Lula e aliados reagem a desgaste de Dino em reta final para definição ao STF

Esposa de líder do CV esteve com membros da pasta da Justiça; presidente vê ataques 'artificialmente plantados' ao ministro

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Brasília

O presidente Lula (PT) e aliados se mobilizaram para defender o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), diante da ofensiva da oposição gerada pelo fato de a esposa de um homem apontado como líder da facção criminosa Comando Vermelho no Amazonas ter participado de reuniões na pasta.

Membros do governo federal já tinham usado as redes sociais para manifestar apoio ao ministro na terça (14), mas a mobilização em defesa de Dino ganhou corpo nesta quarta (15) com publicações de Lula, do primeiro escalão e de parlamentares da base.

Dino e Lula durante o encerramento da 7ª Marcha das Margaridas, em agosto - Pedro Ladeira-16.ago.23/Folhapress

No fim desta quarta, o próprio Dino agradeceu publicamente pelas mensagens de solidariedade.

"Desde cedo, a começar do presidente Lula e dos colegas de governo, recebi milhares de mensagens de apoio e solidariedade. Colegas da comunidade jurídica; governadores, senadores, deputados; partidos políticos; sociedade civil; cidadãos", escreveu.

"A todos e cada um, agradeço muito. Seguimos juntos. O resto não tem importância. Como dizia meu saudoso pai, 'efeito de um redoxon [suplemento de vitamina] em uma piscina olímpica'. Sigo do mesmo jeito, animado, sem medo, independente, fiel aos meus princípios. E rezando todos os dias."

Luciane Barbosa Farias, esposa do líder da facção, esteve no Ministério da Justiça em março. Ela se encontrou com o secretário de Assuntos Legislativos da pasta, Elias Vaz. Em maio ela esteve com Rafael Velasco, secretário da Senappen (Secretaria Nacional de Políticas Penais), também vinculada à pasta. O caso foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O desgaste para o governo foi ampliado com a revelação de que uma viagem de Luciane a Brasília foi custeada pelo Ministério de Direitos Humanos e Cidadania. A pasta diz que o custeio aconteceu para a participação do Encontro de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura, formado por estruturas com autonomia administrativa e financeira.

Parlamentares consultados pela Folha afirmam que as manifestações pró-Dino nas redes ocorreram de forma espontânea, e não por orientação do governo. A avaliação é a de que a defesa do ministro "em praça pública" foi desencadeada pela própria posição de Lula.

No começo desta quarta, o presidente afirmou que Dino tem sofrido ataques "absurdos" e "artificialmente plantados". O petista disse que a atuação do Ministério da Justiça em diferentes frentes, como a defesa da democracia, tem despertado "muitos adversários".

"Minha solidariedade ao ministro Flávio Dino, que vem sendo alvo de absurdos ataques artificialmente plantados. Ele já disse e reiterou que jamais encontrou com esposa de líder de facção criminosa. Não há uma foto sequer, mas há vários dias insistem na disparatada mentira", escreveu Lula.

"Essas ações [do ministério] despertam muitos adversários, que não se conformam com a perda de dinheiro e dos espaços para suas atuações criminosas. Daí nascem as fake news difundidas numa clara ação coordenada", completou.

Dino também recebeu a solidariedade do advogado-geral da União, Jorge Messias —apontado como um dos favoritos, ao lado do próprio ministro da Justiça, para a vaga aberta no STF (Supremo Tribunal Federal) com a aposentadoria de Rosa Weber.

"Minha solidariedade ao ministro Flávio Dino, vítima de injustas e infundadas acusações. A verdade, além de libertar, sempre acaba prevalecendo", escreveu Messias, citando uma publicação feita pelo ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta.

Além de defender Dino, Pimenta afirmou que o governo não será acuado "por ações orquestradas do crime organizado e das milícias".

A onda de apoio nas redes sociais também contou com parlamentares próximos ao ministro, como a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) e os deputados federais Duarte Jr. (PSB-MA) e Rubens Pereira Jr. (PT-MA).

A avaliação é a de que as últimas notícias envolvendo Dino e o Ministério da Justiça não alteraram o cenário político no Senado. Governistas afirmam que a resistência da oposição em relação ao nome de Dino já está cristalizada, e que o episódio não mudou a opinião dos senadores de nenhum dos lados.

Ainda assim, reconhecem que isso dá combustível à oposição. O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), por exemplo, acionou a PGR (Procuradoria-Geral da República) pedindo o afastamento do ministro em razão do caso.

Um parlamentar próximo a Lula afirma que o desgaste tampouco serviu para tirar Dino do páreo do STF. Auxiliares admitem, no entanto, que o custo político de conseguir os votos para aprovar o nome do ministro no Senado está na lista de pontos negativos que o presidente precisa fazer dos cotados.

Quem conversou com Lula nos últimos dias diz que ele não dá sinais claros ainda da sua preferência, mas afirma que Dino e Messias seguem como favoritos.

Ministros do Supremo também minimizam nos bastidores a ida da mulher do suposto traficante ao Ministério da Justiça dizendo que diversas autoridades estão sujeitas a passar por isso, pelo volume de pessoas que recebem.

A expectativa no Palácio do Planalto é que o petista primeiro defina quem será o sucessor de Augusto Aras na PGR, cargo que está ocupado pela interina Elizeta Ramos desde setembro. Aliados do petista dizem que o escolhido pode ser anunciado inclusive até o final desta semana.

A disputa, segundo pessoas próximas a Lula, está hoje entre os subprocuradores Paulo Gonet e Antonio Carlos Bigonha. Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, o presidente tem adiado a indicação porque não se empolgou com os nomes à sua mesa.

Colaborou Cézar Feitoza, de Brasília

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