ao plenário presencial para que futuramente ele seja discutido entre os ministros.

Barroso também voltou a negar crise entre os Poderes e disse considerar que o número alto de decisões monocráticas da corte, questão de embate com o Congresso, é um fato negativo, mas que o problema já foi resolvido por Rosa no exercício da presidência do tribunal.

A principal comissão do Senado votou a toque de caixa uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) limitando os pedidos de vista e as decisões monocráticas nos tribunais superiores.

O presidente do STF também criticou o que chamou de "indústria de reclamações trabalhistas", disse que a legislação é "muito complexa" e defendeu um estudo sobre o tema.

"Se o custo da relação de trabalho só pode ser determinado depois que ela termina, isso aumenta o custo para o Brasil, cria uma insegurança jurídica e incerteza", disse.

Ele também afirmou que há uma ampla litigiosidade tributária e que temos "o sistema mais complexo do mundo". "Cerca de 30% das ações da Justiça brasileira têm natureza tributária. Espero que a simplificação da reforma tributária melhore isso", declarou.

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