Ex-governador Marconi Perillo é eleito presidente do PSDB com apoio de Aécio

Resultado reforça influência do deputado mineiro, que chancelou nome do ex-senador, em meio a divisões do partido

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Brasília

O ex-governador de Goiás e ex-senador Marconi Perillo foi eleito nesta quinta-feira (30) o novo presidente do PSDB para um mandato de dois anos. Ele substituirá o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que decidiu não permanecer mais à frente do partido.

A decisão foi tomada pelo novo diretório, eleito por votação de delegados e parlamentares da sigla durante convenção partidária, e em meio a uma divisão no tucanato.

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O ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) durante seminário em Goiânia - Keiny Andrade - 12.mar.18/Folhapress

A eleição de Perillo foi fruto da costura de uma ala da legenda, que chegou a enfrentar uma disputa com o ex-senador José Aníbal (SP). Aníbal anunciou que disputaria contra Perillo, mas, de última hora, retirou a candidatura, e o ex-governador acabou eleito por aclamação.

"Eu queria dar uma satisfação, porque eu coloquei minha candidatura a presidente do diretório. Coloquei agora nesse final de semana. Conversei com muitos companheiros, mas não pareceu suficiente para a disputa", afirmou Aníbal nesta quinta, durante a convenção.

"O que nós não podemos é ficar fazendo de conta que a nossa unidade é sólida. Estamos unidos, olha essa vitória, mas é uma unidade que não tem uma âncora política sólida. O PSDB está um pouco perdido no panorama que temos hoje da política brasileira", completou Aníbal.

O processo de troca do comando do partido teve forte influência do deputado Aécio Neves (MG). A indicação de Perillo para comandar o PSDB foi uma indicação do parlamentar. A nova executiva, inclusive, terá a participação de Aécio e a maioria dos membros ligados a ele.

Leite, que também fará parte do novo comando, tentou articular a candidatura do ex-senador Tasso Jereissati (CE), mas não conseguiu após Aécio vetar essa hipótese, por se tratar de um desafeto.

No lugar, o governador gaúcho deixou o caminho livre para que Aníbal disputasse contra o nome apoiado pelo deputado mineiro, mas não conseguiu encontrar consenso. Leite tentou articular um adversário a Perillo por preferir um nome mais ligado a ele no comando do partido. Aécio, porém, conseguiu montar uma chapa mais robusta e acabou fortalecido.

Como mostrou a Folha, aliados de Leite minimizam a disputa de poder entre Aécio e o gaúcho. Na visão deles, ambos têm boa relação e não há alternativa para um partido combalido como o PSDB senão a unificação.

A disputa no partido ocorreu depois de Leite indicar que não queria mais comandar a legenda diante de dificuldade de conciliar tarefas.

O recuo do governador gaúcho na presidência do PSDB, segundo tucanos ouvidos pela reportagem, foi considerado compreensível diante das demandas do governo do estado, que acumula uma série de tragédias causadas pelas chuvas.

"Não somos candidatos a mito, nem a super-heróis e nem a salvadores da pátria", afirmou Leite nesta quinta. "Eu tenho um novo ciclo de governo pela frente. A população me deu a oportunidade de ser o primeiro reeleito e preciso suar muito a camisa daqui para frente", afirmou.

Ainda assim, integrantes do PSDB de diversas alas querem lançá-lo à Presidência da República em 2026. A avaliação, defendida por Aécio inclusive em 2022, é que ter um presidenciável seria essencial para a sigla não diminuir mais ainda.

Perillo, inclusive, foi enfático após ser eleito presidente do PSDB, dizendo que aposta no gaúcho como candidato ao Planalto.

"O nosso futuro tem nome e endereço: é o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite", disse. "Nós não temos medo de enfrentar os extremos, de enfrentar o radicalismo. Temos conteúdo, propostas e, principalmente, temos história."

O novo presidente dos tucanos afirmou ainda que vai se dedicar a articular candidaturas às eleições municipais de 2024 e que quer tornar o PSDB um partido mais "jovem" e "digital".

Perillo, novo presidente do PSDB, chegou a ser preso por um dia em outubro de 2018, alvo de uma operação que investigava pagamento de propina em campanhas eleitorais.

Quatro anos depois, em 2022, o STF (Supremo Tribunal Federal) anulou a operação por considerar que a competência não era da Justiça Federal, mas da Justiça Eleitoral.

"Esse processo foi uma aberração política e jurídica, com absurdas ilegalidades, tanto que foi anulado pelo STF. Estou tranquilo em relação a isso", afirmou Perillo à Folha.

Aécio, ex-presidente da sigla, foi alvo de acusação de corrupção no caso JBS, mas acabou sendo absolvido pelo Tribunal Regional Federal da 3ª Região. O mineiro tem pretensões políticas e busca articular sua candidatura ao Governo de Minas Gerais em 2026. Nesta quinta, Aécio disse não querer "colocar o carro na frente dos bois".

Leite começou a comandar o PSDB em janeiro deste ano, após o ex-presidente Bruno Araújo entregar a presidência a ele de maneira provisória. O governador, então, adiou para novembro a convenção nacional inicialmente prevista para maio. Araújo havia sido eleito com o apoio de João Doria em 2019, em meio a uma disputa com aecistas por vagas na executiva.

Doria, porém, foi alvo de resistências crescentes. O ex-governador paulista chegou a ganhar as prévias para ser o candidato do PSDB à Presidência em 2022, mas depois foi derrubado por uma articulação para lançar Leite ao Palácio do Planalto. Por fim, Doria deixou o PSDB em outubro de 2022.

Leite, por fim, também desistiu de disputar a eleição presidencial para apoiar a candidatura de Simone Tebet (MDB-MS), o que contrariou uma ala do partido formada por Aécio. Com isso, o PSDB acabou amargando no ano passado o pior resultado eleitoral de sua história.

O partido não elegeu nenhum governador em primeiro turno (no segundo turno, elegeu três, perdeu nas urnas o controle histórico que mantinha sobre São Paulo, também não emplacou nenhum senador e viu sua já pequena bancada de 22 deputados federais ser reduzida a 13.

Nesta quinta, Leite admitiu que será um desafio para o partido eleger muitos prefeitos em 2024, mas espera conseguir comandar municípios relevantes e ter um bom resultado no ano que vem.

"É natural que o PSDB não venha a eleger na próxima eleição o mesmo número de prefeitos que elegeu em 2020. É natural que o PSDB tenha uma diminuição, afinal, não ter o Governo do Estado de São Paulo acaba fazendo com que prefeitos acabem eventualmente migrando para partidos que estão dentro da composição do Governo de São Paulo", disse Leite.

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